Sunday, December 31, 2006

Paradoxos

Na década de 80 foi um exito, mas no fundo refere-se mesmo a quê?



"Enola Gay" - OMD

Friday, December 29, 2006

Promessas, expectativas e desejos

Não sei explicar nem sequer pretendo fazê-lo mas fiquei a pensar nisto:

Será possível não fazer promessas a quem gostamos?

É justo fazerem-se promessas? É possível (aceitável) “atirar” expectativas para um futuro qualquer que é sobretudo incerto?

Acho que é difícil não fazer promessas às pessoas de quem gostamos quanto mais não seja porque são a verbalização dos nossos desejos naquele momento mas sou da opinião que as palavras devem ser cuidadosamente ponderadas.

Não sei se é justo fazer promessas, acho que não. Tudo o que dizemos e que lança o seu espectro para o futuro deve ser encarado com muita reserva, com muitos “ses”. Claro que é possível criar expectativas mas não as considero aceitáveis porque se não estamos à altura delas vamos decepcionar alguém.

Porque me magoei com expectativas demasiado elevadas, por ter acreditado naquilo que sabia não ser passível de se acreditar prefiro baixar as minhas expectativas e as de quem está comigo.

No entanto confesso que há pessoas com as quais quero partilhar o meu futuro e talvez aí me deixe levar e, secretamente, crie expectativas muitas das quais não partilho para não provocar tensões desnecessárias.

Não acredito em promessas porque as associo sempre a mentiras mais ou menos elaboradas. Umas porque são mentiras descaradas, outras porque, mesmo não intencionalmente se tornam em mentiras porque o tempo nos desmente.

E tenho esta estranha dificuldade porque se não gosto de promessas, sou da opinião de que se devem partilhar os desejos mas que às vezes também eles apontam para um futuro.

Quando falo no futuro, é aquele que desejo e que imagino possível, tentando não prometer sorrisos, afectos e dias de Sol. Prometo isso sim, o meu empenho em que as coisas sejam o mais tranquilas possíveis, agradáveis e suaves mas tendo a certeza de que haverá tempos francamente difíceis e que quando os mesmos chegarem as rosas revelarão os espinhos e o mar tranquilo se transformará numa tempestade.


Nota Final:

Future, n. That period of time in which our affairs prosper, our friends are true and our happiness is assured. – “The Devil’s Dictionary”, Ambrose Bierce

Wednesday, December 27, 2006

Natal



Há já alguns anos que um Natal tem para mim um sabor diferente do que tem para outras pessoas.

Este ano este Natal teve muito que contar e se não acredito que o mesmo fique para a memória como sendo um Natal especial, foi um Natal importante.

Estranhei o súbito ambiente intimista que passa uma borracha pelo passado como se tal fosse possível, senti-me um estranho sentado naquela mesa. Não me senti mal, mas pela primeira vez senti claramente que ali não era o meu lugar. Talvez já tenha sido mas já não o é e provavelmente nunca mais será.

E foi no entanto um Natal tranquilo, com algumas certezas de ternura, com algumas promessas de dias melhores, com a calma que dá forma às nossas convicções.

Curiosamente mais tranquilo com as minhas escolhas, sentindo-me menos posto em causa.

Não tenho escrito aqui por vários motivos. O principal motivo é que não me apetece escrever.

Não me apetece analisar o passado, não me apetece conjecturar o futuro e sinceramente também não me apetece descrever o presente.

Não sei explicar mas voltei a “sentir-me vivo”, voltei a sentir alguma da minha paz interior. Sendo mais claro, tomei consciência daquilo que deixei ficar e pela primeira vez senti posta em causa a minha decisão e o resultado foi satisfatório. Pode ser que mais tarde me arrependa das decisões e das mudanças que operei na minha vida mas pelo menos assim vou vivendo e não apenas sobrevivendo ao sabor da maré e dos gostos alheios.

Já tarde na quadra natalícia, mas sentindo muito mais as palavras: um Bom Natal!

Monday, December 18, 2006

(silêncio)

Faltam-me as palavras, sobram-me os pensamentos…


"The Boxer" - Simon & Garfunkel

Sunday, December 17, 2006

E...

Subitamente o silêncio sabe-me bem.

Thursday, December 14, 2006

“Clap your shoes…”

Um caminho do qual se começa a ver o fim, um caminho do qual me fartei e de repente começo sentir desejo de outros horizontes.

Até ao fim do ano decisões que não sendo irreversíveis serão difíceis de alterar. Um pequeno conclave decisório e depois será: “viver com as consequências”


"Goodbye Yellow Brick Road" - Elton John

Monday, December 11, 2006

Sabores e dissabores

Tendo passado três anos a tentar provar que tinha razão, em muitos momentos sendo a única voz dissonante e tendo que me valer da minha argumentação contra pessoas mais velhas, mais experientes e sobretudo mais apoiadas, no momento em que afinal se prova que eu tinha razão sinto-me vazio.

Curiosamente achava que a partir do momento em que provasse que tinha razão as coisas iriam melhorar e as pessoas iriam perceber que mais do que uma jogada de “arrivista” era uma prova de competência (minha entenda-se). Esperava que abrissem os braços, largassem os preconceitos e tentassem conciliar posições e ajudar naquilo que vai ser um projecto trabalhoso e em que o tempo das decisões se começa a escoar.

E agora que tenho razão, em vez de me sentir satisfeito, invade-me a preocupação de saber que com ela ganhei sobretudo inimigos.

Sunday, December 10, 2006

Miscelânea de coisas que considero importantes

O prémio Nobel da Paz foi atribuído a Muhammad Yunus o pai do micro-crédito.

No seu discurso de agradecimento destaco: “(...)para eliminar o terrorismo agora e para sempre é necessário atingir as suas bases e isso só é possível dando às pessoas meios de subsistência e acreditando nelas. Assim sendo considero que o caminho passa não pelo gasto em armas mas sim no combate à pobreza.”

Curiosamente no mesmo dia deste discurso Donald Rumsfeld que será substituído no cargo de Secretário da Defesa dos E.U.A. no próximo dia 18 de Dezembro alertou para os riscos que uma derrota militar no Iraque representam para a supremacia dos E.U.A.

E num mundo que não pára, fértil em contradições, morre hoje aos 91 anos Augusto Pinochet que derrubou Salvador Allende numa data que só há uns anos se tornou relevante – 11 de Setembro.

Será que existe mesmo o reverso da medalha?

A mulher do (ex) espião russo que foi assassinado revela que o seu marido: “nunca teve inimigos (…)” – afinal, ele só sabia que os serviços secretos aplicavam tortura e outros métodos porque, claro está, “ouviu dizer”.

Será que sou o único que noto estas aparentes contradições?

Friday, December 08, 2006

(suspiro)

I

Passo a minha mão pela tua cabeça,
recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
olhando-a como passa e vendo onde passou.

Quero tanto saber o que tu pensas.

II

O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta de recurvada, passa brandamente.

Quero saber aquilo que nem sabes.

III

Aquilo que nem sabes – como saberias
O que o pensar é antes de pensar-se?

A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa do arrepio prévio.
IV

Porque esperaste, ciente, a pele da minha mão?

“Apreender” – Jorge de Sena – 12/02/1954

No tempo que passa e que não se mede em segundos, minutos, horas ou dias, a intranquilidade tranquila...

Tuesday, December 05, 2006

Auto censura

Quando escrevo neste espaço escrevo não sob o manto do anonimato (porque os textos estão “assinados”) mas normalmente quem me lê não tem relação directa – excepção feita aos amigos e irmã.

Quando sabemos que há quem nos conhece que lê o que escrevemos sentimo-nos constrangidos ou pelo menos eu sinto. Sinto porque escrevo sobre muita coisa, algumas com ligação directa, outras longe daquilo que as pessoas podem entender. No entanto nada as impede de interpretar o que está escrito mas isso pode gerar mal entendidos.

Um exemplo? A foto de um aparente penhasco. Não olhei para ela como algo que lembrasse a morte, o precipício ou “ideias suicidas”.
Olhei como se olha para uma passagem – estreita, feita de rocha de um lado e de outro, áspera portanto, mas que depois abria no mar, local ao qual associo à linha do horizonte, ao azul que se perde no infinito e se junta ao azul do céu como se tudo tivesse uma continuidade tranquila.

Sunday, December 03, 2006

Multiplos sentidos

"Noite estrelada" - Vincent van Gogh


Don McLean - "Vincent" (a.k.a. "Starry Satrry Night")

Provavelmente nem tudo é para se entender. Muitas vezes há mais significados para além do óbvio...

Friday, December 01, 2006

Apanhada

Tenho dificuldade em verbalizar tudo aquilo que sinto neste momento sobre vários aspectos, muitos dos quais não passam por este espaço.

Há um tempo atrás decidi procurar o meu próprio caminho neste estranho lugar que é o mundo. Decidi refazer as minhas ideias, despir-me de preconceitos, retirar a armadura que mesmo enferrujada vestia todos os dias para sobreviver.

Subitamente dou por mim a meio do caminho, já não avisto o ponto de partida mas também não vislumbro ponto de chegada.

O curioso é que me lembro do ponto de partida, daquela ínfima parte que era o meu mundo que eu controlava porque sabia qual era a reacção a determinada acção. Saí dali porque não me sentia satisfeito.

Agora estou algures num caminho mais ou menos longo, com a imagem de um futuro que é o que pretendo mas que sinceramente se me começam a esgotar as ideias de como o alcançar e o canto de sereia do mundo que quero deixar e do qual me afastei a dado momento.

Não tenho quem me amarre ao mastro enquanto passamos as sereias e portanto me impeça de voltar atrás e também não sei se resisto à tentação de regressar ao “modus operandus” que conheço mas do qual desgosto.

Lembram-se de jogar à apanhada?

Lembram-se de haver um local seguro – o coito?

Não se eram ou não rápidos a correr, eu não era e portanto não me afastava assim muito do coito não fosse o Diabo tecê-las.

No entanto agora parece que tenho mesmo que deixar para trás o meu local seguro e explorar mais à frente, naquele lugar que está mesmo ali mas que não sei onde é.

Dir-se-á: é a travessia do deserto.

Talvez seja, mas não estava já eu a fazê-la? Perdi-me no caminho? Sofro de miragens?

Não reconheço as estrelas que supostamente me norteiam, não sei muito bem que mais fazer confesso, esforço-me para chegar lá mas não sei se estou a ser capaz…

Ah, aquele canto de sereia reconfortante, tão doce que é…

Olhando para a frente (o pior é que não sei muito bem o que isso é) vejo um terreno árido, com muito sacrifício que me tenta dissuadir de o atravessar.

Sou teimoso no entanto, e tenciono lá chegar. No fundo é uma peregrinação a um local desconhecido que não implica que chegando lá, lá permaneça.

No meio de tudo isto lembro-me das promessas que me fizeram, que fiz, que pairam no ar e das quais desconfio.

Serão facilidades a mais? Gostarei eu assim tanto de travessias mais ou menos árduas?

São tudo perguntas de resposta difícil e agora sentei-me na encruzilhada à espera de decidir se avanço, e se sim, para onde?

Sobretudo quero respostas, respostas às minhas perguntas pessoais e que uma vez obtidas me tragam a tranquilidade que desejo. Virão outras dúvidas mas isso… é inevitável, mas sobretudo quero que quando cheguem olhe para elas com uma certa calma.

P.S. - escrito há já alguns dias mas ficou à espera de saber se o ia colocar aqui ou não.