Friday, September 30, 2005

Sobre a solidão II

Há alturas em que aquilo que mais desejamos é estar sós. Poder pensar sem a interferência de outros.
Há também alturas em que nos impomos uma certa solidão para nos prepararmos para algo, para nos reencontrarmos a nós próprios e depois.
Muitas vezes aquela solidão que começou por ser “terapêutica” torna-se num vício, começamos a ser incapazes de sair dela porque temos medo de nos magoar.
“Mais vale só que mal acompanhado” diz a nossa cultura popular.
Quantos de nós não nos isolamos para poder “recuperar” a identidade perdida numa relação amorosa que correu mal e que em vez de viver com o outro se passou a viver para o outro?
A solidão e o isolamento podem ser verdadeiros bálsamos porque quando conseguimos “limpar os esqueletos do armário” voltamos a sentirmo-nos capazes de nos aguentar nos nossos próprios pés.
Recuperar a nossa auto-estima, perceber que temos algo de especial é essencial para podermos avançar e viver plenamente.
O nosso tempo tem no entanto algumas contradições deliciosas, queremos tempo para pensar mas a sociedade está toda feita para o momento: “Compre já…”, telemóveis sempre a tocar, mesenger, emails…
A enorme velocidade que a vida corrente tem está a obrigar-nos a todos a acelerar as escolhas, a impor decisões…
Ser capaz de, no meio de um mundo em que no espaço de segundos se está em contacto com qualquer ponto do globo, nos isolarmos é algo que se transforma quase numa arte e até já existem cursos de relaxação e de retiro.
Mas há dois tipos de solidão, aquela que o ermita pratica, isolado de todo o mundo e aquela que muitos de nós já experimentámos que é a de estar no meio de uma multidão e no entanto sentirmo-nos sós, incompletos, insatisfeitos, com pensamentos inacabados, resoluções pessoais adiadas em que entramos na fase autómato executando as tarefas rotineiras maquinalmente.
Às vezes acontece que no meio desta solidão encontramos alguém que inesperadamente nos faz querer romper a solidão.
Alguém que sem nos pedir e apenas dando, nos faz pensar em tudo o que tínhamos adiado e acreditar que é possível mudar, que afinal somos de facto singulares.

2 Comments:

Blogger João Magriço said...

Duas coisas:
1º-É muita chato qd essa pessoa nos levanta as dúvidas para depois nos mandar para a solidão outra vez. Mas apesar do sofrimento, e do gosto que tenha de estar sozinho, não trocava aqueles momentos em que não me senti sozinho por nada.
2º-Telemóvel, msn, e-mails são o 3º tipo de solidão de que não falaste. E uma bem mais complicada neste mundo em que passamos a correr. É a solidão fisíca que como dizia a andorinha em comentário ao último post, faz falta só sentirmos que alguém está presente. E não tens ideia do que é sentir uma casa em que cresceste com 9 irmãos vazia...

September 30, 2005 10:58 PM  
Blogger Salta Pocinhas said...

Haveria tanto para dizer, para discutir, mas o tempo escasseia... Caramba! Nem falar com os amigos consigo. Lá consegui trocar duas ou três palavritas com atua irmã, à socapa e com receio de 'levar uma descasca' do formador.
Passei, portanto, para te deixar um beijinho muito grande e com muito carinho

October 01, 2005 5:40 PM  

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