Thursday, November 10, 2005

Sussurro

É curioso como alguns acontecimentos nos fazem (de novo) pensar.
Dei por mim a pensar no ciúme, na traição amorosa, nos filhos existentes ou potenciais.
Nas relações amorosas há sempre alguns ciúmes de parte a parte o que não tem necessariamente que ser mau, podem até ser um certo “condimento”.
A questão é, porque é que aparecem os ciúmes?
Acho que em parte porque temos medo que o outro se vá embora, nos deixe. Já repararam que só temos ciúmes de quem gostamos?
E a justa medida dos ciúmes? É curioso que o “ciumento” acha sempre que deu muito espaço ao outro, o “ciumizado” acha que não tem espaço nenhum…
Em parte os ciúmes passam muito pela atitude do nosso parceiro perante os outros, mas passam também pelas nossas próprias inseguranças.
Todos temos um sentimento de posse em relação à pessoa amada, não vale a pena mentir, é a nossa paixão. A verdade é que também sabemos que temos limitações importantes e quem em determinadas fases da nossa vida não podemos ser mais do que aquilo que somos, não nos podemos transcender e viver exclusivamente para o outro porque há uma série de assuntos urgentes que reclamam a nossa atenção. Ter esta consciência associada ao facto de sabermos que há sempre alguém melhor que nós algures no mundo não é propriamente a sensação mais tranquilizante do mundo. Há aqueles de nós que tem a sorte de encontrar o seu “par ideal” que não questiona mais nada e fica sempre ali, mas também aqueles de nós (a grande maioria) que têm o tremendo azar de ver o seu amor cruzar-se com aquele que é de facto melhor do que nós.
Estou a dizer que uns são melhores que outros? Não. Estou a dizer que, alguns correspondem mais às expectativas que o outro tem, do que nós em determinadas alturas. Não me querendo alongar muito neste tópico relembro duas coisas – desfasamento temporal e horizonte temporal.
Ter ciúmes é natural, o que não é natural é que numa relação o outro não sinta ciúmes “de nós”, isso implicaria não gostar ou ser-lhe indiferente. A maturidade das relações está em ser capaz de não ter ciúmes doentios e ter o “lado bom” do ciúme, aquele que faz com sejamos capazes de ir comprar um ramo de rosas, um malmequer, oferecer chocolates, telefonar e dizer: “tenho saudades tuas”. Tudo isto implica que estamos a dizer ao outro, tu és importante para mim.
Ser-se traído ou sentir-se traído é algo que dói muito, é literalmente ser varado e às vezes é como que uma lâmina que nos trespassa, ferindo-nos de morte mas que infelizmente não mata logo, deixa-nos em agonia até que depois… depois passa. O Tempo é implacável, apaga tudo à sua passagem, desde impérios a civilizações por isso também as desilusões acabam eventualmente por passar. Acho que aprendi que há coisas tão importantes na vida que não vale a pena lamentarmo-nos indefinidamente à espera de algo que se quebrou – a confiança – e que dificilmente volta.
A questão dos filhos abordarei noutra altura uma vez que não imagino nada de mais importante do que eles. Implicam com tudo o que disse antes é verdade mas voltarei a eles noutro post.

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