Wednesday, October 26, 2005

Porto de abrigo

Gostava de estar no Guincho em dia de grande tempestade, sentado na praia e ver a fúria do mar, as ondas a embaterem com toda a sua força nas rochas, num estranho bailado de fúria e de amor.
Em tantas alturas o meu pensamento oscila entre uma acalmia e uma enorme tempestade, em que os cabos de qualquer navio se retesam. Sinto falta daquela doce ondulação que não é violenta mas que é apenas o doce embalo que o mar transmite.
Faz-me falta alguma tranquilidade que parece teimar em não aparecer em dias que são pontuados por constantes telefonemas sempre com coisas que são tão urgentes que são para anteontem. Não há um dia que passe em que não hajam novidades, em que não aconteça algo de bizarro e inesperado.
É verdade que a viagem (pessoal) que empreendi é longa e terá que atravessar grandes tempestades mas começo a sentir falta de um porto de abrigo.
Mais do que sair deste lugar para outro qualquer, porque assim era apenas uma translação mas não uma resolução, queria encontrar um ponto de equilíbrio maior e que parece ter desaparecido.
Os planos iniciais traçados por mim no início deste ano (lectivo) não se estão a verificar nem parece sequer que se venham a verificar num futuro próximo.
É estranho para mim que sempre tive tendência para planear tudo ao mais ínfimo pormenor ter tudo tão disperso, tão difuso e sim, tão confuso.
Sinto-me como que perdido em mim mesmo, a arrumar prateleiras com pensamentos que não interessam, a tentar redefinir estratégias que já estão mais do que gastas porque são as impostas pelas circunstâncias exteriores. Não vejo alternativas, se calhar é porque não existem mesmo.
Sei que não sou o único a atravessar um mau bocado e que, comparativamente todos os nossos problemas são sempre pequenos. Não me queixo, não me choro, não peço que tenham pena de mim, não sou fã da política do coitadinho.
Pergunto-me sempre que oiço outros falarem sobre si mesmos com a convicção de que fizeram o melhor, que são capazes deste mundo e do outro, que são tão rápidos na critica fácil, desconhecendo a realidade de cada um de nós – seriam capazes de fazer melhor?
Sei que também sou muitas vezes precipitado no juízo que faço dos outros, todos somos muito hábeis a julgar e tendencialmente fazemo-lo, não sou excepção. Erro muitas vezes não duvido.

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