Sunday, December 11, 2005

História parte 5

Que frase mais estúpida pensou ele para si mesmo.
Terminara apenas uma semana de conversas mas que o marcara profundamente.
O fim-de-semana demorou a passar mesmo com ele a refugiar-se no seu trabalho e nos seus cigarros.
Olhava para o telemóvel com impaciência, esperando que ela dissesse alguma coisa, estava permanentemente ligado à net para ver se ela aparecia.
Passou o fim-de-semana, passou a segunda-feira e foi só no fim de terça-feira que eles voltaram a falar.
Ele nunca lhe ligava para o telemóvel, esperava que ela o fizesse para que não houvesse problemas com o namorado, pelo que só lhe falava na net ou então trocavam sms.
Ela aparecera na net, a conversa começou tensa mas depois tornou-se leve, faziam planos para o futuro…
Nesta altura ela disse-lhe que estava cansada do outro e que queria mudar a vida dela. Ele sentiu um misto de alegria, medo, ansiedade e tristeza.
- “Gostas dele?”
- “Gosto, mas ele não fala comigo. Não se interessa pelas mesmas coisas que eu, faz um esforço por prestar atenção mas não se interessa. Nunca me pergunta como estou e acha que eu estarei sempre ali. Achas normal?”
- “Acho, habituou-se…”
- “Estás a defendê-lo? Tu não és nada assim!”
- “Pois não, mas já fui assim, isso custou-me a minha ex-namorada. A partir daí, aprendi a ser diferente, mas às vezes ainda faço os mesmos erros…”
Houve um longo período em que não trocaram mensagens e ele olhava desesperado para o ecrã do computador. A resposta veio e foi bastante dura e seca.
- “Estou cheia de dores de cabeça, vou-me deitar, dorme bem.”
Ela desligara sem lhe dar tempo para responder. Ele ficou magoado e sem perceber o que se passava. Decidiu afastar-se um tempo da Internet.
Na quinta-feira dessa semana foi convidado pelo amigo que tinha feito anos para um café. Ele foi, e não imaginava o que se ia passar…
Chegou ao café e lá estava ela. Cumprimentaram-se de forma fria e distante. Ele não se importou, percebeu que ela não queria levar suspeitas mas mesmo assim custou-lhe ser ignorado o tempo todo por ela. Foi conversando com o seu amigo e com mais umas quantas pessoas que estavam lá e que também tinham estado no jantar.

Nesse dia chegou a casa e ligou-se à net. Ela estava lá, à espera dele.
O msn começou logo a piscar.
- “Desculpa, fui muito fria contigo…”
- “Foste, mas não há mal.”
- “Gosto de ti”
Ele ficou paralisado, podia esperar muita coisa, mas aquilo não.
- “E o …”
- “Ou é ele ou és tu…”
- “Ainda gostas dele?”
- “+ ou -”
Ele inspirou fundo e sem hesitar escreveu:
“o que tu gostas em mim, é eu ser mais velho, o facto de eu te ouvir, saber frases de Jane Austen de cor, conhecer Thomas Mallory, ter lido Eco, Joice, Bronte, Yeats, Eça de Queirós…
gostas que eu goste de pintura, de termos estado nos mesmos sítios, e onde não estive e tu estiveste eu conheço…
sou a novidade do momento, mas a verdade é que tu não me conheces, só sabes aquilo que te digo via telemóvel ou via net, estivemos juntos duas vezes e sempre em ocasiões sociais, tu não sabes como sou na vida a dois
se acabares com o teu namorado, nós não vamos ficar logo juntos, vamos conhecer-nos mas só depois é que se passará alguma coisa, tens que ter tempo para que ele saia mesmo da tua vida
tu gostas dele, sentes-te só, mas a verdade é que não lhe dizes isso, apenas lhe dizes que estás cansada e que tens muito trabalho, ele não advinha, ele pelo que tu contas gosta de ti mas também está aflito com trabalho
a sério, gosto muito de ti, mas fala com ele, não faças como eu fiz e deites fora uma relação que já tem algum tempo e que segundo o que me contaste já passou por muito, fala com ele, arrisca, investe nele se achas que vale a pena
A resposta no ecrã demorou…
- “Ok”
Ela desligou a net.
Ele sentiu-se vazio e confuso.
Quereria mesmo que ela ficasse com o namorado? Não sabia, mas não queria que ela escolhesse precipitadamente. Ele não tinha o tempo que ela queria para ela, ele queria a companhia mas não queria à custa de uma possível infelicidade futura.
Foi-se deitar, estava exausto.
Quando se levantou, no dia seguinte, ligou o telemóvel e chegou uma mensagem dela. Ia passar o fim-de-semana fora com o namorado e ia ter uma conversa séria com ele.
Ele passou o fim-de-semana distraído com o trabalho, foi ao cinema sozinho, foi jogar futebol com os seus amigos de sempre dessas andanças.
Deu por si, nos balneários, a pensar que já tinha 34 anos e que estava só, ela tinha 26 e ele tinha-lhe dito para que reflectisse.
Não queria que ela acabasse como ele, só, com rotinas instaladas para não ter que pensar mas ao mesmo tempo sentia-se estúpido, estava a perder aquela oportunidade.
O fim-de-semana passou mais depressa do que ele esperaria. Na madrugada de domingo para segunda-feira ele estava na net a trabalhar quando ela apareceu no msn.
Ele esperou que ela lhe dissesse qualquer coisa, estava em pulgas mas não queria tomar a iniciativa, não queria que ela soubesse que ele estava assim tão interessado.
O tempo foi passando e ela não lhe dizia nada e ele estava a começar a desesperar até que surgiu o sinal de email recebido. Ao ver o sinal e ao ler que era ela que enviava, clicou imediatamente e sem hesitar clicou no icon dela do msn. Ela já não estava online.
O email apareceu no seu ecrã. O título era sugestivo – “Obrigado por aquilo que não se agradece”
Sentiu um baque e nem lhe apeteceu ler o restante email mas mesmo assim forçou-se a isso.
“Olá, como estás?
O fim-de-semana foi muito bom e muito importante. Tinhas razão, ele ama-me e eu a ele. Ele não tinha percebido que eu me sentia tão só e tão triste, achava que era o cansaço do trabalho.
Decidimos ficar juntos e tentar de novo, desta vez falando mais e sem tanto medo de dizermos o que pensamos.
Obrigado pelo teu conselho, és um homem como há poucos. Tenho um enorme carinho por ti. És uma pessoa muito especial.”

Ele sentiu um frio desprezo e uma dor que conhecia bem. Acendeu um cigarro, fumou um cigarro atrás do outro…
A partir daqui, sempre que a encontrava na net, ela dizia que estava cheia de pressa e que não podia falar. As conversas eram muito curtas e apenas para dizer olá e adeus.
Ele sabia que isto se podia passar, mas esperava que alguma amizade ficasse, afinal tinham partilhado muitas coisas nestas duas semanas.
Não ficara nada, tinha sido mais uma pessoa que tinha entrado para espreitar a sua vida mas que depois, se tinha ido embora.

13 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Hmmm muito bonita esta história mas, e relativamente a esta parte principalmente, é aquela coisa, a vida é cheia de oportunidades mas as pessoas tem de as agarrar com unhas e dentes...

December 11, 2005 2:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

Acho que tens graves problemas e estou a ser o mais sincera possivel. Caso contrário, terias escrito toda a ficçao que quisesses, mas a partir do teu imaginário e não a distorcer factos de modo a que "ele" seja o máximo, quando nem sequer era uma opção. Devias acrescentar a parte em que ela o bloqueou da net porque ele era um chato, e como achou comum e desinteressante "faz um trabalho sobre o Graal!", so porque mencionou lendas arturianas,etc. Porque não sou cruel, mas não suporto falsas modéstias, ou de ver alguém assumir-se como adulto quando obviamente ainda brinca ao "faz-de-conta". Resumindo, e para explicar a quem lê estas balelas em português, desculpa, fraco e presunçoso, és um rapazinho convencido que ler Eça de Queiroz faz dele um homem desejável. Bem como acho desnecessários os teus vaporosos comentários "sou tão boa pessoa só que ninguém percebe". Partindo do principio que então todo o resto do mundo deve ser genuinamente mau, e eu com ele, quero só acrescentar que és livre de escrever o que quiseres, claro, até porque escolho deixar de ler o blog, mas aconselho-te a manter a lucidez quando escreves, não vás tu, por acaso, começar a acreditar na tua própria ficção. O meu desagrado é apenas devido à falta de respeito e de equilibrio, face a tão desproporcional amostra de valores como queres fazer mostrar aos teus leitores. Deixo aqui o meu comentário final ao blog que não voltarei a ler. Tu, já que és tão boa pessoa, vais por certo compreender.

December 11, 2005 8:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

Fogo!!Um homem altruista,interessante e que ainda por cima lê Joice em vez de Joyce!!!Que espectaculo!!
(realmente,muita,muita,tvi)

December 11, 2005 9:37 PM  
Blogger DR said...

Cristina,
Não te conhecendo, longe de mim fazer qualquer juízo de valor sobre a tua pessoa, mas uma coisa tenho de te dizer, uma das conquistas de Abril é podermos ser livres de dizer o que pensamos, interpretar as nossas experiências à nossa maneira, divagar, pensar, escrever sem complexos e sem politicamente correctos...
Fico contente que o Luís partilhe as suas histórias, com maior ou menor grau de fantasia, com quem as quer ler. Quem não quer, tem bom remédio...

December 11, 2005 9:41 PM  
Anonymous Anonymous said...

Estou totalmente de acordo, não fossem essas liberdades à custa da vida de outrém. Quem conhece a verdadeira história acha esta uma falta de respeito. E tal como ele, tb eu posso dizer o que acho. Sim, tem bom remedio...

December 11, 2005 9:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

Abril proibiu a censura, mas se bem me lembro ainda todos nós vivemos segundo códigos sociais, ou não? Se calhar acabaram com a constituição e ainda ninguém me disse nada.... estranho...

December 11, 2005 9:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

Para quem não voltava ao blog, respondeste com uma brevidade incrível... (espero que te possa tratar por tu).
A verdadeira história é ficcionada pelo autor, por isso só ele é que a deve conhecer. Se achas que isto é uma espécie de "Contra-Informação" para ele se queixar do que (não) acontece, o melhor é ires directa ao assunto e pores os pontos nos iis.
De qualquer forma, não me pareça que ele se importe muito pq ainda não respondeu a nenhum comentário até agora feito.

December 11, 2005 10:06 PM  
Anonymous Anonymous said...

Comentaram comigo o comentário, por isso vim aqui. Não espero que as pessoas que gostam do Luis não o defendam, como é obvio; mas também devem compreender que há coisas que não se fazem. Se ponho ou não os pontos nos iis, não é num blog, como não o foi. Ainda mais porque sabe o que fez, e se escrevo codificado é porque ninguém tem nada a ver com isso, ainda que o queira defender. Se não comenta, para mim sim, é indiferente. Até porque duvido que possa comentar. E agora sim, fiquem bem.

December 11, 2005 10:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

Hmmm interessante, agora ao ler estes posts e consequentemente estes comments lembrei de situações do tempo em que andava no secundário e em que toda a conversa de escada era motivo de intriga! Ai Ai...
Analisando os factos, supostamente as unicas pessoas que saberiam o que se passou eram "ele" e "ela"... logo se "ele" escrever sobre a maneira como vê as coisas, na minha opinião, não tem mal nenhum pois não é a ler um weblog que uma pessoa vai conhecer outra... (enganam-se os que pensavam o contrario). Quem se sente ofendido pode sempre escrever um blog com as suas versões!
Por outro lado, as historias que aparecem neste blog não têm pés nem cabeça, embora sejam agradaveis de ler...
No limite aconselho uma visita ao psiquiatra de parte a parte... :)
"Cada um puxa a brasa a sua sardinha..."

December 11, 2005 10:45 PM  
Blogger João Magriço said...

Independentemente da qualidade da história, que se calhar melhores críticos do que nós diriam que tem muitas falhas e pode ser melhorada, uma história é sempre escrita do autor para o autor. A ele não lhe interessa quem a lê e se gosta ou não. Esta história é como um poema ou um quadro, só tem verdadeiro significado para quem o criou. Os outros... não interessam.

Tirando a parte da semelhança com a realidade, concordo com a Cristina, ele podia ser mais humano. Mas quem sou eu... Gostei.

Um abraço

December 12, 2005 2:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olha, Cristina estou contigo. O rapazito é um tarado depravado. Deve de passar os dias na internet a procura de raparigas no hi5, pondo no seu perfil que lê eça de queiros, joyce... Caro amigo, o que voce precisa, é de medicamentos e não balelas.

December 13, 2005 12:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

LOLOLOL
Já há muito tempo que não me ria tanto!!!
Só tenho uma dúvida... o que é que este gajo vos fez para tamanha enxurrada de lavagem de roupa suja? Ou será que ele é que é a vítima e vocês as mal amadas? Hmmm... Gosto especialmente do espírito infanto-juvenil de chamarem as amiguinhas e de se esconderem por detrás de um comentário anónimo... Gosto tanto que um dia destes vou criar um blog, só para ver o rebuliço das meninas! Até porque a facilidade com que distorcem o que lêem é delirante...
Até lá, um santo Natal!

December 14, 2005 2:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

Já não me divertia tanto à muito tempo! É engraçado....as pessoas podem escrever o que lhe vem à cabeça, ficção ou não o leitor nunca saberá. É triste que algumas pessoas quando ouvem uma história enfiem a carapuça...coitadas. Um pouco convencidas...senão vejamos, quando compramos um livro de ficção não nos vamos queixar ao autor de este estar a falar da nossa vida. O mundo é tão grande que é um "pouco" de presunção pensar que alguém escreveu sobre nós ou que não possa haver alguém que tenha passado por uma experiência semelhante. Tenho dito...

December 17, 2005 12:57 AM  

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