Monday, November 28, 2005

“O Holandês Voador” – (2)

Segundo reza a história, o navio com o nome do título desta entrada era um navio assombrado em que o seu comandante sempre que o Sol se punha recebia a visita de um convidado misterioso que não era nem mais nem menos que o Diabo. O comandante tinha apostado a sua alma com o Diabo sobre um jogo de dados. O comandante teria que tirar 7 para salvar a sua alma. Os jogos começavam quando o Sol se punha e duravam toda a noite porque o comandante tinha viciado os dados para que saísse o número que ele pretendia mas o Diabo insistia sempre em mais um jogo, mais um lançamento, esperando que a sua sorte mudasse e assim ficar com a alma do comandante de quem desconfiava.
Olhando para trás, penso que foi mesmo isto que fiz, joguei dados com a fortuna e perdi.
Estando eu num estado de profunda frieza como há muito não tinha, dou por mim a pensar naquilo que foi e nos porquês.
Se alguém Ama outra pessoa, só a quer ver feliz e se ela nos diz que é feliz com outro, mesmo que a nós nos doa não devemos intrometermo-nos, se o caminho para a felicidade passa por outro, se gostamos verdadeiramente, deixamo-la partir, mesmo que isso a nós nos custe.
Não deixamos de gostar das pessoas de um momento para o outro, não escolhemos os afectos nem os seus volteios.
Falava com uma amiga minha no outro dia que me dizia que ter a sua sobrinha ao colo era a coisa mais doce que existia porque tinha a noção de ter alguém frágil nos seus braços e que se ela não tivesse cuidado podia magoá-la muito.
Há alturas em que numa relação, se ela for genuína, nós tentamos “segurar” o outro, protegendo-o de embates desagradáveis, dando o nosso corpo como escudo, entrepondo-nos entre aquilo que pode ser maldoso e a pessoa que amamos.
O facto de largarmos a mão da pessoa amada não implica que tenhamos deixado de a amar, ou melhor, no caso em que estou a pensar, isso não estava implícito. Neste caso especifico, terá sido um pouco como a mãe do Bambi, vai andando que eu vou lá ter.
Não foi concerteza o momento mais conseguido da minha vida, mas foi o possível dadas as “minhas” circunstâncias. Não que queira que se pense que sou melhor do que eu sei lá o quê, sou o que sou e fiz aquilo que achei protegia melhor aqueles de quem eu gostava.
Estou a escrever cifrado é verdade mas há quem entenda o que estou a escrever, e é o que importa.
Há muito que guardo parte de uma verdade que não podia revelar mas que já te poderei demonstrar.
Errei? Talvez, mas isso agora não importa mesmo nada.
Sinto uma enorme culpabilidade em relação a um sem número de coisas, de episódios que eu não consegui impedir ou alterar, mas talvez não estivessem na minha mão.
Não consegui prever os comportamentos de pelo menos duas pessoas que me eram/são próximas e isso dói-me de forma muito profunda.
Acho que falhei em não ter sido capaz de vos proteger melhor, mas talvez não me competisse a mim…
Talvez não me competisse a mim, é aquilo que vou sussurrando para ver se me convenço efectivamente disso porque sabe Deus, eu sempre acreditei que seria capaz de “bend” as situações para que elas fossem o que eu queria, sempre achei, que como o comandante poderia viciar os dados do destino e obrigá-lo a ser como eu bem entendesse e agora vejo-me pequenino com as reviravoltas todas a darem-se à minha frente e eu incapaz de as modificar. Recuso-me a ceder mas é mais teimosia do que real convicção de que serei capaz de alterar o que quer que seja. Muito depende de terceiros que nem sempre souberam ou sabem perceber o que eu pretendo ou qual o meu “magistral” plano.
Não acredito que tenha o dom divino de saber mais do que os outros, mas gostaria que dessem crédito e acreditassem que aquilo que faço ou fiz tem um propósito muito mais amplo do que aquilo que demonstro.

2 Comments:

Blogger Maríita said...

Pela parte que me diz respeito, esquece os teus sentimentos de culpa.
Beijos

November 29, 2005 11:25 AM  
Blogger João Magriço said...

E não é sempre assim? O que nós fazemos, tem uma profundidade que só nós conhecemos... e qd conhecemos. Pois muitas vezes, nem nós sabemos o resultado das nossas acções. Nesses casos, temos que ser responsáveis, sim, mas ao mesmo tempo perceber que a culpa pode não ter sido nossa.

Mais do que obter o perdão dos outros, o mais difícil é perdoarmo-nos a nós mesmos. E isso tens que aprender a fazer. Tu levas o mundo às costas... não sejas egoísta, partilha-o com os que te querem ajudar :-p

Em relação ao amor, ele é cego, o que não desculpa as nossas acções mas faz com que sejam compreensíveis, apesar de raramente serem as mais sensatas.

Um grande abraço

Jam

November 29, 2005 6:20 PM  

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