Após ler em vários blogs múltiplas opiniões sobre as candidaturas do Prof. Manuel Maria Carrilho e do Eng.º Carmona Rodrigues, não posso deixar de me envolver na polémica.
Há algo que me preocupa muitíssimo que é a falta de nível que esta campanha tem tido.
Não me refiro apenas ao debate na SIC porque esse foi apenas um episódio e seria perder-me na névoa que parece toldar a visão de muitos.
Reconhecendo que não li os programas de nenhum destes dois candidatos, a verdade é que há assuntos que são prementes e que não vejo serem discutidos. Se por um lado o Prof. Manuel Maria Carrilho tenta em vão “colar” o seu rival à política de Pedro Santana Lopes, a verdade é que o Eng.º Carmona Rodrigues se esquiva como uma enguia às questões essenciais e, num complexo jogo de volteios e piruetas dá o dito por não dito, responde vagamente e usa “galantemente” o seu título profissional como garante de qualidade.
Antes que me perca no meu devaneio, vou tentar colocar por escrito aquelas que são para mim as preocupações essenciais que qualquer candidato à Câmara Municipal de Lisboa deve ter.
Em primeiro lugar, e com rótulo de urgente, o que é que qualquer um pretende fazer perante o colapso eminente do caneiro de Alcântara e dos restantes que escondem os cursos de água naturais que influenciam o comportamento dos solos e com isso perigam as estruturas dos prédios. O dito caneiro de Alcântara e para dar um exemplo simples põe em perigo o Aqueduto das águas livres, a Avenida de Ceuta e aparentemente um dos pilares da Ponte 25 de Abril na zona de Alcântara. Esta questão, mais do que mera propaganda política tem de ser encarada com seriedade porque repor o caneiro integralmente levaria à ruína camarária uma vez que os custos levariam cerca de 30 anos a ser pagos pelo município.
O segundo aspecto que me parece relevante é a questão da reabilitação das zonas antigas da cidade, não podemos apenas lavar a cara e não resolver os problemas sérios como a fragilidade perante um fogo, as más acessibilidades, a impossibilidade de se estacionar nessas zonas a (quase) total ausência de transportes públicos capazes de irrigar aquelas zonas que se vão degradando e perdendo pessoas que cada vez mais estão a mover-se para o exterior da cidade criando anéis num desenvolvimento tipo mancha de óleo deixando o “casco velho” da cidade a apodrecer obrigando os serviços (gás, água, esgotos, luz) a estenderem-se por quilómetros levando a custos de exploração e manutenção impensáveis e insuportáveis.
Dirão: Parte dos imóveis antigos estão degradados e os proprietários não os arranjam. É um ponto de vista falacioso que para desarmar levaria a um outro post que talvez no futuro o faça.
Terceiro aspecto, a questão dos transportes – não será o túnel do Marquês a resolver, os números são cruéis mas não permitem enganos, em Lisboa há uma média de 2 veículos por família enquanto que em Paris (a cidade mais rica da Europa) há 2 famílias por cada veículo. A rede de metro não chega aos destinos mais necessitados neste momento para não falar apenas das zonas históricas, refira-se que para o aeroporto não há ligação metro.
Mais que alargar vias, aumentar o número de lugares de estacionamento, é essencial desencorajar o uso de veículo privado promovendo o uso do transporte colectivo. Impossível? Veja-se a Suécia onde os ministros, altos quadros das empresas e cidadãos anónimos usam os transportes públicos. Há modelos como o que se usa em Londres ou Atenas ou Singapura para restringir fortemente o uso de veículos próprios.
Agora, onde está a falácia no meu pensamento? Falta a Autoridade Metropolitana de Transportes que existe no papel mas ainda não tomou forma.
Quarto aspecto, preparar Lisboa para a ocorrência de um sismo. Não vale a pena pensar que ele não virá porque virá, quando e como ninguém sabe mas virá e a cidade neste momento não tem capacidade para resistir a um cataclismo dessa natureza. Estima-se que um sismo de grau 7 destruiria cerca de 1 milhão de habitações.
Alguém vê qualquer destes dois candidatos falar abertamente destes temas?
Estamos todos a assistir a uma campanha pobre, que se perde em episódios, em que o Prof. Manuel Maria Carrilho revela uma incompetência política acima da média ao não ser capaz de calar o seu adversário dizendo que não é necessário ser-se engenheiro para se ser Presidente da Câmara, tem é de se ser bom gestor de recursos humanos, com capacidade de explicar aos concidadãos quais os projectos e mobilizá-los.
Por seu lado, o Eng.º Carmona Rodrigues, no meu entender tem feito uma campanha tranquila aproveitando as fraquezas (narcísicas?) do seu adversário, falando pouco, não se comprometendo e assim dando um aspecto de total desconhecimento dos verdadeiros problemas da cidade e por conseguinte não tendo de apresentar à priori soluções que ele sabe serem algumas profundamente penalizantes para os lisboetas e que não surtiram efeitos no espaço de um mandato.
Antes de terminar, e para que não julguem que me esqueci, sei que há mais candidatos e partidos na “corrida” à Câmara Municipal de Lisboa mas não creio que tenham reais probabilidades de ganhar e por isso não os referi anteriormente.
Para terminar formulo duas perguntas:
“É esta a política que queremos?”
“Um único mandato não obriga os políticos a serem demasiado vagos e a optar por soluções tipo penso-rápido?”