Friday, February 17, 2006

Politica

Parece que estamos perante tempos ainda mais conturbados. Ninguém teve dúvidas em classificar o 11 de Setembro como um ponto de viragem da história da Humanidade.
Aparecem agora grandes manifestações sobre as caricaturas do Profeta Maomé, de um lado temos parte do mundo árabe revoltado por considerarem que é um insulto às suas crenças, por outro lado temos os europeus reafirmando o direito de expressão.
A verdade é que estas caricaturas foram publicadas em Setembro do ano passado e só agora é que estão a causar problemas.
Seria uma ingenuidade separar esta aparente revolta da questão do Irão.

Antes de prosseguir, gostaria de lembrar que a Casa Branca foi avisada em Dezembro que tinha esticado a sua linha militar em demasia e que tinha problemas grandes em assegurar a manutenção de todo o efectivo militar que se encontra espalhado pelo globo e em particular Afeganistão e Iraque.

Curiosamente a contestação às caricaturas também só começou após a saída deste documento.

É óbvio que o direito de expressão é algo que deve ser mantido e estimado – no fundo é dele que usufruo neste espaço – mas a questão que se coloca é a da sua utilização com bom senso.

Mais do que uma causa, creio que as caricaturas são o pretexto.

O Irão – e não entendo como é que dizem que clandestinamente quando aparece na sua própria cadeia de televisão estatal – desenvolve um programa nuclear que aparentemente é altamente suspeito. Admitindo que isto é verdade, temos um potencial problema que será a existência de um estado islâmico com poderio atómico.
A questão é tanto mais complexa quanto envolve directamente o equilíbrio de forças numa região do globo de onde provem a maior parte do petróleo que os estados utilizam. É ainda importante relacionar estes factos com o caso Israelo-Palestiniano.
Até este momento Israel é a potência militar daquela região e creio mesmo que é uma potência atómica. A existência de um país islâmico com potência atómica iria colocar uma pressão muito maior sobre Israel e esta ideia já não é propriamente nova, no fundo era o que Saddam pretendia ao desenvolver nos anos 80/90 o seu programa nuclear sendo que nessa altura as instalações foram bombardeadas pela força aérea israelita.

Existirão motivos para que um país islâmico pretenda uma arma nuclear que não seja para a utilizar?

Creio que sim, e sei que isto chocará muitas pessoas, mas a verdade é que a partir do momento em que exista uma potência nuclear islâmica – mesmo que isso represente um perigo acrescido – haverá um reequilíbrio político.
Existem ainda vários outros factores importantes que, no meu entender, justificam esta tentativa do Irão. Quem se esquece dos prisioneiros de Guantanamo que não são considerados presos de guerra e por isso estão fora do alcance da convenção de Genebra? E onde estão as vozes no mundo ocidental a protestar violentamente contra esta arbitrariedade?
E os excessos cometidos pelas tropas americanas no Iraque? Desde os maus-tratos a prisioneiros a utilização de substâncias supostamente proibidas?
E que dizer do apoio constante dos E.U.A. a Israel?

É óbvio que é essencial que exista um estado judaico nem creio que tal deva ser colocado em causa. Mas será este o caminho?

Pondera-se uma acção armada contra o Irão. Pergunto-me com que meios e com que fim.

Estando o exercito americano desgastado, qual será a potência militar que comandará a acção militar?

Os ingleses não tem capacidade suficiente, os franceses não querem questões porque têm uma comunidade árabe muito grande e em vários aspectos “descontrolada”.
Os alemães desde a experiência da Segunda Guerra que não se envolvem em acções militares de grande envergadura e têm uma comunidade turca enorme no seu país.
Restam portanto a China, o Japão e a Rússia.
A China é um colosso mas não quer assumir para já nenhum papel preponderante na cena internacional, tem preocupações mais prementes com a ilha Formosa por exemplo. O Japão renunciou há muito tempo da sua capacidade militar, a Segunda Guerra deixou marcas profundas no país. Resta assim a Rússia que também não se quererá envolver creio eu.
A capacidade militar russa parece-me discutível uma vez que após o colapso do Pacto de Varsóvia, e a queda do comunismo todo o exército entrou em falência, para além disto, a Rússia tem problemas graves na região do Cáucaso muitos deles ligados a questões religiosas (extremismo islâmico).
Poderia no entanto ter interesse em intervir porque se conseguisse controlar o Irão controlaria uma das maiores reservas de petróleo do mundo.

Deixei de fora Israel que tem poderio militar suficiente é verdade porquê? Porque duvido que Israel conseguisse suster depois a crispação que geraria no mundo árabe em que mesmo os reis da Jordânia e da Arábia Saudita – moderados – estão presos por um fio e sabem que não se podem dar ao luxo de alinhar com o ocidente.

Resta saber quais os resultados possíveis através de uma via diplomática que terá provavelmente que pagar para evitar o avanço do programa nuclear Iraniano.
Gostaria apenas de lembrar que mais preocupante me parece a Coreia do Norte cujo programa nuclear prossegue e que nem mesmo a China que tem particular interesse nesse assunto, mesmo sendo também ela comunista parece capaz de o travar e mesmo tendo a China o maior exército a nível mundial, não arrisca uma tentativa militar.

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