Sunday, January 28, 2007

Sebastianismo?

Há alturas na nossa vida em que, para além de contar connosco próprios, contamos com os que nos são próximos e em particular os que partilham o nosso sangue.

Há alturas em que desejamos mais que tudo que aquelas pessoas cheguem junto de nós para nos ajudar a carregar os pesos, para serem mais uns ombros a partilhar a carga.

Agora, o que fazer quando teimam em não aparecer?

Será que “apenas” um laço de sangue assegura a “lealdade” e a disponibilidade para partilhar também os maus momentos?

Não assegura, ao que parece não é suficientemente forte para fazer com que todos se reúnam quando chamados.

Qual o direito de não aparecer quando chamados? Haverá justificação para a ausência?

E no entanto quem chama, mesmo já desesperadamente sabendo que não virá auxilio continua a acalentar a esperança de um inesperado regresso destas pessoas que supostamente lhe são próximas. Aparentemente todos temos uma boa dose de “sebastianismo” porque apesar de uma e outra e outra vez em que se espera e não vislumbra no horizonte sequer a silhueta de quem se espera, continuamos a aguardar que num qualquer dia de nevoeiro respondam à chamada, cerrando fileiras junto a nós e, num assomo de bravura se transcendam e com isso apaguem a imagem anterior.

Até quando estamos dispostos a esperar por esse apoio que, sem prometer (mas devendo) vir dá ténues sinais de querer (?) chegar mas nunca chega?

Quantas desculpas estamos dispostos a aceitar até dizermos basta?

A vivência das situações em que a ausência das presenças obrigatórias se torna a regra e não a excepção faz-me pensar se afinal e no fundo, não estaremos todos sós no mundo por muito que isso nos custe.

Não duvido que haja quem indefectivelmente esteja a nosso lado nos mais variados momentos mas quando há sempre uma ausência, não será mais prudente contar essa ausência como permanente e aceitar o facto do que de todas as vezes contar com a presença que nunca se verifica?

Como querem que se aceite a ausência e não se proteste? Como querem que se compreenda? Como querem que acreditemos que gostam de nós quando no momento em que pedimos não estão?

Será que da ausência não passamos à mais declarada (mesmo que não explicita) demissão?

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Complicadinho Luís, como eu te percebo! Às vezes é mais fácil termos apoio dos amigos do que da família. Uma justificação pode ser os amigos conhecerem-nos melhor que a família. Nunca te apeteceu demitires-te também? A mim já.

January 29, 2007 3:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

O problema do ser humano é a esperança. Temos sempre esperança que o outro mude, que o outro perceba que gostamos dele e que estamos à espera que nos acompanhe num momento dado.

Quando é que isto passa? Quando é que a esperança se desvanece? Quando o cansaço nos vence, quando nos fartamos de estar sós nos momentos mais duros e até quando nos apercebemos que sós é melhor que acompanhados por essa pessoa. Talvez quando a dor da solidão se sobrepõe à esperança.

Beijinhos

January 29, 2007 7:17 PM  

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