Sunday, November 06, 2005

Sobre as Presidenciais II

Há 3 dias atrás foi a entrevista ao candidato Jerónimo de Sousa, Secretário – Geral do Partido Comunista.
Não tendo podido assistir a toda a entrevista, assisti a parte substancial mesmo assim.
Apresentou um discurso correcto, muito ligado à ideologia comunista, com uma vertente social muito marcada.
Não que discorde da vertente social que é indispensável, a forma como a questão foi colocada, referindo o papel social do Estado não é nova mas tem na pessoa de Jerónimo de Sousa um efeito muito maior uma vez que a personalidade do candidato transmite uma confiança natural e uma simpatia indiscutível.
Não ouvi grandes referências aos aspectos económicos a não ser a insistência na possibilidade de mudança das actuais politicas sem no entanto referir quais a que propunha em contraponto. É verdade que não compete ao Presidente traçar a politica governamental, tendo que assegurar que os planos de Governo são cumpridos, mas podendo exercer um magistério de influência, poderia ter levantado a ponta do véu apresentado a alternativa e demonstrando porquê que o caminho por ele proposto seria mais vantajoso.
Num tom muito mais calmo e afável do que Mário Soares, Jerónimo de Sousa refutou a ideia de desistir a favor de um outro qualquer candidato tendo inclusivamente atacado Mário Soares. Apenas quando confrontado com o cenário de uma segunda volta entre Mário Soares e Cavaco Silva é que referiu que nessa altura apoiaria Soares não pela pessoa em si mas pela ideologia de esquerda e pelas “tendências e dinâmicas neo-liberais que envolvem a candidatura do Prof. Cavaco Silva”.
Quando questionada se não era a escolha entre o mau e o péssimo a resposta foi lacónica mas curiosa: “O partido comunista não escolhe o mal menor, mas apoia sempre a ideologia de esquerda”
Refutou ainda a ideia de uma competição entre PCP e BE mas não sem deixar uma ferroada a Francisco Louçã “(…) o PCP não só não perdeu votos como tem vindo a ganhar, e isso preocupa o Bloco que assim que sai uma sondagem que os colocam à nossa frente se rejubilam por isso em vez de se preocuparem com a vitória aparente de Cavaco à primeira volta… São diferenças, a esquerda não pode ser fratricida”
Quando questionado pela importância que a sua figura tem actualmente na aparente revitalização do PCP, assumiu a posição que sempre teve diluindo-se no colectivo que é o partido lembrando que a surpresa tinha sido causada pelo esboroar do preconceito sobre os operários, e que ele, um ex-operário, tinha a capacidade, como tantos outros, de discutir temas importantes com ideias próprias.
Mais do que ter sido excelente a entrevista, ganhou sobretudo pela simpatia de Jerónimo de Sousa e pelo marcado contraste com Mário Soares uma vez que foi sempre mais calmo, mais correcto e não entrou em ataques de índole pessoal, tentando puxar o debate para o campo da ideologia politica.

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