Wednesday, November 30, 2005

Pergunta do dia

Sentem-se felizes?

Tuesday, November 29, 2005

Fragilidades?

É espantoso a quantidade de homens que sentem necessidade de afirmar que não são homossexuais.
Parece que subitamente os homens todos sentiram necessidade de afirmar que são “verdadeiros machos”. Não será esta necessidade indiciadora de falta de confiança sobre as suas verdadeiras orientações?

Monday, November 28, 2005

“O Holandês Voador” – (2)

Segundo reza a história, o navio com o nome do título desta entrada era um navio assombrado em que o seu comandante sempre que o Sol se punha recebia a visita de um convidado misterioso que não era nem mais nem menos que o Diabo. O comandante tinha apostado a sua alma com o Diabo sobre um jogo de dados. O comandante teria que tirar 7 para salvar a sua alma. Os jogos começavam quando o Sol se punha e duravam toda a noite porque o comandante tinha viciado os dados para que saísse o número que ele pretendia mas o Diabo insistia sempre em mais um jogo, mais um lançamento, esperando que a sua sorte mudasse e assim ficar com a alma do comandante de quem desconfiava.
Olhando para trás, penso que foi mesmo isto que fiz, joguei dados com a fortuna e perdi.
Estando eu num estado de profunda frieza como há muito não tinha, dou por mim a pensar naquilo que foi e nos porquês.
Se alguém Ama outra pessoa, só a quer ver feliz e se ela nos diz que é feliz com outro, mesmo que a nós nos doa não devemos intrometermo-nos, se o caminho para a felicidade passa por outro, se gostamos verdadeiramente, deixamo-la partir, mesmo que isso a nós nos custe.
Não deixamos de gostar das pessoas de um momento para o outro, não escolhemos os afectos nem os seus volteios.
Falava com uma amiga minha no outro dia que me dizia que ter a sua sobrinha ao colo era a coisa mais doce que existia porque tinha a noção de ter alguém frágil nos seus braços e que se ela não tivesse cuidado podia magoá-la muito.
Há alturas em que numa relação, se ela for genuína, nós tentamos “segurar” o outro, protegendo-o de embates desagradáveis, dando o nosso corpo como escudo, entrepondo-nos entre aquilo que pode ser maldoso e a pessoa que amamos.
O facto de largarmos a mão da pessoa amada não implica que tenhamos deixado de a amar, ou melhor, no caso em que estou a pensar, isso não estava implícito. Neste caso especifico, terá sido um pouco como a mãe do Bambi, vai andando que eu vou lá ter.
Não foi concerteza o momento mais conseguido da minha vida, mas foi o possível dadas as “minhas” circunstâncias. Não que queira que se pense que sou melhor do que eu sei lá o quê, sou o que sou e fiz aquilo que achei protegia melhor aqueles de quem eu gostava.
Estou a escrever cifrado é verdade mas há quem entenda o que estou a escrever, e é o que importa.
Há muito que guardo parte de uma verdade que não podia revelar mas que já te poderei demonstrar.
Errei? Talvez, mas isso agora não importa mesmo nada.
Sinto uma enorme culpabilidade em relação a um sem número de coisas, de episódios que eu não consegui impedir ou alterar, mas talvez não estivessem na minha mão.
Não consegui prever os comportamentos de pelo menos duas pessoas que me eram/são próximas e isso dói-me de forma muito profunda.
Acho que falhei em não ter sido capaz de vos proteger melhor, mas talvez não me competisse a mim…
Talvez não me competisse a mim, é aquilo que vou sussurrando para ver se me convenço efectivamente disso porque sabe Deus, eu sempre acreditei que seria capaz de “bend” as situações para que elas fossem o que eu queria, sempre achei, que como o comandante poderia viciar os dados do destino e obrigá-lo a ser como eu bem entendesse e agora vejo-me pequenino com as reviravoltas todas a darem-se à minha frente e eu incapaz de as modificar. Recuso-me a ceder mas é mais teimosia do que real convicção de que serei capaz de alterar o que quer que seja. Muito depende de terceiros que nem sempre souberam ou sabem perceber o que eu pretendo ou qual o meu “magistral” plano.
Não acredito que tenha o dom divino de saber mais do que os outros, mas gostaria que dessem crédito e acreditassem que aquilo que faço ou fiz tem um propósito muito mais amplo do que aquilo que demonstro.

Friday, November 25, 2005

"O holandês voador"

"Les joeurs des cartes" - Paul Cezanne

Thursday, November 24, 2005

Apeteceu-me…

“Vaidade, meu Amor, tudo Vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.

Vaidade é o Luxo, a Glória, a Caridade,
Tudo Vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua Mãe.

Vaidade! Um dia foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no Mar com a minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!

Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá, volto-lhes o rosto…
E isto em mim não será uma vaidade?”

António Nobre – Mar do Norte, 1891

Wednesday, November 23, 2005

Frase do dia

Numa conversa com uma amiga minha a palavras tantas saiu-lhe isto: "gosto muito dele, só quero que ele se sinta bem..."
Haverá maior manisfestação de Amor?

Tuesday, November 22, 2005

Sinto-me assim...

"Traveller above a Sea of Clouds" - Friedrich

Monday, November 21, 2005

Pergunta do dia

Se, ao terem que tomar determinada decisão, pusessem em risco as pessoas que gostam, que fariam?

Sunday, November 20, 2005

Simplicidades 2

"Le Déjeuner sur l'herbe" - 1863 - Edouard Manet - quadro patente no museu d'Orsay em Paris

Saturday, November 19, 2005

Simplicidades 1

"The Valpincon Bather"- 1808 - Jean Auguste Dominique Ingres, quadro patente no museu do Louvre, Paris

Friday, November 18, 2005

Moral e pratos de sopa

Tenho pensado muito numa série de coisas, uma delas é a ética nas relações pessoais.
Sem interpretações que não tem cabimento, exponho o meu pensamento, sem com isto estar aqui a pregar uma qualquer teoria moral.
Havendo duas pessoas que se amam, isso implica respeito mútuo. Esta é a premissa de base para tudo o resto que irei abordar.
Conhecendo muitas raparigas que se queixam do seu namorado (com ou sem razão tal não é para aqui chamado) e que muitas vezes insinuam que “afinal, podia ser outra coisa…”, levanta-se (para mim pelo menos) a questão – Será isto um comportamento correcto?
E mais, o segundo rapaz, e terceiro numa relação pré-existente deve “ir na cantiga”?
Ponho em termos de rapaz uma vez que sou um e portanto não faço qualquer intenção de abordar o tema sobre qualquer outra perspectiva embora acredite que a situação seja genérica.
Admitindo que o rapaz de facto gosta da rapariga que tem namorado, o que deve fazer?
Na minha opinião, o melhor que pode fazer é não se intrometer e isso implica não ter nada com a rapariga.
Porquê? Porque quando se gosta de uma outra pessoa tem-se-lhe respeito e isso implica não a colocar numa posição que é desagradável e insustentável.
Não estou a dizer que a “culpa” é só do rapaz – o sedutor demoníaco – creio que é claro que a rapariga, ao admitir a situação não só se está a colocar numa posição muito discutível como coloca o rapaz na posição de amante que, na minha opinião, é uma posição que ninguém deve querer.
Ora bem, aqui, sou muito crítico em relação a ambos, em relação à rapariga porque coloca o rapaz numa posição muito má, e em relação ao rapaz por se deixar colocar numa posição incómoda/incorrecta.
É uma questão de moralidade, que é do foro de cada um, ficou registada minha opinião.

Wednesday, November 16, 2005

Frase do dia

“I’ll see you in court…”

Tuesday, November 15, 2005

Sobre as Presidenciais V

Foi ontem a entrevista a Cavaco Silva e com ela o fim das entrevistas individuais aos candidatos.
Uma entrevista tensa em que Cavaco Silva se deixou enredar pela entrevistadora, escusando-se a atacar qualquer outro candidato embora indirectamente tenha deixado várias farpas a Mário Soares.
Foi muitas vezes confrontado com o passado e com actuações que teve e não se soube desenvencilhar, não consegui explicar o que entendia por presidência activa nem como a pretendia implementar, tendo sido demasiado genérico.
Cavaco Silva caiu no erro, na minha opinião, de ter recorrido ao seu passado como primeiro-ministro para mostrar que era um homem integro e capaz, não tendo sido capaz de responder porque é que tinha criticado todos os governos anteriores e posteriores aos seus, e aqui, cometeu o maior “pecado” que foi o de ter usado exemplos concretos da sua governação que tinham sido melhores que todos os outros.
Apesar de se ter tentado posicionar como um candidato presidencial, a ideia que passou foi a de um homem que não quer falar muito para não errar, que mesmo dizendo que compreende a constituição e os valores nela consagrados, confunde poderes presidenciais com acções governativas e não foi capaz de as separar de forma clara e inequívoca.
Esperava-se mais, na minha opinião, de um candidato à Presidência da República que tem aspirações a ganhar e que, segundo as sondagens, pode ser eleito numa primeira volta com uma maioria absoluta de votos.

Monday, November 14, 2005

Alarvidade

“Eu gosto mais de ti do que tu de mim”

Que raio, quem é que consegue medir o quanto alguém gosta de nós?
Haverá uma escala universal?
Como se usa?
Quem tem?
E sobretudo: serve para?

Sunday, November 13, 2005

Uma frase que me gelou

“(…) e depois, depois deixei a vida levar-me (…)”

Fiquei gelado ao ler isto, ainda para mais no contexto em que foi.
É verdade que a vida nunca é fácil para ninguém, ou melhor, na perspectiva de quem a vive, ela nunca é fácil, mas isso implica que deixemos de remar contra a maré?
Bem sei que há alturas em que apenas queremos fechar os olhos e que a vida continue sem termos de “fazer força” mas até que ponto é que o podemos fazer?
Muitas vezes tenho medo que a vida me leve e que eu não consiga sair do aperto que ela trás mas isso não implica que mesmo tendo que aparar muitos golpes, não tente remar contra a maré, alterar os factos, transformar derrotas em vitórias, virar a sorte usando as cartas que estão em cima da mesa mesmo que para isso tenha que fazer bluff.
No fundo, o jogo que é a vida implica sabermos que temos um risco associado e que ele está lá e que não nos podemos deixar enredar nas múltiplas teias que se tecem à nossa volta.
Estando só e às vezes assustado com as decisões que tomo porque não sei como vão sair, quantas não são as vezes em que gostava que houvesse uma espécie de solução milagrosa que resolvesse tudo, mas é nas alturas em que me sinto mais em baixo que penso mais, não há milagres e se eles existem precisam de uma forte ajuda nossa, já me senti muito em baixo, e desejei que a vida me levasse, e foi nessa altura que os meus amigos me serviram de extraordinário apoio impedindo que a torrente que é a vida me levasse.
Pode parecer estranho este post, mas a verdade é que olhando para trás, para muitas vidas alheias, com muitas vicissitudes só posso concluir que tenho tido muita sorte e isso é uma extraordinária bênção.

Consenso

Estando eu numa fase de tomada de decisões, algumas das quais complicadas e com implicações muito importantes, aconteceu-me algo de muito curioso.
Decidi comunicar a minha decisão a uma pessoa muito mais velha que eu, à qual apenas decidi falar por uma questão de educação.
Ao falar com essa pessoa e expondo o caso e a solução/soluções por mim escolhidas e adoptadas a resposta foi tudo menos o que esperava.
Convém salientar que eu e esta pessoa sempre trocámos “mimos” um relação ao outro. Nunca lhe reconheci mérito embora o tenha feito por pura birra, nem ela nunca me passou cartão por embirração e por achar que eu era um “fedelho mal criado”.
Hoje foi uma conversa entre dois homens, face a um problema concreto que apresentei bem como as providencias que já tinha tomado para resolver – o meu espanto foi ter ouvido que não tinha nenhum concelho para mim e que achava que eu já tinha conseguido por mim resolver a questão.
Ouvir de uma pessoa muito mais velha: “Não te posso ajudar, é uma tarefa pesada, mas estás a fazer bem, mesmo sendo pesada estou a gostar de te ouvir porque revelas ponderação e capacidade.” – Não sei explicar mais do que isto, soube-me bem.

Friday, November 11, 2005

Sobre as Presidenciais IV

Já com uns dias de atraso refiro a entrevista a Manuel Alegre que não consegui ver senão um breve resumo.
Pareceu-me muito mais tranquilo que todos os outros candidatos até ao momento, recusando a ideia de que com Cavaco Silva a democracia corria risco, destacando-se da sua “herança” do 25 de Abril dizendo que o que se tinha assegurado estava garantido qualquer que fosse a pessoa eleita como presidente.
Gostei sobretudo de o ver afastar a hipótese de presidencialização do regime, afirmando que para tal seria necessário uma alteração à actual constituição e isso dependia da Assembleia da Republica e não do Presidente.
Curiosa a sua atitude face aos “ataques” da candidatura rival de Mário Soares – “estar à frente de Mário Soares nas sondagens não é pecado…”
Quando lhe perguntaram porque não queria Cavaco como Presidente a resposta foi desarmante – “Porque é muito melhor como Primeiro-Ministro, ninguém imagina que ele vá assistir às reuniões do Governo e esteja calado sem tentar intervir pois não? É sobretudo um homem de acção.”
Gostei daquilo que vi (pouco bem sei) e caso haja segunda volta creio que será ele quem representará a “esquerda”. Se assim for, quero ver como é que o Partido Socialista o vai apoiar depois de tudo aquilo que se passou até aqui.

Thursday, November 10, 2005

Sussurro

É curioso como alguns acontecimentos nos fazem (de novo) pensar.
Dei por mim a pensar no ciúme, na traição amorosa, nos filhos existentes ou potenciais.
Nas relações amorosas há sempre alguns ciúmes de parte a parte o que não tem necessariamente que ser mau, podem até ser um certo “condimento”.
A questão é, porque é que aparecem os ciúmes?
Acho que em parte porque temos medo que o outro se vá embora, nos deixe. Já repararam que só temos ciúmes de quem gostamos?
E a justa medida dos ciúmes? É curioso que o “ciumento” acha sempre que deu muito espaço ao outro, o “ciumizado” acha que não tem espaço nenhum…
Em parte os ciúmes passam muito pela atitude do nosso parceiro perante os outros, mas passam também pelas nossas próprias inseguranças.
Todos temos um sentimento de posse em relação à pessoa amada, não vale a pena mentir, é a nossa paixão. A verdade é que também sabemos que temos limitações importantes e quem em determinadas fases da nossa vida não podemos ser mais do que aquilo que somos, não nos podemos transcender e viver exclusivamente para o outro porque há uma série de assuntos urgentes que reclamam a nossa atenção. Ter esta consciência associada ao facto de sabermos que há sempre alguém melhor que nós algures no mundo não é propriamente a sensação mais tranquilizante do mundo. Há aqueles de nós que tem a sorte de encontrar o seu “par ideal” que não questiona mais nada e fica sempre ali, mas também aqueles de nós (a grande maioria) que têm o tremendo azar de ver o seu amor cruzar-se com aquele que é de facto melhor do que nós.
Estou a dizer que uns são melhores que outros? Não. Estou a dizer que, alguns correspondem mais às expectativas que o outro tem, do que nós em determinadas alturas. Não me querendo alongar muito neste tópico relembro duas coisas – desfasamento temporal e horizonte temporal.
Ter ciúmes é natural, o que não é natural é que numa relação o outro não sinta ciúmes “de nós”, isso implicaria não gostar ou ser-lhe indiferente. A maturidade das relações está em ser capaz de não ter ciúmes doentios e ter o “lado bom” do ciúme, aquele que faz com sejamos capazes de ir comprar um ramo de rosas, um malmequer, oferecer chocolates, telefonar e dizer: “tenho saudades tuas”. Tudo isto implica que estamos a dizer ao outro, tu és importante para mim.
Ser-se traído ou sentir-se traído é algo que dói muito, é literalmente ser varado e às vezes é como que uma lâmina que nos trespassa, ferindo-nos de morte mas que infelizmente não mata logo, deixa-nos em agonia até que depois… depois passa. O Tempo é implacável, apaga tudo à sua passagem, desde impérios a civilizações por isso também as desilusões acabam eventualmente por passar. Acho que aprendi que há coisas tão importantes na vida que não vale a pena lamentarmo-nos indefinidamente à espera de algo que se quebrou – a confiança – e que dificilmente volta.
A questão dos filhos abordarei noutra altura uma vez que não imagino nada de mais importante do que eles. Implicam com tudo o que disse antes é verdade mas voltarei a eles noutro post.

Wednesday, November 09, 2005

Os últimos dias

Tenho tido uns dias para esquecer. Atulhado em trabalho, a tomar conta de mais pessoas do que só de mim.
Ao mesmo tempo têm acontecido coisas estranhas, imprevistas será mais o termo.
Voltei a falar com a minha ex-namorada, já não naquele tom irritado e de quem está mesmo à espera de qualquer desculpa para “sacar e disparar”. É estranho, há uma tranquilidade maior e diferente.
O curioso no meio disto de tudo, e depois de tudo o que se passou, dos excessos de linguagem que todos temos quando os sentimentos estão à flor da pele, é o sabor amargo com que ambos ficámos na boca.
Sabor amargo?
Sim, passado este tempo, a pergunta que ambos colocamos é esta: “Para quê?”
Ninguém sabe mas a verdade é que abrimos mão do que havia e estragámos toda a relação que tínhamos, e afinal, contas feitas, por feijões, por pura idiotice e casmurrice de parte a parte.
Foi curioso ouvir dizer: “O tempo passou mas não mudaste” – isto depois de ler o que escrevo neste espaço.
Primeiro senti-me profundamente triste e achei que era injusto, mas depois, sorri-me. Afinal, talvez não tenha mudado e isso também não é necessariamente mau.
Acho que terei de aceitar que tenho mesmo alguns defeitos que não se alteraram mas que tenho sobretudo um carácter muito vincado.
Não sei o que o futuro me reserva, e tenho curiosidade como todos temos, mas ao mesmo tempo começo a sentir-me mais confiante.

Sunday, November 06, 2005

Sobre as Presidenciais III

No ciclo de entrevistas com os até agora conhecidos candidatos à Presidência da Republica Portuguesa, promovida pela TVI (publicidade à parte), ontem foi a vez de Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda.
No registo que já nos habituou, apareceu um Francisco Louçã aguerrido, combativo e com muitas ideias.
Teria sido um “passeio pela avenida” (expressão que tanto se adequa a esta campanha) não fora o muito bom contraponto feito pela entrevistadora.
Francisco Louçã atacou quer Cavaco Silva, quer Mário Soares quer mesmo Manuel Alegre, deixando apenas de fora (coincidência?) Jerónimo de Sousa.
Atacou Cavaco Silva e Mário Soares acusando-os de serem em parte responsáveis pela actual situação uma vez que já exerceram cargos importantes no Estado e não tinham acautelado a situação futura. Distanciou-se deles apresentando-se como a alternativa com perspectiva de futuro, ao que foi desarmado pela entrevistadora que lhe lembrou “O Senhor também já não é, propriamente dito, um jovem nestas andanças, já fez uma série de campanhas eleitorais, apoiou Mário Soares anteriormente e memo no interior do seu partido não parece ter sido consensual”
A alusão a estes factos teve um efeito curioso, porque Francisco Louçã, não os tentando refutar totalmente escudou-se dizendo que o tempo era outro, que as propostas dele eram na área económica, da justiça, do ambiente, etc., referindo que o BE não era dogmático e que por isso os seus militantes podiam apoiar quem entendessem ser o melhor candidato.
A explicação das suas intenções foi um desfiar de ideias apresentadas anteriormente na campanha para as Legislativas ou Autárquicas, ao que a entrevistadora lhe chamou a atenção para este mesmo facto e lembrando-lhe que se criticava Cavaco Silva por poder pretender um sistema presidencialista, as propostas que ele defendia, no actual quadro institucional competiam ao Governo e que portanto parecia que ele defendia o presidencialização do regime.
Numa entrevista morna, com Francisco Louçã a atacar Manuel Alegre por ir votar a favor deste orçamento de estado, não houve nenhuma novidade nas ideias apresentadas por Francisco Louçã que defendeu que se candidatava pela “luta ideológica e o combate contra a direita como sempre fiz ao longo da sua vida” assegurando que baixaria a taxa de desemprego (fica a questão: como pode o Presidente fazê-lo?) mas que a crise viera para ficar e demoraria a passar.
Quando confrontado com a questão de ser visto como alguém que se considera o único representante da esquerda moderna em Portugal, não escapou a responder de dedo em riste e um sorriso “Não, claro que não sou… mas temos que mudar esta paz podre e esta politica mole”
O único ponto em que estou de acordo com ele é na análise que faz do descrédito que os políticos têm vindo a acumular e na pobreza dos debates e de ideias.

Sobre as Presidenciais II

Há 3 dias atrás foi a entrevista ao candidato Jerónimo de Sousa, Secretário – Geral do Partido Comunista.
Não tendo podido assistir a toda a entrevista, assisti a parte substancial mesmo assim.
Apresentou um discurso correcto, muito ligado à ideologia comunista, com uma vertente social muito marcada.
Não que discorde da vertente social que é indispensável, a forma como a questão foi colocada, referindo o papel social do Estado não é nova mas tem na pessoa de Jerónimo de Sousa um efeito muito maior uma vez que a personalidade do candidato transmite uma confiança natural e uma simpatia indiscutível.
Não ouvi grandes referências aos aspectos económicos a não ser a insistência na possibilidade de mudança das actuais politicas sem no entanto referir quais a que propunha em contraponto. É verdade que não compete ao Presidente traçar a politica governamental, tendo que assegurar que os planos de Governo são cumpridos, mas podendo exercer um magistério de influência, poderia ter levantado a ponta do véu apresentado a alternativa e demonstrando porquê que o caminho por ele proposto seria mais vantajoso.
Num tom muito mais calmo e afável do que Mário Soares, Jerónimo de Sousa refutou a ideia de desistir a favor de um outro qualquer candidato tendo inclusivamente atacado Mário Soares. Apenas quando confrontado com o cenário de uma segunda volta entre Mário Soares e Cavaco Silva é que referiu que nessa altura apoiaria Soares não pela pessoa em si mas pela ideologia de esquerda e pelas “tendências e dinâmicas neo-liberais que envolvem a candidatura do Prof. Cavaco Silva”.
Quando questionada se não era a escolha entre o mau e o péssimo a resposta foi lacónica mas curiosa: “O partido comunista não escolhe o mal menor, mas apoia sempre a ideologia de esquerda”
Refutou ainda a ideia de uma competição entre PCP e BE mas não sem deixar uma ferroada a Francisco Louçã “(…) o PCP não só não perdeu votos como tem vindo a ganhar, e isso preocupa o Bloco que assim que sai uma sondagem que os colocam à nossa frente se rejubilam por isso em vez de se preocuparem com a vitória aparente de Cavaco à primeira volta… São diferenças, a esquerda não pode ser fratricida”
Quando questionado pela importância que a sua figura tem actualmente na aparente revitalização do PCP, assumiu a posição que sempre teve diluindo-se no colectivo que é o partido lembrando que a surpresa tinha sido causada pelo esboroar do preconceito sobre os operários, e que ele, um ex-operário, tinha a capacidade, como tantos outros, de discutir temas importantes com ideias próprias.
Mais do que ter sido excelente a entrevista, ganhou sobretudo pela simpatia de Jerónimo de Sousa e pelo marcado contraste com Mário Soares uma vez que foi sempre mais calmo, mais correcto e não entrou em ataques de índole pessoal, tentando puxar o debate para o campo da ideologia politica.

Thursday, November 03, 2005

Sobre as Presidenciais I

Não queria entrar no tema já uma vez que ainda há muita campanha pela frente mas é mais forte do que eu.
Ontem na TVI decorreu uma entrevista com o Dr. Mário Soares que foi um momento televisivo raro. Assistir a um verdadeiro massacre feito pelo próprio a si mesmo não é normal nem natural.
Após ter tentado atacar Cavaco Silva acusando-o não ter qualquer conhecimento da história de Portugal, de filosofia ou arte, desferiu aquele que qualquer um identifica como sendo um golpe mortal: “Porque eu escrevi livros e ele não!”
“Eu sou um político profissional e ele também, mas ele não assume”
“A história do segundo tabu! Sinceramente…”, a entrevistadora aí chamou-lhe a atenção – “O Sr. Também disse que nunca seria candidato, que o seu candidato seria o Eng.º António Guterres de quem, se diga em termos de passagem, também nunca ninguém ouviu falar de arte, filosofia ou história passando-se o mesmo com outro seu favorito o Dr. Vitorino”
A fúria que esta passagem causou em Mário Soares foi espantosa.
Quando a entrevistadora lhe disse: “(…) mas Cavaco Silva foi um Primeiro-Ministro com duas maiorias absolutas, um bom Primeiro-Ministro …” eis que surge outra afirmação maravilhosa – “Cavaco foi Primeiro-Ministro em tempo de vacas gordas, é o culpado por esta situação e abandonou para Fernando Nogueira!” ao que a entrevistadora retorquiu “Mas desculpe, foi o Primeiro-Ministro do partido que o apoia, o Eng.º António Guterres que abandonou o Governo após umas eleições Autárquicas dizendo que não queria mergulhar no pântano, Cavaco saiu no fim do mandato.”
São apenas frases soltas de uma entrevista em que Mário Soares revelou-se demasiado irado, respondendo ao lado e atacando a despropósito Cavaco Silva, com argumentos fracos e mesquinhos.
Esperam-se agora as entrevistas dos restantes candidatos.

Wednesday, November 02, 2005

Sobre extraterrestres

Há uns dias atrás estava a conversar com uma amiga minha que me dizia que estava muito espantada com a tendência que as pessoas tinham para assumir que, caso existisse vida no cosmos, ela teria de ser idêntica à nossa.
Encarava isto como sendo uma incapacidade nossa em perceber que pode haver mais vida e sobretudo formas de vida diferentes de nós.
A questão que discutimos foi a dificuldade que todos temos em aceitar o novo, aquilo que desconhecemos e como tentamos “humanizar” à luz daquilo que conhecemos o desconhecido.
A tendência não é nova, quem não se lembra das “Nossa Senhora” do século 13 esculpidas como damas de corte coroadas? E as “Nossa Senhora” Indo-Portuguesas esculpidas com traços orientais e com marcas das divindades locais? Ou porque não as “Nossa Senhora” esculpidas nos séculos 15 a 17 em África com traços africanos ou ainda as “Nossa Senhora” de marfim chinês com os célebres olhos “em bico”?
A verdade é que temos sempre tendência a imaginar o outro à nossa imagem e semelhança, desde humanizarmos as divindades e nisso a cultura Greco-Latina é um excelente exemplo, a pensarmos que o outro é “igual” a nós.
Não querendo levar este texto para as questões de racismo e xenofobia que ainda existem e que na minha opinião estão muito ligadas ao desconhecimento que existe de parte a parte da outra cultura e hábitos civilizacionais, faço uma derivação algo diferente.
E nas relações entre pessoas?
A verdade é que mesmo entre pessoas do mesmo país, da mesma cidade mas tão-somente de géneros diferentes já se cria uma incompreensão importante.
É verdade, regresso ao tema das relações interpessoais e mais precisamente às relações amorosas.
Temos sempre a tendência para esperar que o outro seja “como nós”, que perceba instintivamente o que se passa connosco, que entenda o que sentimos sem termos que proferir uma palavra, que goste efectivamente das mesmas coisas que nós gostamos, esquecendo-nos que temos todos pontos de partida diferentes, vivências diferentes, formas de raciocínio diferentes, formas de sentir diferentes.
Quantas não são as vezes em que levamos alguém a um sitio que para nós é espantoso, e que esperamos que para o outro também o seja e depois… Bem, depois é a desilusão porque afinal o outro não teve a mesma reacção que nós tivemos e até pode não achar que seja assim tão interessante aquele local ou aquele livro ou aquela peça de musica, teatro ou arte.
E quantas vezes não ficamos magoados quando a pessoa que para nós é especial e portanto devia entender que aquilo que lhe mostrámos é para nós importante, nos diz friamente: “Era isto?”
Não o disse por mal mas sim porque para ela não era tão importante ou tão “moving” mas antes de sermos capazes de perceber isto sentimos uma certa afronta como se aquela pessoa gostasse menos de nós ou fosse menos pessoa por não gostar exactamente das mesmas coisas que nós.
Mas e a ternura que alguém demonstra por estar ali, por ter tentado perceber porque é que algo era importante para nós e mesmo não gostando ou não sendo aquilo que mais a move, está lá, aparece, esforça-se por saber um pouco mais, tem a delicadeza de tentar gostar do mesmo que nós? A verdade é que também temos que tentar gostar daquilo que faz o outro transcender-se.
O gosto educa-se e mesmo tendo gostos diferentes isso não implica que não se possam educar de parte a parte e fazer desse espaço um espaço de encontro entre duas pessoas.
Regressando um pouco ao ponto de partida, a nossa tendência de esperar que o outro nos perceba tal qual somos é em muitas circunstâncias um peso importante porque não é expectável que isso aconteça sem mais.
Há alturas em que não queremos explicar, é assim porque sim, mas alturas há em que uma pequena conversa pode fazer milagres e evitar muitos mal entendidos.
Nem sempre percebemos o que nos querem dizer ou o que não nos querem dizer, procuramos significados que podem não fazer sentido ser procurados.
Escrevo isto a pensar em mim, neste sentido, procuro uma série de significados para uma série de acontecimentos e cada vez mais me convenço que não devem ser para eu perceber ou interpretar, foram o que foram, são o que são. As pessoas não têm obrigatoriamente que ter a mesma visão dos acontecimentos que eu tenho nem sequer as mesma expectativas e provavelmente o erro foi exactamente eu ter formado expectativas como todos nós fazemos, mas uns apontam para um patamar e outros de nós para outro distinto.
E enfim, este longo texto para dizer que talvez em parte tenha tentado ver algumas coisas à luz das minhas expectativas, da minha forma de pensar e de sentir.

Tuesday, November 01, 2005

250 Anos Depois

Passam hoje 250 anos do sismo de 1755. Às 9.30h os sinos das igrejas replicarão em Lisboa a lembrar a data à hora exacta em que ocorreu o abalo.
Não consigo achar a ideia “simpática” nem sequer me agrada particularmente.
Foi sem dúvida um momento marcante para Lisboa, alterou grandemente a tipologia da cidade, para Portugal e para o resto do mundo.
Candide chega a Lisboa pela mão de Voltaire nesse fatídico dia. Considerado um sinal divino, a mais luxuosa e rica capital da Europa caiu por terra marcando profundamente o pensamento europeu.
Do pós – sismo surge Sebastião de Carvalho e Melo que foi o único ministro a não abandonar a capital ordenando: “Enterrem-se os mortos e tratem-se dos feridos”. Este personagem até então relativamente menor assume enorme protagonismo tornando-se no ministro mais importante de D. José I que o agraciou com o título de Marquês de Pombal.
Da Sala do Risco saíram os desenhos das fachadas que conhecemos na Baixa, o desenho da malha ortogonal daquela zona da cidade, as decisões para a elaboração de uma rede de esgotos com tubagens ditas “generosas”, a ideia de ruas largas e com passeios. Surgiu ainda a estrutura de gaiola, invenção da engenharia portuguesa, uma estrutura que ainda hoje tem relevância do ponto de vista da resistência a um sismo. Actualmente estudada nos Estados Unidos da América com outros materiais, é uma estrutura considerada muito capaz para este tipo de solicitações.
Ficaram expressões como o “Rés-vés Campo de Ourique”, o “Bota abaixo”, “Santos de casa não fazem milagres” entre outras.
O “curioso” no meio disto tudo é que 250 anos depois, se houvesse um sismo de igual magnitude estima-se que na faixa que vai de Torres Vedras a Setúbal um milhão de habitações ficariam destruídas ou inabitáveis, cerca de 700 mil pessoas permanecem durante o período nocturno em habitações sem capacidade para suportar um sismo.
Regulamentarmente já há enquadramento para estas solicitações para a construção nova mas a reabilitação continua a viver um vazio legal que não contempla a hipótese de sismos.
E afinal por quem os sinos dobram?