Thursday, March 02, 2006

Lonjuras

E do nada reaparecem pessoas que tinham “desaparecido” da minha vida há uns anos atrás. Ex-colegas meus de secundário e liceu que reapareceram. Alguns muito diferentes outros exactamente iguais.
É estranho olhar para algumas pessoas e ter a sensação de que o tempo não passou por elas. Há um tempo atrás diria que isso era mau, agora não sei.

Terça-feira de Carnaval, à noite tive uma conversa muito curiosa com um amigo meu.
Ele é da opinião que faz falta à nossa geração uma boa dose de valores e de objectivos.
Quanto à primeira parte, acho que cada qual tem os valores que entende serem os melhores para ser feliz.
Quanto a objectivos, aí sim, acho que andamos todos a viver no imediato, no instante, com dificuldade em projectar as coisas para o futuro.
É como se houvesse uma política imediatista que nos obrigasse a escolher já, a viver naquele momento. Não há tempo para pensar.
Não fujo à regra, também tenho telemóvel e Internet como a maior parte das pessoas, e também me sinto tentado a telefonar a algumas pessoas em determinadas alturas se bem que muita coisa que se passa na minha vida guarde para mim.
Mas onde está o tempo para ponderar? As pessoas mal se conhecem e entram logo em relações mais próximas – normalmente o resultado é darem de caras com o inesperado.
Isto de acharem que eu sou bom ouvinte tem muito que se lhe diga.
A quantidade de amigos e amigas que me falam das suas paixões que são sempre a última (até à próxima) é extraordinária.
Quantas vezes não oiço “Porque el@ parecia que ou prometia que ou…” E depois, quando pergunto se alguma vez tinham ido juntos ao cinema, ou jantaram sozinhos algumas vezes as respostas são desconcertantes – normalmente não, foi sempre dentro de um grupo de amigos e andavam sempre em bando.
E quando param para pensar percebem que passaram meses ao lado de um estranho – não sabem qual a cor favorita, qual o perfume que o outro usa, não imaginam que tipo de musica ouve, nunca discutiram uma única opinião em relação a política, ou um qualquer livro que tenham lido.
De certa forma é triste quando duas pessoas passam tempo juntas sem nunca de facto estarem. No fundo nem um nem outro naquela relação aprendeu alguma coisa com o outro. E aprendemos sempre, quer seja com os amigos, quer com os namorados, quer com os “inimigos” de estimação.
Mas o mais engraçado é a dificuldade em aceitar um simples convite para ir tomar um café – a esse propósito lembro-me do filme “Alguém tem que ceder” – “É um convite para um café, não um pedido de casamento…”
E esta história de um rapaz ser apenas amigo de uma rapariga?
Uiiii, não pode ser, tem que haver mais alguma coisa – no fundo um deles ama o outro mas não sabe ou qualquer outra baboseira assim.
Eu sei que sou complicado, mas caramba, não andamos todos a complicar as coisas?
Existe um tempo para tudo, mesmo para conhecer o outro, os seus gostos, aquilo que detesta, o que é que o surpreende, no fundo de irmos aprendendo – de o irmos aprendendo.
É a ideia do “encaixe perfeito”. A velha questão de se não haverá alguém que seja exactamente o nosso complementar.
Só que existe algo que as pessoas se esquecem, é que o ser humano por natureza vai evoluindo, vai aprendendo e por isso nunca há um complemento exacto porque quando é complemento já nós mudámos e procuramos outra coisa – é necessário tempo para nos adaptarmos e deixar o outro adaptar-se a nós.
Mas hoje anda tudo em grupo, em rede (fica melhor) e portanto as relações já não são a dois, são a n pessoas ao mesmo tempo, todas opinando sem estarem lá.
No meio da conversa que tive lembrei-me de algo que sei é controverso: as pessoas antigamente assumiam um compromisso e tinham a noção que depois tinham que aguentar quer gostassem quer não.
Depois lembrei-me de um tipo de relações: as do tipo penso rápido.
Acabaste com o teu namorado/namorada? Não faz mal, arranjamos já aqui um(a) outro(a) para te ajudar a esquecer.
HELLO!!! Está alguém aí? O nosso panorama afectivo não anda à velocidade da Internet ou do telemóvel. Tem o seu tempo próprio, com as suas particularidades.
Enfim, nisto lembro-me do Prof. Higgins em “My Fair Lady”…

1 Comments:

Blogger inBluesY said...

quem sou eu para comentar, nem sei se és ou não da minha geração ;) mas considero que: a minha (e a idade no meu perfil é verdadeira) e estes tempos, são tempos de muito egoismo, temos de ser felizes ! todos dizem, no fundo ninguém sabe o que isso é... ou se para ser feliz temos também de ser infelizes...
Hoje ninguém está para aturar o outro, e isso é triste.

depois e como dizia em tempos um grande amigo, todos nós (eu incluida) estamos extremamente sós, e a internet, sms, msn,o que fôr, possibilita e ajuda salvar a timidez, desenvolve tudo isto, para azar nosso! considero eu.

March 02, 2006 11:44 PM  

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