Descobri que afinal sou má pessoa. É verdade e não vale a pena escamotear.
Não entendo esta moda dos rapazes/homens fazerem promessas que no fundo não pretendem cumprir e arranjarem sempre mil e uma desculpas. É um desfile sem fim em que não faltam promessas de Lua e os mais arrojados prometem inclusivamente o Sol.
Associadas a estas promessas impossíveis de satisfazer estão tantas vezes as “pequenas desculpas” em que há sempre um qualquer factor aleatório que os impede de cumprir. Não é que não queiram, porque querem e muito mas… há aqueles acontecimentos malvados que impedem, é uma sucessão de infortúnios que fazem o Candide parecer um favorecido da Fortuna.
Claro está que todos estão no seu papel natural (será mesmo?) mas depois é ver a desolação causada, as lágrimas derramadas, as almas amputadas e o medo que causam nas raparigas/mulheres.
Não se julgue que são só os homens (ou seja nós) que fazem isto, algumas delas também o fazem.
A questão é que quanto mais vamos conhecendo pessoas, mais vamos vendo almas feridas, algumas em carne viva, outras que sangram em contínuo e outras mesmo com gangrenas que como não são amputadas infectam todo o resto. Encontramos pessoas perdidas, com medo por tudo aquilo que já passaram.
E eu sou malvado, sou um sem-coração total. Não ficaram relações com as pessoas do meu passado amoroso. Não ficaram porque ao contrário da tão apregoada bondade, há coisas que não se perdoam, que não se esquecem.
Todos dizemos que desejamos o bem daqueles que amamos ou amámos, mas depois, quando os vemos por aí com outr@ pendurad@ no braço sentimos sempre um certo friozinho e às vezes uma ponta de inveja.
Desfiz-me do friozinho, deitei fora a inveja e abri mão das pessoas porque viver numa farsa em que nunca podemos dizer exactamente o que pensamos, em que nunca podemos discutir abertamente, em que tudo é uma rocambolesca dança de passos dificílimos em que tentamos acima não pisar o risco não é para mim. Prefiro dizer as coisas e partir a loiça do que viver numa qualquer relação morna e requentada.
Voltando atrás, não entendo esta falta de cuidado em que todos parecemos viver, em que sexo vale mais do que ternura, em que vale tudo para não se sentir só, em que as relações são escapes para as ralações.
Aparentemente anda tudo atrás de segurança e por isso tem-se uma pessoa e mais duas ou três na manga “just in case” – não se pretende intimidade, pretende-se distracção e no fim acaba-se por magoar uma série de pessoas que como é natural ficam traumatizadas.
São esses traumas que ficam e que se propagam fazendo com que cada vez mais as pessoas sejam egoístas na relação, não se dispõem a ceder em nada porque afinal cederam antes e magoaram-se. Num absolutismo total de posições, aquilo que torna uma relação numa relação que são as cedências de parte a parte para se atingir um ideal comum de relação não tem lugar e portanto em vez disso temos cada vez mais estranhos que vivem um com o outro, que se suportam mas que no fundo nem se conhecem.
Sinceramente, o que é que pretendem com estas atitudes idiotas, ridículas e totalmente irresponsáveis de prometerem só por prometer, alheados dos sentimentos dos outros?
Vale a pena, em nome de uma suposta felicidade impor a infelicidade a outros?
Que se faz às pessoas cuja alma ficou amputada ou gravemente doente porque acreditou uma vez nos outros?
E eu sou maldoso, recuso-me a prometer, recuso-me a pensar num plano B, não aceito fins tácitos, amizades requentadas, relações elaboradas só porque sim. Quiseram sair, então vão-se lá embora mas não digam que amam, que sentem o que quer que seja, sejam frios e assumam as coisas.