Friday, August 11, 2006

Olhando o horizonte

Daqui a dias faço anos, completo o quarto de século, sobre isso e sobre o balanço que faço dos 25 anos que passaram escrevo depois.

Dentro de horas saio daqui por uns dias, espero que seja uma mudança agradável. Quero outra visão da vida.

Não sei explicar mas desde os abutres até ao café que tomei com uma das pessoas que mais gosto que há algo em mim que está a mudar, que se está a mexer, uma saudade tristonha, uma nostalgia estranha.

É como se muito daquilo que eu fingia acreditar teimasse em ser desmentido e tivesse sentido que o movimento que as minhas pernas há algum tempo queriam fazer não pudesse mais ser adiado.

É enterrar muita coisa, é dizer adeus a muitas pessoas de forma silenciosa e partir.

O perceber que afinal umas coisas não são o que parecem, outras não são o que quero faz-me confusão e como não sou de me calar mas este não é o momento de falar saio, de mansinho e sem fazer barulho.

Tenho a estranha sensação de conhecer uma série de pessoas vazias. Pessoas que estão há espera de algo que as preencha.

Pessoas que dormem umas com as outras porque isso lhes dá a sensação de segurança embora não se amem, pessoas que ficam perdidas à espera sabe lá Deus do quê.

Costuma-se dizer que as pessoas são mais intolerantes com aquilo que as assusta ou com os vícios que já tiveram, neste momento estou muito intolerante em relação às indecisões, aos falsos consensos, às mentiras encapotadas em doces beijos, em rendas, em promessas de amor que não passam de palavras vãs.

Estou intolerante às tentativas de escamotear a sensação de insegurança porque ela existe, todos a temos, e não percebo (ou será que percebo bem de mais?) esta mania de sensações de segurança e mais sensações de segurança mesmo que sejam falsas e que sirvam apenas para não pensar mais no assunto.

Faz falta sentir o frio que nos corta e nos atravessa, dos riscos que se correm, das “jogadas” que temos que fazer, dos momentos em que temos que estar sós e arriscar para depois triunfar.



"Napoleão atravessando os Alpes" - Paul Delaroche - 1850 - exposto no Louvre



Prefiro pessoas que admitem que estão a passar por momentos difíceis do que irritantes que pintam a vida deles como maravilhoso quadro de belezas raras.
Na vida não há só coisas boas ou coisas más, existem ambas e infelizmente temos que consumir o sortido que a célebre caixa de chocolates traz.
Confesso que me assusta o quanto as pessoas estão dispostas a arriscar para terem falsas sensações de segurança. Porquê que digo arriscar?
Porque deitarmo-nos com quem não amamos, vivermos com quem suportamos apenas e só porque nos fazem sentir seguros implica que se está a vender parte da integridade ou seja parte de si. Está-se a arriscar o que de mais precioso existe, a verticalidade. Está-se a viver num engano.

Quem sou eu para dar lições de moral? Ninguém. Mas isto tem-me feito confusão.

2 Comments:

Blogger Retalhos said...

Na certeza da dúvida
Na insegurança da certeza
Em busca da certa segurança
Simplesmente na procura,
Longe do incessante conformismo.

Luis,
Gostei muito da sinceridade e da frontalidade, convenientemente pinceladas pela apreensão.

August 14, 2006 1:07 AM  
Blogger mary said...

Somos finalmente adultos quando percebemos que na vida não é tudo preto e branco, mas há cinzentos. Muitos cinzentos, pessoas cinzentas, e outras disfarçadas de cores cintilantes, mas tão vazias por dentro.
Pessoas à espera que as preencham, como dizes. Mas a maior descoberta da idade adulta é de que a felicidade só pode vir de dentro de nós e nunca dos outros.
É uma desilusão descobrir que afinal há tantos cinzentos, mas temos liberdade para escolher! Escolhas felizes para ti!

August 15, 2006 12:20 AM  

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