Sunday, April 08, 2007

Era uma vez…

Era uma vez uma estrela que tinha medo do escuro.

Era uma estrelinha pequenina que tinha medo do escuro, o Espaço assustava-a e era gozada pelas outras estrelas.

As outras estrelas tentavam em vão explicar-lhe que era à noite, no escuro que as estrelas brilhavam e iluminavam o Espaço mas a estrelinha tinha medo, medo da imensidão, do escuro, da sensação de solidão…

Recusava-se a brilhar e tentava fugir assim que o Sol se punha. Não podendo fugir, ficava ali, assustada de olhos fechados, a tremer e a desejar que a noite passasse depressa.

Por mais que as outras estrelas a tentassem ajudar ela recusava-se a acreditar que podia brilhar, mesmo vendo as outras brilhar e povoarem o Espaço.

Um dia a estrelinha teve uma surpresa, um menino na Terra escolheu-a como a sua estrela-guia.

Muito assustada com isto a estrela perguntou o que era uma estrela-guia e as outras estrelas lá lhe explicaram.

“Uma estrela-guia é uma estrela que guia alguém com o seu brilho, é uma referência para alguém” – disseram-lhe as outras estrelas muito admiradas que alguém escolhesse aquela estrela pequenina e que quase não brilhava devido ao medo que tinha.

A estrela sentiu-se muito aflita por alguém confiar nela.

O Universo sentiu que a estrela estava ainda mais aflita por ter sido escolhida por um menino e falou com ela:
- “Hoje durante toda a noite estás liberta, podes mover-te e ir ao encontro da menino que te escolheu para saberes porquê que foste escolhida!”

A estrela ficou apreensiva, podia mover-se e aquilo que mais queria era fugir.

A noite caiu e como habitualmente as outras estrelas começaram logo a brilhar e a mostrar-se e a estrela pequenina a encolher-se brilhando muito pouco, cheia de medo do escuro.

A medo começou a mexer-se e a andar em direcção à casa do menino que a escolhera.

Avançava a medo, gozada pelas outras estrelas que se riam do medo dela e da escolha tão pouco prudente que o menino fizera. Milhões de estrelas e escolheu logo a que brilhava menos e que tinha medo do escuro…

A estrela pequenina lá chegou à janela do quarto do menino e a medo tocou com as suas pontas na janela.

O menino saltou da cama com um enorme sorriso.
- “Sabia que virias ter comigo!”

A estrela espantada respondeu:
- “Sabias?”

O menino explicou que escolhera a estrela porque era como ele, pequena e que portanto podiam crescer juntos.

A estrela muito espantada disse-lhe que não o podia guiar porque tinha medo do escuro e não conseguia brilhar.

O menino não hesitou um instante e voltou a dizer que a escolhia a ela e que lhe ia mostrar uma coisa.

A estrela muito admirada perguntou o que era. O menino pediu-lhe que ela fechasse os olhos e que só abrisse quando ele dissesse.

- “Já podes.”

A estrela abriu os olhos e recuou, era uma luz fortíssima, estava a magoar-lhe os olhos.

- “O que é isso, está-me a incomodar…”

- “É o teu brilho reflectido no espelho. Tens um brilho muito intenso, és muito bonita e quando olho para o Espaço vejo sempre o teu brilho.”

- “Mas eu recuso-me a brilhar, tenho medo do escuro… Como é possível?”

- “Não sei… Mas brilhas muito e eu gosto de ti!”

Ao ouvir isto a estrela sentiu-se pela primeira vez cheia de coragem, sem medo do escuro e sem medo de brilhar.

- “Serei então a tua estrela guia!”

- “Óptimo!”

A estrela afastou-se e retomou o seu lugar no Espaço e o Universo sentiu logo a mudança.

Com o cair da noite seguinte e as outras estrelas começaram logo a gozar com a estrela pequenina mas desta vez ela ignorou-as, não fechou os olhos e viu o menino muito pequenino, na Terra a olhar para ela.

Afastou todo o medo e deixou-se brilhar! O brilho era tanto que as outras estrelas protestavam, estavam a ser ofuscadas…

E assim, o menino foi crescendo e todas as noites continua a olhar pela janela para a sua estrela-guia e ela, todas as noites, mal o Sol se põe abre-se muito e brilha, radiosa.

A estrela pequenina descobriu que ter quem acreditava nela, um amigo, lhe fez perder o medo do escuro, do espaço e da solidão.

Ela ilumina-o mas sabe que só tem luz porque ele acredita nela.

4 Comments:

Blogger Maríita said...

És um docinho!

Beijinhos

April 09, 2007 11:09 PM  
Blogger João Magriço said...

E o q acontece quando a estrela deixa de acreditar no menino?

April 12, 2007 10:24 PM  
Blogger Luis said...

Cara Compota,

Pela conclusão da história ele perde quem o guie mas ela acabará por perder o brilho.

Se pensarmos menos metaforicamente - é algo que dói e muito.

Há que dar tempo ao tempo - a luz extingue-se mas pode ser que o que ocultou com o seu brilho se revele.

Um forte abraço

April 13, 2007 12:08 AM  
Blogger CaCo said...

Oh complicadinho... estou comovida. Que história tão bonita!

É preciso ter auto-estima, de facto. Beijinho.

April 13, 2007 6:59 PM  

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