Monday, April 30, 2007

Memória



A memória que fica, dos momentos que se passam, das promessas que se formulam, dos medos que se revelam.

Ficam as memórias das confidências, dos votos de confiança, dos desejos e dos encontros de vontades.

Vista da baía de Cascais

Friday, April 27, 2007

Resistência

É aquilo que acho me começa a faltar.

Estou farto de ser o único a acreditar.

Acredito em mim, acredito em nós, acredito no(s) projecto(s).

Agora precisava que acreditassem em mim.

Tuesday, April 24, 2007

Irrita-me...

A sensação de que nem todos remam para o mesmo lado.

Monday, April 23, 2007

Eles andam aí…

Os cucos, eles andam por aí.

Numa torrente de coisas que não sei muito bem como as viver há a estranha sensação da ausência de um local que seja apenas meu.

Não é só uma questão do espaço físico, é também o espaço afectivo, parece que há sempre um qualquer cuco que, de forma afoita, se balança para o “meu” espaço.

Muitas penas ficam nos lugares que supostamente podiam ser de prazer e de partilha agradável.

Sinto a ausência dos pequenos gestos por mim esperados, desejados mas que parecem não ser percebidos ou melhor, parece que não percebem o meu desejo e a necessidade que neste momento tenho de ser percebido.

E há sempre o som de uma qualquer asa que roça de um qualquer cuco que passa ou passou.

(Nota: Cucos são aves que fazem ninho nos ninhos de outras aves roubando-os)

Voar

Friday, April 20, 2007

Ora bem…

Sinto-me descontente, insatisfeito. Pela primeira vez (será?) sei que estou a arrastar os pés para resolver um assunto.
Estou farto dele e não me apetece chafurdar na lama que ele vai fazer saltar.

Há um cansaço desta rotina da treta em que tudo parece viver ao ritmo do caracol, com muito mau feitio, sempre na retranca.

A mudança que se deseja não passa, ao contrário dos sábios conselhos que me deram, por uma mudança de corte de cabelo ou de roupa. Procuro algo mais profundo, mais definitivo.

O definitivo é algo de complexo, mas no fundo resume-se a um profundíssimo desejo de que as coisas corram como eu pretendo, que seja entendido/percebido sem ter que “me fazer ouvir”.

Enfim, um descontentamento que é difícil de ultrapassar e de viver com…



"Paint It Black" - The Rolling Stones

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Thursday, April 19, 2007

Há dias…

Em que chegam noticias que são preocupantes, em que o certo passa a incerto, em que fico só com as minhas dúvidas.

Nos filmes quando alguém está para morrer refere sempre que sente frio e que vê tudo negro.

Não estando para morrer (que eu saiba), sinto-me frio – é como se as coisas que me atingem passassem em câmara lenta, em que eu as sinto mas quem está próximo de mim não o percebesse.

Acho que esperava que percebessem melhor a loucura que é a minha vida em alguns aspectos e que portanto fossem mais certeiros na escolha dos momentos.

Confesso que cada vez tenho menos esperança que percebam o que se passa comigo ou sequer que me perguntem como me sinto.

Serei obrigado a escolher entre duas soluções, ambas más, e mais uma vez a decisão será inteiramente minha, na solidão de quem decide o que quer que seja.

Tenho aprendido com o passar do tempo que as decisões são sempre solitárias, são sempre escolhas com base em análises de custos e benefícios e que ninguém quer sequer saber o que nos leva a decidir. Decide-se só, acartam-se as consequências só, no caso dos louros é que a coisa parece transformar-se: todos querem que o seu contributo seja reconhecido.

Apenas digo uma coisa, isto de ficar sozinho sistematicamente tem o seu preço.

Tuesday, April 17, 2007

Como???

Quando começamos uma nova relação há sempre aquele momento crucial em que podemos falar do passado, das relações que já tivemos, das que não tivemos mas gostaríamos de ter tido e afins.

Há pessoas que usam esse momento para falar sem rodeios do passado, destilando fel, outras há que falam no passado sistematicamente realçando os pontos fortes dos outros – o que, se diga de passagem, dá vontade de perguntar: se era tão bom porque é que acabaram? – outras há que por e simplesmente fazem do passado tema tabu.

Normalmente com o desenvolvimento da relação acabam por aparecer referências a pessoas do passado.

Quem passou pelos amargos de logo de inicio ter “expiado” o passado não treme com as referências a outr@s porque por e simplesmente encaixa-os nos seus locais.

Já quem só teve coisas boas, referir o passado comum com outr@s torna para o actual a relação numa espécie de Inferno em que tem sempre a sombra dos “bons” com comparações mais ou menos veladas que acabam por ser desgastantes. Se somarmos a isso a tendência natural de ficarmos com alguns hábitos/gostos parecidos com os das pessoas que vamos conhecendo (amorosamente ou em termos de amizade) o actual passa por um mau bocado em que só pensa que nunca faz nada bem, nunca consegue chegar à idealização que o outro tem.

Chegamos então ao último caso que referia antes: o dos que fizeram do passado tabu.

Neste caso, as pessoas aparecem como que por acaso e a ideia que se formou pode ser totalmente distorcida – afinal havia uma vida paralela qualquer que não entendemos lá muito bem.

Não sei se há alguma receita, duvido, mas pergunto-me se às vezes não vale mais a pena por as cartas na mesa, tomar logo o remédio amargo e “get done with it” do que andar para aí com cuidados, caldos e paninhos quentes que num momento de distracção colocam o outro numa posição incómoda porque afinal não era bem assim.

Creio que é a mania do politicamente correcto, em que se fala muito pouco do passado, não se critica ninguém e todos vivem “felizes para sempre”.

Discordo deste método, deixa-nos descalços, inseguros e a tentar competir com sombras que não se sabe muito bem qual o grau de realidade que têm. São fantasmas sem nome que se perpetuam.

Monday, April 16, 2007

Sinto-me...

Triste por não partilhares o meu entusiasmo.

Sunday, April 15, 2007

40 Anos depois

Continua totalmente actual – há quem pense que eles são uma banda emergente…

Fica uma das músicas emblemáticas de uma das bandas mais marcantes de sempre e da qual pessoalmente gosto.




"Break On Through (To The Other Side -1967)" - The Doors

Thursday, April 12, 2007

Enfrentar o desconhecido*

Não há nada que assuste mais do que enfrentar algo que desconhecemos.

Desconhecer o que temos pela frente implica que não sabemos “a priori” o que fazer, como nos defender.

Há sempre duas estratégias possíveis:

A da “partilha alargada” em que vamos à procura de apoio nos outros – além da família – os amigos, as pessoas que conhecemos mais ou menos bem e pessoas que achamos cristalizam o conhecimento que necessitamos.

Ou

O não dizer nada para não preocupar os outros e de certa forma ter a esperança de que se apercebam que precisamos de algum tipo de ajuda.

Raramente falo das coisas que me afligem. Há sempre outros assuntos que podem ser tema de conversa, não é preciso pôr um anúncio no jornal.

Confesso que tenho uma certa dificuldade em partilhar as coisas desagradáveis. Se o outro já está preocupado com a sua vida, com os seus problemas para quê sobrecarregá-lo? E no entanto parece que isso só serve para me trazer críticas e para que me apontem defeitos. Será que não são capazes de me ler na cara ou no olhar?


"Message in a Bottle" - The Police

Wednesday, April 11, 2007

Liberdade


Sunday, April 08, 2007

Era uma vez…

Era uma vez uma estrela que tinha medo do escuro.

Era uma estrelinha pequenina que tinha medo do escuro, o Espaço assustava-a e era gozada pelas outras estrelas.

As outras estrelas tentavam em vão explicar-lhe que era à noite, no escuro que as estrelas brilhavam e iluminavam o Espaço mas a estrelinha tinha medo, medo da imensidão, do escuro, da sensação de solidão…

Recusava-se a brilhar e tentava fugir assim que o Sol se punha. Não podendo fugir, ficava ali, assustada de olhos fechados, a tremer e a desejar que a noite passasse depressa.

Por mais que as outras estrelas a tentassem ajudar ela recusava-se a acreditar que podia brilhar, mesmo vendo as outras brilhar e povoarem o Espaço.

Um dia a estrelinha teve uma surpresa, um menino na Terra escolheu-a como a sua estrela-guia.

Muito assustada com isto a estrela perguntou o que era uma estrela-guia e as outras estrelas lá lhe explicaram.

“Uma estrela-guia é uma estrela que guia alguém com o seu brilho, é uma referência para alguém” – disseram-lhe as outras estrelas muito admiradas que alguém escolhesse aquela estrela pequenina e que quase não brilhava devido ao medo que tinha.

A estrela sentiu-se muito aflita por alguém confiar nela.

O Universo sentiu que a estrela estava ainda mais aflita por ter sido escolhida por um menino e falou com ela:
- “Hoje durante toda a noite estás liberta, podes mover-te e ir ao encontro da menino que te escolheu para saberes porquê que foste escolhida!”

A estrela ficou apreensiva, podia mover-se e aquilo que mais queria era fugir.

A noite caiu e como habitualmente as outras estrelas começaram logo a brilhar e a mostrar-se e a estrela pequenina a encolher-se brilhando muito pouco, cheia de medo do escuro.

A medo começou a mexer-se e a andar em direcção à casa do menino que a escolhera.

Avançava a medo, gozada pelas outras estrelas que se riam do medo dela e da escolha tão pouco prudente que o menino fizera. Milhões de estrelas e escolheu logo a que brilhava menos e que tinha medo do escuro…

A estrela pequenina lá chegou à janela do quarto do menino e a medo tocou com as suas pontas na janela.

O menino saltou da cama com um enorme sorriso.
- “Sabia que virias ter comigo!”

A estrela espantada respondeu:
- “Sabias?”

O menino explicou que escolhera a estrela porque era como ele, pequena e que portanto podiam crescer juntos.

A estrela muito espantada disse-lhe que não o podia guiar porque tinha medo do escuro e não conseguia brilhar.

O menino não hesitou um instante e voltou a dizer que a escolhia a ela e que lhe ia mostrar uma coisa.

A estrela muito admirada perguntou o que era. O menino pediu-lhe que ela fechasse os olhos e que só abrisse quando ele dissesse.

- “Já podes.”

A estrela abriu os olhos e recuou, era uma luz fortíssima, estava a magoar-lhe os olhos.

- “O que é isso, está-me a incomodar…”

- “É o teu brilho reflectido no espelho. Tens um brilho muito intenso, és muito bonita e quando olho para o Espaço vejo sempre o teu brilho.”

- “Mas eu recuso-me a brilhar, tenho medo do escuro… Como é possível?”

- “Não sei… Mas brilhas muito e eu gosto de ti!”

Ao ouvir isto a estrela sentiu-se pela primeira vez cheia de coragem, sem medo do escuro e sem medo de brilhar.

- “Serei então a tua estrela guia!”

- “Óptimo!”

A estrela afastou-se e retomou o seu lugar no Espaço e o Universo sentiu logo a mudança.

Com o cair da noite seguinte e as outras estrelas começaram logo a gozar com a estrela pequenina mas desta vez ela ignorou-as, não fechou os olhos e viu o menino muito pequenino, na Terra a olhar para ela.

Afastou todo o medo e deixou-se brilhar! O brilho era tanto que as outras estrelas protestavam, estavam a ser ofuscadas…

E assim, o menino foi crescendo e todas as noites continua a olhar pela janela para a sua estrela-guia e ela, todas as noites, mal o Sol se põe abre-se muito e brilha, radiosa.

A estrela pequenina descobriu que ter quem acreditava nela, um amigo, lhe fez perder o medo do escuro, do espaço e da solidão.

Ela ilumina-o mas sabe que só tem luz porque ele acredita nela.

Saturday, April 07, 2007

Aleluia!

Celebramos a Páscoa e o mistério da ressurreição de Cristo, um dos principais mistérios da fé católica.

Sendo um mistério de fé não está sujeito à análise fria da lógica ou do racional, aceita-se.

Segundo a tradição cristã, todos somos filhos do Senhor, e embora não seja expectável que tenhamos uma ressurreição como a que Cristo teve, a verdade é que também nós somos capazes de verdadeiros milagres.

Todos nós ao longo da nossa vida vamos tendo sucessivas ressurreições.

As feridas de amor que nos fazem tombar e às quais miraculosamente sobrevivemos, as contrariedades que fazem com que andemos para trás e no entanto voltamos a avançar, voltamos a viver.

As pequenas conquistas que vamos tendo no dia-a-dia, as mudanças que operamos em nós próprios quando queremos de facto mudar porque não nos sentimos bem, esse é o segredo da existência, a nossa capacidade de nos reinventarmos, de nos adaptarmos, de sobrevivermos e de vivermos.

Celebre-se a Páscoa e a ressurreição de Cristo pela importância que tem, mas aproveite-se também para elogiar a capacidade humana de regeneração e reinvenção do próprio.


"Gethsemane" - Jesus Christ Superstar

P.S. – Aleluia significa alegria.

Monday, April 02, 2007

Perspectiva

Em tempos acorria a este espaço cheio de pensamentos dolorosos e com um turbilhão de emoções à flor da pele.

Apesar de ter aceite algumas coisas com dificuldade, havendo algumas que ainda não aceitei de facto, sinto-me mais liberto, mais pacificado.

Aquilo que antes o simples mencionar me fazia tremer caiu agora na sua real dimensão. A inalterabilidade de algumas situações transformou-as em coisas crónicas. Sinto ainda que em muitas alturas o meu esforço não é devidamente apreciado mas curiosamente já não me afecta tanto a ausência de comentários.

Pensando nas coisas, já não sinto a necessidade imperiosa de um acerto de contas tipo duelo ao pôr-do-sol numa rua empoeirada e com vento (o mais provável era entrar-me alguma coisa para os olhos com a sorte que tenho nesse aspecto). Também já não me interessa verdadeiramente saber a resposta, acho que nem eles sabem a resposta e portanto também não seriam capazes de me a dar.

Fartei-me de seguir a vida dos outros e esperar que as coisas saíssem assim ou assado conforme as minhas previsões. Isso deixou de ter importância porque no final de tudo o que me apercebi é que a minha vida é o que de facto importa.

Viver implica escolher, arriscar, sofrer mas sem vivermos também não conseguimos ter os nossos momentos de alegria, de felicidade, de tranquilidade e de paz.

Não digo que não alterava nada, porque se o dissesse mentiria mas agora, está está e resta avançar.

Não é um “resta avançar” resignado, é um resta avançar com desejo do futuro, sabendo que vou de novo correr riscos, reaprender parte das coisas, adaptar-me a novas situações, mas mesmo assim mantive algumas das coisas que queria e isso é importantíssimo.