Monday, September 26, 2005

Candidaturas à Câmara Municipal de Lisboa – um retrato político?

Após ler em vários blogs múltiplas opiniões sobre as candidaturas do Prof. Manuel Maria Carrilho e do Eng.º Carmona Rodrigues, não posso deixar de me envolver na polémica.

Há algo que me preocupa muitíssimo que é a falta de nível que esta campanha tem tido.
Não me refiro apenas ao debate na SIC porque esse foi apenas um episódio e seria perder-me na névoa que parece toldar a visão de muitos.

Reconhecendo que não li os programas de nenhum destes dois candidatos, a verdade é que há assuntos que são prementes e que não vejo serem discutidos. Se por um lado o Prof. Manuel Maria Carrilho tenta em vão “colar” o seu rival à política de Pedro Santana Lopes, a verdade é que o Eng.º Carmona Rodrigues se esquiva como uma enguia às questões essenciais e, num complexo jogo de volteios e piruetas dá o dito por não dito, responde vagamente e usa “galantemente” o seu título profissional como garante de qualidade.

Antes que me perca no meu devaneio, vou tentar colocar por escrito aquelas que são para mim as preocupações essenciais que qualquer candidato à Câmara Municipal de Lisboa deve ter.

Em primeiro lugar, e com rótulo de urgente, o que é que qualquer um pretende fazer perante o colapso eminente do caneiro de Alcântara e dos restantes que escondem os cursos de água naturais que influenciam o comportamento dos solos e com isso perigam as estruturas dos prédios. O dito caneiro de Alcântara e para dar um exemplo simples põe em perigo o Aqueduto das águas livres, a Avenida de Ceuta e aparentemente um dos pilares da Ponte 25 de Abril na zona de Alcântara. Esta questão, mais do que mera propaganda política tem de ser encarada com seriedade porque repor o caneiro integralmente levaria à ruína camarária uma vez que os custos levariam cerca de 30 anos a ser pagos pelo município.

O segundo aspecto que me parece relevante é a questão da reabilitação das zonas antigas da cidade, não podemos apenas lavar a cara e não resolver os problemas sérios como a fragilidade perante um fogo, as más acessibilidades, a impossibilidade de se estacionar nessas zonas a (quase) total ausência de transportes públicos capazes de irrigar aquelas zonas que se vão degradando e perdendo pessoas que cada vez mais estão a mover-se para o exterior da cidade criando anéis num desenvolvimento tipo mancha de óleo deixando o “casco velho” da cidade a apodrecer obrigando os serviços (gás, água, esgotos, luz) a estenderem-se por quilómetros levando a custos de exploração e manutenção impensáveis e insuportáveis.
Dirão: Parte dos imóveis antigos estão degradados e os proprietários não os arranjam. É um ponto de vista falacioso que para desarmar levaria a um outro post que talvez no futuro o faça.

Terceiro aspecto, a questão dos transportes – não será o túnel do Marquês a resolver, os números são cruéis mas não permitem enganos, em Lisboa há uma média de 2 veículos por família enquanto que em Paris (a cidade mais rica da Europa) há 2 famílias por cada veículo. A rede de metro não chega aos destinos mais necessitados neste momento para não falar apenas das zonas históricas, refira-se que para o aeroporto não há ligação metro.
Mais que alargar vias, aumentar o número de lugares de estacionamento, é essencial desencorajar o uso de veículo privado promovendo o uso do transporte colectivo. Impossível? Veja-se a Suécia onde os ministros, altos quadros das empresas e cidadãos anónimos usam os transportes públicos. Há modelos como o que se usa em Londres ou Atenas ou Singapura para restringir fortemente o uso de veículos próprios.
Agora, onde está a falácia no meu pensamento? Falta a Autoridade Metropolitana de Transportes que existe no papel mas ainda não tomou forma.

Quarto aspecto, preparar Lisboa para a ocorrência de um sismo. Não vale a pena pensar que ele não virá porque virá, quando e como ninguém sabe mas virá e a cidade neste momento não tem capacidade para resistir a um cataclismo dessa natureza. Estima-se que um sismo de grau 7 destruiria cerca de 1 milhão de habitações.

Alguém vê qualquer destes dois candidatos falar abertamente destes temas?

Estamos todos a assistir a uma campanha pobre, que se perde em episódios, em que o Prof. Manuel Maria Carrilho revela uma incompetência política acima da média ao não ser capaz de calar o seu adversário dizendo que não é necessário ser-se engenheiro para se ser Presidente da Câmara, tem é de se ser bom gestor de recursos humanos, com capacidade de explicar aos concidadãos quais os projectos e mobilizá-los.

Por seu lado, o Eng.º Carmona Rodrigues, no meu entender tem feito uma campanha tranquila aproveitando as fraquezas (narcísicas?) do seu adversário, falando pouco, não se comprometendo e assim dando um aspecto de total desconhecimento dos verdadeiros problemas da cidade e por conseguinte não tendo de apresentar à priori soluções que ele sabe serem algumas profundamente penalizantes para os lisboetas e que não surtiram efeitos no espaço de um mandato.

Antes de terminar, e para que não julguem que me esqueci, sei que há mais candidatos e partidos na “corrida” à Câmara Municipal de Lisboa mas não creio que tenham reais probabilidades de ganhar e por isso não os referi anteriormente.

Para terminar formulo duas perguntas:

“É esta a política que queremos?”
“Um único mandato não obriga os políticos a serem demasiado vagos e a optar por soluções tipo penso-rápido?”

3 Comments:

Blogger João Magriço said...

Um bom exemplo académico de que as coisas resultam muito bem com um candidato a longo prazo é a cidade de Coritiba no Brasil. (Tu já deves estar farto de ouvir falar)
Para aqueles que é novidade, resumindo, digamos que apesar de continuar a ser uma cidade brasileira, com todos os problemas inerentes de favelas, tipo de pessoas e afins, é um exemplo de organização parelo ao da cidade de Toronto no Canadá. A razão disto? O presidente da câmara está lá à 20 anos.
Não digo que se instaure uma ditadura em Lisboa, mas a verdade é q se os políticos estiverem preocupados em resolver os problemas e não em arranjar um tacho durante uns anos, as coisas corriam muito melhor.
Mas para falar dos problemas da política em Portugal, não chegava um outro post, mas sim um outro blog.

September 27, 2005 4:57 PM  
Blogger João Magriço said...

Peço desculpa, no 2º parágrafo é paralelo e não parelo.

September 27, 2005 4:58 PM  
Blogger Maríita said...

Diria que estes definitivamente não são os políticos que queremos, mas são os que merecemos porque votámos (os portugueses) neles.

Recuso-me a aceitar o que se passa hoje em dia, políticos que fazem tudo para não debater o que é importante para as pessoas, políticas de fundo que são alteradas segundo o partido no poder e sobretudo um gasto de dinheiro que irrita um santo.

Quanto a achares que as políticas são tipo penso-rápido devido a uma limitação no tempo, acontece que em Portugal não existe um limite legal para o número de vezes que uma pessoa se pode candidatar às autarquias (ou se existe foi instituido agora), o que se passa é que ninguém quer fazer políticas de longa duração, sem visibilidade imediata. O que é desejável para os políticos é obra feita e visível, dou o exemplo dos esgotos de Lisboa a CDU teve esse plouro, nunca mais houve inundações em Lisboa (e não é porque estamos a atravessar uma época de seca), e nas eleições seguintes perderam votos.

Repito temos os políticos que merecemos porque não temos a tranquilidade de aguardar para ver os resultados. Caneiro de Alcântra? Quando o Aqueduto cair, metade do Eixo Norte-Sul desaparecer ou o pilar da ponte 25 de Abril se afundar, alguém tomará conhecimento, rezemos até lá para que não morra ninguém no processo.

O que é que tu esperas? Que o Carrilho ou o Carmona Rodrigues venham dizer que o caneiro é algo prioritário? Isso vê-se? Não! Então não é prioritário. Prioritário é a videovigilância, claro que pode ser que eles decidam fazer videovigilância do caneiro, mas não me cheira... Reabilitação do centro histórico da cidade? Para quê? Emparedar tudo, pinturas exteriores e contratar alguém para de vez em quando estender uns lençóis brancos para dar ar de vida ao Castelo, Bica, Mouraria, Alfama e afins. Reabilitação urbana...até o Metro das Colinas, uma das medidas do Governo Santana Lopes mais inteligentes foi revogada por este governo...
Estes são os governantes que temos e sinceramente, quem votou neles merece-os.

Mas, vamos apostar um chocolate em como a Fátinha Felgueiras, ganha? ou o Major Valentão Loureiro e sus muchachos? E o Isaltino? Claro que se candidata, afinal o sobrinho não pode ficar indefinidamente na Suíça...My dear brother, temos o que merecemos. A mediocridade dos nossos políticos não é mais do que um reflexo da sociedade em que nos transformámos.

Desculpa lá a extensão do comentário, mas ando farta deles todos!

September 27, 2005 5:01 PM  

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