Friday, December 08, 2006

(suspiro)

I

Passo a minha mão pela tua cabeça,
recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
olhando-a como passa e vendo onde passou.

Quero tanto saber o que tu pensas.

II

O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta de recurvada, passa brandamente.

Quero saber aquilo que nem sabes.

III

Aquilo que nem sabes – como saberias
O que o pensar é antes de pensar-se?

A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa do arrepio prévio.
IV

Porque esperaste, ciente, a pele da minha mão?

“Apreender” – Jorge de Sena – 12/02/1954

No tempo que passa e que não se mede em segundos, minutos, horas ou dias, a intranquilidade tranquila...

0 Comments:

Post a Comment

<< Home