Wednesday, September 14, 2005

Fui para os bosques…

São 2h da manhã e a minha febre já baixou. Não li nada do que queria ter lido…
Há quem viva a vida inteira cheia de medo, com medo de decidir e de não decidir.
Hoje, meus amigos, as vossas palavras e os vossos conselhos foram do melhor que me poderia ter acontecido.
É verdade que sempre criei em torno de mim uma nuvem, uma fumaça, uma espécie de manto ilusório que escondia aquilo que de facto sentia ou pensava. Como tu, Sofia tão bem disseste: “é ruído de fundo” e “montas o circo todo”. É verdade, sempre me esquivei a deixar transparecer o que quer que fosse.
Acredito que aquilo que nós sentimos devemos guardar só para nós. Nunca me viram pedir ajuda de qualquer tipo – arrogância? Não, apenas porque acredito que não temos que importunar os outros com os nossos problemas.
Sempre fui melhor em ajudar do que em ser ajudado…
Até tu Ana voltaste a falar comigo depois de termos tido uma discussão em que te pedi que não me dirigisses a palavra. Senti-me feliz por ter razão? Não, mesmo nada, para te ser honesto, quase que senti vergonha de ter razão. Ficaste espantada por não desatar aos berros contigo – para quê? Já passou, já foi, e não sou capaz de ter prazer com o sofrimento dos outros mesmo quando digo pela boca fora que deviam arder no Inferno.
Curioso como subitamente senti uma estranha necessidade de deixar transparecer o que sinto, e mais, de o verbalizar. Sinto-me algo idiota é um facto mas é assim mesmo, estou a mudar, não sei se para melhor, talvez até não, mas estou a mudar.
Acusaram-me em tempos de ser frio, mesmo cru e duro. E fui, tantas vezes o fui… Mas evolui e espero já não o ser tanto. Quantas vezes não me acusaram de usar a minha cultura geral como marca de uma suposta superioridade? Lamento a brutalidade, mas eu de facto sei mesmo muito pouco e há tanta gente neste mundo que sabe tão mais do que eu, que mais do que superioridade se tal acontecesse, o que revelaria era estupidez pura e simples.
Sinto-me algo em baixo, é verdade, bastante assustado quanto ao que aí vem. Sempre achei que na vida havia duas opções, a de refugiarmo-nos num qualquer mundo ilusório ou “pegar o touro pelos cornos”. Sempre preferi a segunda via o que me tem granjeado algumas inimizades mas prefiro ser “blunt” a ser desonesto.
Pergunto-me, no dia em que a minha existência terminar, qual o balanço que farão dela?
É uma pergunta estranha bem o sei, sobretudo atendendo à minha idade mas por vezes pergunto-me como é que é possível medir a existência.
Haverá alguém mais importante do que outro? Creio que temos a exacta importância que nos dão as pessoas que para nós contam.
Ser-se importante na vida de alguém é saber que essa pessoa sabe que nos pode pedir o que quiser que nós o faremos sem questionar (demasiado).
Subitamente comecei a pensar na minha vida, a fazer um balanço dela, e cheguei a algumas “respostas” curiosas.
Não sou um às na minha universidade nem o pretendia ser (sinto alguma mágoa por não ser melhor), já trabalho naquilo que mais tarde vou mesmo ter que trabalhar e já recebi convites para algumas empresas.
Mas, para mim, o mais curioso de tudo isto foi, no espaço de um ano ter percebido quem eram os meus amigos, ter formado alguns novos pelos quais poria as mãos no fogo e aperceber-me que, mais importante que a carreira, que os estudos, que todo o dinheiro do mundo somado, são as pessoas que nos apoiam e estão sempre lá a verdadeira riqueza com que contamos.

6 Comments:

Blogger Ginja said...

É isso ...

Não estás melhor ? Pensei que aquela história da febre fosse só susto. O Rogério também andou meio engripado...às tantas a culpa é minha, de andar sempre a encher o ar de micróbios, depois ando aí a pegar coisas más a toda a gente . Eu ainda estou com voz de bagaço, e cheia de intrusos nas vias respiratórias !!!

September 14, 2005 11:16 AM  
Blogger Salta Pocinhas said...

Luís, li atentamente este teu desabafo. Gostei do que li e sei que é sentido.
E acertaste na 'mouche' quando te referiste ao verdadeiro tesouro que são os amigos. Os verdadeiros, claro, porque os de ocasião... nada mais que isso o são.
O difícil é reconhecer nas pessoas a verdadeira e desinteressada amizade.
Espero que o consigas, sempre! E que esses nunca te faltem.
Um grande beijinho e as melhoras :)

September 14, 2005 12:18 PM  
Blogger João Magriço said...

Caro Luís, há uma frase de S. Josemaria Escrivá, a 1ª do Caminho (um livro de pensamentos), que diz: "Sê útil, deixa rasto!" Neste mundo o que vale a pena são as marcas que deixamos nos outros. E aquelas que mais marcamos são sempre os que estão mais próximos. Os amigos.
Já alguma vez imaginaste o teu funeral? eu já, e sei q é estranho visto ser tão novo. Mas imaginar as pessoas que lá estariam, aquelas que eu marquei com a minha vida porque resolvi fazer uma coisa esquecendo-me de mim ou porque simplesmente fui "eu" e não um outro qlq, influenciado pelo que me rodeia. Sabes o que é mais giro, apesar de saber de que se morresse hj, muita gente ficaria triste de me ver partir, eu ficaria feliz se na minha passagem pelo mundo, apenas uma pessoa sentisse que eu a mudei, a ajudei a ser melhor. E é assim que eu e tu vivemos. Vemos cada um como um indivíduo, não conseguimos ver o grupo, mas sim cada pessoa.
Amamos com todo o coração e sofremos com isso. Mas não conseguimos ser de outra maneira. Mas tb acho q já aprendes-te a ser humilde de vez em qd e a pedir ajuda. Ou então, sou eu q como já te conheço bem, já sei qd é q precisas dela. De qlq modo, às vezes um ombro amigo com quem desabafar, mesmo q não seja "aquele" ombro pode ser uma coisa excelente.
Um grande abraço

September 14, 2005 12:44 PM  
Blogger Maríita said...

Estranho seria se eu não comentasse este teu post. Creio que sou das pessoas que mais tem sofrido ao longo da vida com aqueles que vivem uma vida inteira cheia de medo, medo de decidir ou de não decidir. Às vezes custa tanto decidir, sabes porquê? Porque nunca se sabe qual é o resultado, as coisas podem resultar ou não. Podemos alterar a nossa vida para melhor ou sem querer atirá-la para o fundo de um poço, mas e se não aproveitarmos as oportunidades que a vida nos dá? Deixamos passar tudo ao lado, aceitamos tudo o que nos imponham ou que esteja disponível no momento. Não existem vidas prontas a viver, cada um trilha o seu caminho e com sorte, fará algumas opções erradas, que ajudam a pensar, e tomará as seguintes decisões acertadas...

Numa coisa somos muito sortudos, tanto tu como eu, temos poucos amigos, mas de excelente cepa. Dois comentários, dois amigos que mais quilometro menos quilometro, mais chamada, menos chamada estão sempre disponíveis. Quantas pessoas se podem gabar do mesmo?

Compotinha, se eu tivesse que ir ao teu funeral (o que é altamente improvável porque eu sou uma velhota em comparação contigo), podes crer que iria com muita pena, com a certeza que o mundo tinha perdido uma pessoa superior e com a certeza que (apesar de eu ser a pendura na vossa amizade) a minha vida ficaria mais pobre. Por isso, quando pensares nessas coisas, lembra-te que tocas a vida de muita gente, provavelmente algumas nem te dás conta.

Salta pocinhas, pensavas que te vias livre de moi???? Ni hablar! É difícil que alguém tenha uma amizade tão engraçada como a que eu tenho contigo. Passado todos estes anos, acho que a cada dia que passa, não é que goste mais de ti porque isso é impossível, mas respeito-te cada vez mais pelo ser humano maravilhoso que és.

Beijinhos para os três!

September 14, 2005 2:11 PM  
Anonymous Anonymous said...

sabes.. é mais fácil abraçar uma pessoa do que uma nuvem de fumo, se é que me entendes ;)

September 15, 2005 10:56 AM  
Blogger smile said...

Força! ;)

September 15, 2005 3:54 PM  

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