Friday, September 30, 2005

Sobre a solidão II

Há alturas em que aquilo que mais desejamos é estar sós. Poder pensar sem a interferência de outros.
Há também alturas em que nos impomos uma certa solidão para nos prepararmos para algo, para nos reencontrarmos a nós próprios e depois.
Muitas vezes aquela solidão que começou por ser “terapêutica” torna-se num vício, começamos a ser incapazes de sair dela porque temos medo de nos magoar.
“Mais vale só que mal acompanhado” diz a nossa cultura popular.
Quantos de nós não nos isolamos para poder “recuperar” a identidade perdida numa relação amorosa que correu mal e que em vez de viver com o outro se passou a viver para o outro?
A solidão e o isolamento podem ser verdadeiros bálsamos porque quando conseguimos “limpar os esqueletos do armário” voltamos a sentirmo-nos capazes de nos aguentar nos nossos próprios pés.
Recuperar a nossa auto-estima, perceber que temos algo de especial é essencial para podermos avançar e viver plenamente.
O nosso tempo tem no entanto algumas contradições deliciosas, queremos tempo para pensar mas a sociedade está toda feita para o momento: “Compre já…”, telemóveis sempre a tocar, mesenger, emails…
A enorme velocidade que a vida corrente tem está a obrigar-nos a todos a acelerar as escolhas, a impor decisões…
Ser capaz de, no meio de um mundo em que no espaço de segundos se está em contacto com qualquer ponto do globo, nos isolarmos é algo que se transforma quase numa arte e até já existem cursos de relaxação e de retiro.
Mas há dois tipos de solidão, aquela que o ermita pratica, isolado de todo o mundo e aquela que muitos de nós já experimentámos que é a de estar no meio de uma multidão e no entanto sentirmo-nos sós, incompletos, insatisfeitos, com pensamentos inacabados, resoluções pessoais adiadas em que entramos na fase autómato executando as tarefas rotineiras maquinalmente.
Às vezes acontece que no meio desta solidão encontramos alguém que inesperadamente nos faz querer romper a solidão.
Alguém que sem nos pedir e apenas dando, nos faz pensar em tudo o que tínhamos adiado e acreditar que é possível mudar, que afinal somos de facto singulares.

Falhanços

Era hoje a Grande Aula, foi um rotundo falhanço, não apareceu ninguém a não ser as crianças do jardim infantil.
Sinto o mais pesado desânimo, correu tudo mal, nada parecia querer sair mas sendo eu o responsável pela organização (feita sem qualquer outro apoio diga-se em abono da verdade), tirarei as minhas elações, agora a tentativa de corrigir será na terça-feira, depois, quem sabe? Mas há partida demito-me, a culpa não morre solteira e todos temos que assumir os erros…

Thursday, September 29, 2005

Sobre a solidão I

Há alturas em que todos queríamos estar sozinhos e sair deste ou daquele local e estar num sítio que onde nos sentíssemos protegidos dos outros e mesmo de nós mesmos.
Há aqueles de nós que são claramente um “one man show” – são “solitários” por natureza, habituaram-se a estar sós, a assumirem as suas responsabilidades calando-se, aguentando para si o que de mau se passa e as suas frustrações em vez de as partilhar.
Não se ofendam os meus amigos com o que estou a escrever, não lhes diz directamente respeito mas é um desabafo meu como há muito não fazia neste espaço.
Há alturas em que mesmo o mais férreo dos homens, aquele que sempre foi suficientemente frio para segurar as pontas de vários problemas, de ser, se não o primeiro a chegar quando tocaram a rebate, foi sempre dos primeiros, cede.
Estou farto de ajudar uma série interminável de “amigos” que gentilmente me telefonam a pedir ajuda e que depois se vão embora para “vinho verde e putas” esquecendo-se que nós existimos.
Não me estou chorar, estou-me MESMO a queixar, chegou a altura de alguém me ajudar a mim.
Quantas vezes não liguei a alguém a desejar sorte em momentos importantes na vida dele e a seguir perguntei como tinha corrido? Quantas vezes não perguntei se podia ajudar quando alguém tinha um trabalho importante para fazer e não era capaz porque estava exausto ou o tempo era escasso?
E a mim? Ninguém pergunta?
Sinceramente, queixo-me porque sinto falta de apoio, não estou a ser capaz de tocar todas as campainhas ao mesmo tempo e, mesmo esmagado pelo cansaço, e não pedindo nada a ninguém, às vezes gostava que se lembrassem apenas de me desejar boa sorte ou de me ligarem apenas para saber como estou sem a seguir vir um pedido de favor.
É verdade, também sou de carne e osso e também sinto na pele as dificuldades e queixo-me. Há quem saiba que este texto não se lhes aplica porque têm sido excepcionais, esses, os verdadeiros amigos espero que percebam que não me refiro a eles, mas outros há que há muito tempo que lhes devia ter dito isto: “Bye bye”…

Wednesday, September 28, 2005

I wish…

Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.

Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.

Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?

If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?

In: “The wizard of Oz” - musica de Harold Arlen e letra de E.Y. Harburg

Perdida

Nestes últimos meses tenho andado meio perdida, mas confesso que é com um gostinho especial que venho aqui escrever e depois leio os comentários ou vou visitar alguns cantinhos de pessoas que nunca vi, mas que já são intimas tal o número de vezes que as li.

Agradeço-vos este espaço de colorida diferença e amizade que tem dado um outro sentido à minha vida.

Monday, September 26, 2005

Candidaturas à Câmara Municipal de Lisboa – um retrato político?

Após ler em vários blogs múltiplas opiniões sobre as candidaturas do Prof. Manuel Maria Carrilho e do Eng.º Carmona Rodrigues, não posso deixar de me envolver na polémica.

Há algo que me preocupa muitíssimo que é a falta de nível que esta campanha tem tido.
Não me refiro apenas ao debate na SIC porque esse foi apenas um episódio e seria perder-me na névoa que parece toldar a visão de muitos.

Reconhecendo que não li os programas de nenhum destes dois candidatos, a verdade é que há assuntos que são prementes e que não vejo serem discutidos. Se por um lado o Prof. Manuel Maria Carrilho tenta em vão “colar” o seu rival à política de Pedro Santana Lopes, a verdade é que o Eng.º Carmona Rodrigues se esquiva como uma enguia às questões essenciais e, num complexo jogo de volteios e piruetas dá o dito por não dito, responde vagamente e usa “galantemente” o seu título profissional como garante de qualidade.

Antes que me perca no meu devaneio, vou tentar colocar por escrito aquelas que são para mim as preocupações essenciais que qualquer candidato à Câmara Municipal de Lisboa deve ter.

Em primeiro lugar, e com rótulo de urgente, o que é que qualquer um pretende fazer perante o colapso eminente do caneiro de Alcântara e dos restantes que escondem os cursos de água naturais que influenciam o comportamento dos solos e com isso perigam as estruturas dos prédios. O dito caneiro de Alcântara e para dar um exemplo simples põe em perigo o Aqueduto das águas livres, a Avenida de Ceuta e aparentemente um dos pilares da Ponte 25 de Abril na zona de Alcântara. Esta questão, mais do que mera propaganda política tem de ser encarada com seriedade porque repor o caneiro integralmente levaria à ruína camarária uma vez que os custos levariam cerca de 30 anos a ser pagos pelo município.

O segundo aspecto que me parece relevante é a questão da reabilitação das zonas antigas da cidade, não podemos apenas lavar a cara e não resolver os problemas sérios como a fragilidade perante um fogo, as más acessibilidades, a impossibilidade de se estacionar nessas zonas a (quase) total ausência de transportes públicos capazes de irrigar aquelas zonas que se vão degradando e perdendo pessoas que cada vez mais estão a mover-se para o exterior da cidade criando anéis num desenvolvimento tipo mancha de óleo deixando o “casco velho” da cidade a apodrecer obrigando os serviços (gás, água, esgotos, luz) a estenderem-se por quilómetros levando a custos de exploração e manutenção impensáveis e insuportáveis.
Dirão: Parte dos imóveis antigos estão degradados e os proprietários não os arranjam. É um ponto de vista falacioso que para desarmar levaria a um outro post que talvez no futuro o faça.

Terceiro aspecto, a questão dos transportes – não será o túnel do Marquês a resolver, os números são cruéis mas não permitem enganos, em Lisboa há uma média de 2 veículos por família enquanto que em Paris (a cidade mais rica da Europa) há 2 famílias por cada veículo. A rede de metro não chega aos destinos mais necessitados neste momento para não falar apenas das zonas históricas, refira-se que para o aeroporto não há ligação metro.
Mais que alargar vias, aumentar o número de lugares de estacionamento, é essencial desencorajar o uso de veículo privado promovendo o uso do transporte colectivo. Impossível? Veja-se a Suécia onde os ministros, altos quadros das empresas e cidadãos anónimos usam os transportes públicos. Há modelos como o que se usa em Londres ou Atenas ou Singapura para restringir fortemente o uso de veículos próprios.
Agora, onde está a falácia no meu pensamento? Falta a Autoridade Metropolitana de Transportes que existe no papel mas ainda não tomou forma.

Quarto aspecto, preparar Lisboa para a ocorrência de um sismo. Não vale a pena pensar que ele não virá porque virá, quando e como ninguém sabe mas virá e a cidade neste momento não tem capacidade para resistir a um cataclismo dessa natureza. Estima-se que um sismo de grau 7 destruiria cerca de 1 milhão de habitações.

Alguém vê qualquer destes dois candidatos falar abertamente destes temas?

Estamos todos a assistir a uma campanha pobre, que se perde em episódios, em que o Prof. Manuel Maria Carrilho revela uma incompetência política acima da média ao não ser capaz de calar o seu adversário dizendo que não é necessário ser-se engenheiro para se ser Presidente da Câmara, tem é de se ser bom gestor de recursos humanos, com capacidade de explicar aos concidadãos quais os projectos e mobilizá-los.

Por seu lado, o Eng.º Carmona Rodrigues, no meu entender tem feito uma campanha tranquila aproveitando as fraquezas (narcísicas?) do seu adversário, falando pouco, não se comprometendo e assim dando um aspecto de total desconhecimento dos verdadeiros problemas da cidade e por conseguinte não tendo de apresentar à priori soluções que ele sabe serem algumas profundamente penalizantes para os lisboetas e que não surtiram efeitos no espaço de um mandato.

Antes de terminar, e para que não julguem que me esqueci, sei que há mais candidatos e partidos na “corrida” à Câmara Municipal de Lisboa mas não creio que tenham reais probabilidades de ganhar e por isso não os referi anteriormente.

Para terminar formulo duas perguntas:

“É esta a política que queremos?”
“Um único mandato não obriga os políticos a serem demasiado vagos e a optar por soluções tipo penso-rápido?”

As lembranças que não tivémos

Já alguma vez os aconteceu lembrarem-se algo que não fizeram? Não digo recordar pessoas que achávamos que conhecíamos mas não nos lembrávamos de onde e só depois de as conhecermos outra vez é que ficamos com a sensação do sítio e do momento em que as conhecemos. Isso acontece-me imenso. Falo sim de um acontecimento específico que tinha a cereza que tinha ocorrido e que me dei conta que não tinha. Mas passando a coisas reais passo a contar-vos o que se passa.
No outro dia comecei a ler o 6º Harry Potter, em inglês para me treinar um pouco e também por gosto. Cheguei ao segundo capítulo e achei que algo estava estranho, não me lembrava de certos eventos. Eles falavam de Oclumância e eu não percebia o que era. Mas deixei passar. Li o terceiro e quando o Dumbledore se junta ao Harry num celeiro à porta de casa dos Weasleys e falam do Departamento dos Mistérios eu tive a certeza. Não li o 5º. O mais estranho é que tinha a certeza de o ter lido. Lembro-me de discutir com o Luís sobre a morte do Sirius, em que dizia que ele não tinha morrido porque me lembrava que tinha sido ressucitado pela Fénix do Dumbledore, facto esse que se passa no fim do 4º com o Lupin.
Conclusão, uma semana depois o caso está remediado e já posso ler o 6º à vontade. Ficou-me a dúvida: "Será que estou a ficar ché-ché?" Deve ser isso.
Já agora para os mais aficinoados neste mundo da magia: a autora comete um erro no 5º que não estava à espera. Ela põe o Harry e a Hermione por duas vezes a dizer que não são Animagus. Ora, muito me engano, ou o Harry consegue transformar-se no hipógrifo, a Hermione num unicórnio e o Ron num camaleão, isto sem falar no Malfoy que se transforma num bicho estranho. Coisa que aprenderam no fim do 3º. Fica o lamento de uma pequena gralha existir num livro muito bem pensado.

Sunday, September 25, 2005

Pós Paris

Regresso daquela que é conhecida como a cidade das luzes.
Daquilo que vi falarei depois, primeiro permitam-me partilhar o que sinto.
Venho com uma alegria transbordante por regressar a casa, por ter organizado parte dos meus pensamentos – “one step at a time” e logo se vê.
“Carpe Diem” – no sentido de que tudo é tão efémero que mais vale aproveitar o melhor que cada ocasião nos tem para dar, seja ele um sorriso de uma criança ou o facto de algo nos lembrar alguém que nos é especial.
Sempre compliquei as coisas e não acredito que o deixe de fazer mas sinceramente, agora, com a cabeça mais fria, não vale a pena complicar porque caso contrário perco-me num mundo de “ses” que nada de bom traz

Friday, September 16, 2005

Viagem

Preparo-me para sair em viagem, deixo este cantinho à beira mar plantado.
O que espero da viagem?
Sinceramente nem sei. Espero ver coisas novas, coisas bonitas que me limpem a alma e os pensamentos.
Quererei não pensar?
Não sei, mas gostaria de o fazer num estilo mais “relax”, “sem stress”…
Escrevo este post ao som da “Canção Verdes Anos” de Carlos Paredes, e sinto já uma nostalgia por este solo do qual ainda não saí…
Esta é talvez a grande diferença entre mim e tantos outros, creio que seria incapaz de sair deste meu país pequenino, tacanho e acabrunhado mas que é o MEU.
Sair e ir ver o mundo implica abrir os horizontes e respirar um ar que é fresco de novidades, beber alguma cultura, sorver algum conhecimento. É sobretudo a minha luta contra a estagnação em que todos tendemos a cair. E no entanto não é mais do que pôr a cabeça de fora do postigo e espreitar…

Thursday, September 15, 2005

Katrina e os políticos

Se um post a pedir aos políticos que fossem de férias durante a época pior dos incêndios não chegou, agora meus amigos, dêem-me razão e vão-se embora...
Vocês não acertam uma! Não sabem fazer nada a não ser cometer erros atrás de erros. Chega a ser espantoso como é que a Humanidade consegue sobreviver com gente como os Senhores à frente dos destinos do mundo.
Durante e após o furacão "Katrina" a actuação dos políticos e em particular do Presidente George W. Bush, foi um desastre. O ano passado um furacão de categoria 5 atingiu CUBA (um dos países pobres das Caraíbas, o paupérrimo é o Haiti) e verificaram-se avultados danos materiais e meia dúzia de mortos. Porquê? Porque o Presidente de Cuba, mandou toda a gente das zonas costeiras para abrigos nucleares e para o interior da ilha. Nos EUA, o aviso foi tardio e só permitiu que os "ricos" fugissem. Ninguém se tinha lembrado de mandar evacuar antes? Tiveram medo dos prejuízos para o turismo? E as pessoas? Aquelas que não tiveram dinheiro ou hipótese de sair? A minha indignação não se fica por aqui.
Imediatamente após o furacão "Katrina" ter deixado o Louisiana e um rasto de destruição atrás de si, apelos por parte das autoridades deste Estado Federal chegaram a Washington. E o que é que Washington fez? Orelhas de mercador! Quando finalmente entenderam que o que viam no écran de televisão era mesmo verdade e não um filme de Spielberg, já o resto do mundo oferecia ajuda. Entre os primeiros países a oferecerem ajuda estavam dois cuja ajuda tinha que ser imediatamente recusada, Cuba e Venezuela. Cuba porque o Fidel é comunista e a Venezuela porque o Hugo Chavéz é um demagogo. Ok, de acordo, mas eles tinham o que era necessário naqueles momento, ajuda humanitária, médicos e petróleo (um dos maiores defeitos da Venezuela é ter petróleo, talvez um dia eu escreva sobre estes defeitos da América Latina). Uma vez mais os políticos de Washington estiveram mal porque muitas vidas foram ceifadas com mais este compasso de espera.
Agora, temos centenas de mortos, muitos feridos, milhares de deslocados e ainda assim, os políticos não entenderam nada. Não entenderam que não são discursos feitos "in loco", abraços a negros que perderam tudo o que tinham, e promessas (sempre as mesmas promessas) que apagam da memória das pessoas o pânico, as perdas, o frio e o calor extremo, a fome. Meus amigos aquelas pessoas vão viver para o resto dos seus dias com a memória pejada de imagens caóticas e de rostos a desfilarem desfigurados. Os Senhores falam em reconstrução de cidades completas, deveriam ter feito tudo ao vosso alcance para que nada disto se tivesse passado.
Fica o consolo, pelo menos para mim, de que Bourbon Street, imortalizada por Sting (entre outros), estar de pé e de que os seus comerciantes estão lentamente a regressar. Fica o consolo que apesar da capacidade ruinosa dos políticos, o comum dos mortais ser capaz de lhes sobreviver. Dentro de pouco tempo o "Katrina" não passará de uma memória para a maioria do mundo, mas deveria ser dado como exemplo, de tudo o que não se faz e não se deve fazer em termos políticos.

Imagens e lembranças

Haverá imagem mais tranquila do que a de alguém a dormir?
Lembro-me daqueles casais de namorados deitados na relva em que um está com a cabeça apoiada nas pernas do outro que lhe faz festinhas no cabelo.
Outra imagem que me marca muito é a do abraço. Não creio que haja forma mais carinhosa de alguém se cumprimentar. Abraçar alguém é transmitir-lhe todo o nosso apoio, é sossegá-la de forma doce.
Lembro-me de quando era pequeno e chuchava no dedo, agarrado à orelha da minha mãe. Parecia que nada me podia afectar se estivesse ao colo dela. Era a sensação mais tranquilizante que havia.
E de ver desenhos animados com o meu avô (primeiro ao colo depois sentado ao lado)? Isso era um espectáculo…
Abri o lábio superior ficando com uma cicatriz porque acreditando que era o super-homem lancei-me já nem me lembro bem de onde ferrando-me numa esquina qualquer cá em casa…
E andar com o carrinho de apoio a chiar pela casa toda “a abrir” controlando aquele fortíssimo bólide?
Não sei porquê mas de repente lembrei-me disto tudo, com uma ternura enorme.
Se às vezes me sinto perdido, é nestes momentos que me reconcilio com todo o mundo. Estão todos a dormir cá em casa e apetece-me chegar ao pé de cada um de vocês e dar-vos um beijo terno e agradecido.
Caturrar – é uma palavra que tem para mim um som tão doce – é aquilo que nós mana fazemos quando estamos sozinhos…
E a mãe a ler os catrapázios de psicanálise e eu ao lado a ler o "Patinho Feio"
A mãe a sair de casa para ir trabalhar e eu a fazer birras enormes que não queria que ela fosse, a chorar e a agarrar-me às pernas dela para que não pudesse andar…
São estas imagens, estas recordações que dão doçura à minha vida. Sempre que tenho medo, lembro-me de tudo isto, de como os obstáculos que para mim, quando era pequeno, eram insuperáveis e agora os supero com toda a facilidade.

Wednesday, September 14, 2005

Fui para os bosques…

São 2h da manhã e a minha febre já baixou. Não li nada do que queria ter lido…
Há quem viva a vida inteira cheia de medo, com medo de decidir e de não decidir.
Hoje, meus amigos, as vossas palavras e os vossos conselhos foram do melhor que me poderia ter acontecido.
É verdade que sempre criei em torno de mim uma nuvem, uma fumaça, uma espécie de manto ilusório que escondia aquilo que de facto sentia ou pensava. Como tu, Sofia tão bem disseste: “é ruído de fundo” e “montas o circo todo”. É verdade, sempre me esquivei a deixar transparecer o que quer que fosse.
Acredito que aquilo que nós sentimos devemos guardar só para nós. Nunca me viram pedir ajuda de qualquer tipo – arrogância? Não, apenas porque acredito que não temos que importunar os outros com os nossos problemas.
Sempre fui melhor em ajudar do que em ser ajudado…
Até tu Ana voltaste a falar comigo depois de termos tido uma discussão em que te pedi que não me dirigisses a palavra. Senti-me feliz por ter razão? Não, mesmo nada, para te ser honesto, quase que senti vergonha de ter razão. Ficaste espantada por não desatar aos berros contigo – para quê? Já passou, já foi, e não sou capaz de ter prazer com o sofrimento dos outros mesmo quando digo pela boca fora que deviam arder no Inferno.
Curioso como subitamente senti uma estranha necessidade de deixar transparecer o que sinto, e mais, de o verbalizar. Sinto-me algo idiota é um facto mas é assim mesmo, estou a mudar, não sei se para melhor, talvez até não, mas estou a mudar.
Acusaram-me em tempos de ser frio, mesmo cru e duro. E fui, tantas vezes o fui… Mas evolui e espero já não o ser tanto. Quantas vezes não me acusaram de usar a minha cultura geral como marca de uma suposta superioridade? Lamento a brutalidade, mas eu de facto sei mesmo muito pouco e há tanta gente neste mundo que sabe tão mais do que eu, que mais do que superioridade se tal acontecesse, o que revelaria era estupidez pura e simples.
Sinto-me algo em baixo, é verdade, bastante assustado quanto ao que aí vem. Sempre achei que na vida havia duas opções, a de refugiarmo-nos num qualquer mundo ilusório ou “pegar o touro pelos cornos”. Sempre preferi a segunda via o que me tem granjeado algumas inimizades mas prefiro ser “blunt” a ser desonesto.
Pergunto-me, no dia em que a minha existência terminar, qual o balanço que farão dela?
É uma pergunta estranha bem o sei, sobretudo atendendo à minha idade mas por vezes pergunto-me como é que é possível medir a existência.
Haverá alguém mais importante do que outro? Creio que temos a exacta importância que nos dão as pessoas que para nós contam.
Ser-se importante na vida de alguém é saber que essa pessoa sabe que nos pode pedir o que quiser que nós o faremos sem questionar (demasiado).
Subitamente comecei a pensar na minha vida, a fazer um balanço dela, e cheguei a algumas “respostas” curiosas.
Não sou um às na minha universidade nem o pretendia ser (sinto alguma mágoa por não ser melhor), já trabalho naquilo que mais tarde vou mesmo ter que trabalhar e já recebi convites para algumas empresas.
Mas, para mim, o mais curioso de tudo isto foi, no espaço de um ano ter percebido quem eram os meus amigos, ter formado alguns novos pelos quais poria as mãos no fogo e aperceber-me que, mais importante que a carreira, que os estudos, que todo o dinheiro do mundo somado, são as pessoas que nos apoiam e estão sempre lá a verdadeira riqueza com que contamos.

Tuesday, September 13, 2005

"Wuthering Heights"

Monday, September 12, 2005

« Tallent de Bien Faire »

E dizem que Deus não existe?
Existe sim senhor.
Tinha que provar que tinha razão, provei-o e obriguei os outros a darem-me razão.
Afinal aqui o aprendiz de feiticeiro ainda sabe uns truques e consegue sacar coelhos da cartola…
Espero que tenham aprendido e que não tentem segunda porque a próxima dose é já na quinta-feira e, se eu tiver razão será literalmente o ultimo prego no caixão.
EMBRULHA!!!

“O bom, o mau e o vilão”

Pergunta: Quem é mais louco – o que coloca o pescoço no laço da forca ou o que dispara a carabina para cortar a corda no momento H?

Sunday, September 11, 2005

Após uns dias fora

Regressei ontem a casa após dois dias em que o mundo para mim parou.
Devo dizer que da “experiência” resultaram vários pensamentos. Uns mais sombrios, outros mais animados.
Conheci pessoas muito simpáticas, com visões do mundo totalmente dispares da minha e com um conhecimento de áreas onde nem me atrevo a entrar. Sempre achei que sabia pouco mas aprendi que sei mesmo muito pouco…
Apercebi-me também que, e lembrei-me desta frase – “os cemitérios estão cheios de insubstituíveis” – ou seja, o facto de eu não estar por cá para resolver as coisas não fez com que elas não se resolvessem por si e portanto daqui resulta que, resolução para o novo ano escolar que para mim começa amanhã, a vida é para ser saboreada a travos mais ou menos sôfregos mas devemos sempre escolher o que queremos sorver.

Wednesday, September 07, 2005

Longo

Foi um dia excessivamente longo…
Há um determinado brio profissional que todos temos e que não gostamos que seja colocado em causa de forma leviana ou mal intencionada.
Não sendo ainda formado e portanto “aprendiz de feiticeiro” tenho a noção de que o valor das minhas opiniões é muito denegrido.
Há algo que aprendi muito antes de ter começado a faculdade, que é só falar daquilo de que se tem certeza ou então que se domina muito bem para fazer face a imprevistos.
Raramente dou uma opinião “profissional” que não assente em fundamentos claros e que não seja passível de demonstração cabal.
Existem alturas em que, devido a uma deficiência de informação temos que traçar cenários. Opto pela política dos 3 – o pessimista, o optimista e o mais provável.
Ser acusado de incompetente porque assumi, assumo e continuarei a assumir que o cenário mais provável, neste caso coincide com o pessimista é algo que não aceito e mesmo sendo um quarto para as duas da manhã e amanhã ter que explicar isto tranquilamente às 8.30 numa reunião formal, vou munir-me não só dos dados que apresentei hoje mas, reconheço sem qualquer vergonha, vou estudar nos livros que descrevem casos semelhantes por forma a, por comparação e por exclusão demonstrar que tenho razão.
Poderá parecer uma questão de soberba mas não o é, é mesmo de orgulho pessoal e de não deixar que digam que eu não sei porque sou demasiado novo.

Monday, September 05, 2005

The pretenders

Há pessoas que conseguem fingir tão bem o que sentem ou o que não sentem.
Todos nós em determinadas alturas ignoramos determinadas coisas que se passam não só por uma questão de “preferirmos não ver” mas também como defesa da nossa integridade psíquica.
Na semana que passou (re)encontrei duas pessoas que em alturas distintas se cruzaram comigo na vida e o mais espantoso foi o facto de cada uma ter evoluído no sentido diametralmente oposto da outra.
Uma tornou-se solta, honesta, capaz e sem falsas intenções – “what you see is what you get” e a outra retorceu e nada do que aparenta é.

Numa vertente algo diferente mas que de certa forma me tem consumido, provavelmente é uma obsessão minha mas enfim: Como é possível que as pessoas digam mal de outras sem nunca falarem com entre si? Será assim tão difícil sentarmo-nos a uma mesa e discutir as questões?

Custa-me pensar que existem pessoas que têm tão má opinião minha porque nunca se dignaram a ouvir a minha versão da história ou dos factos. Sei que é utópico mas gostaria tanto de lhes explicar que para tudo houve razões. Não que com isto esteja a dizer que tive sempre razão mas tão só que, para mim, naquela altura, estava convicto que aquele era o melhor caminho para todos e que ninguém me foi capaz de convencer do contrário.

Sunday, September 04, 2005

"Moonbeam"

Todos temos os nossos sonhos e os nossos desejos, o nosso lado onírico...

Saturday, September 03, 2005

“Let it be”

Tenho estado ausente deste espaço, não que não o visite mas porque me custa escrever.
Estou no meio de alguma “confusão” mental.
Estou tão surpreendido que nem sei. Sinceramente não imaginava encontrar alguém tão especial. Há pessoas que com pequenos gestos revelam uma coragem enorme e um cuidado com os outros que não é comum.