Friday, October 21, 2005

Pontes

Ponte D. Luís no Porto

Conhecidas como "obras de arte" são das construções mais belas que podem existir.

E estabelecer pontes entre as pessoas? Será que isso também não é obra relevante? Estabelecer ligações entre pensamentos diferentes, culturas dispares, quadrantes politicos, situações sociais diferentes...

Alguns dirão - tanto acordo implica que se planeia tudo e portanto se retira sabor à vida, pode ser mas há algo que é imutável que é a aspiração do homem pelo SABER.

Qualquer que seja o nosso ponto de vista de uma dada situação, ele é sempre incompleto, há tanta coisa que nos escapa. É dificil reconhecer que errámos e que continuaremos a errar mas que muito do nosso conhecimento passa pela tentativa e erro.

E nos amores? Serão precisas pontes? Há quem defenda que o amor é livre, vivo, incontrolável, é verdade, se não o fosse não era amor, não se pode "construir" um sentimento tão forte e nobre mas a verdade é que como em tudo na vida, depende da nossa capacidade de o alimentar, de o espicaçar através de pequenas surpresas, de nos transcendermos, de corrermos o risco e às vezes saltarmos no escuro.

Não temos todos medo desse fabuloso sentimento que nos domina e que parece que nos esmaga? E se temos medo porque não o reconhecer abertamente?

Perdemos tanto tempo a esconder, a escamotear a verdade - inventamos mil e uma desculpas para não dizermos que temos medo de amar.

Medo, sim medo, de um sentimento que poder ser esmagador, que pode fazer-nos perder a cabeça, que pode até fazer com que nos apaguemos para podermos ser mais compativeis com quem gostamos.

Será isto mau? Não creio que possamos deixar que nos apaguemos para que outro seja feliz, ou somos os dois ou então não é nada, mas qual é o mal de dizer a alguém: "tu és especial - tenho medo..."

Medo, palavra que trespassa este texto - porquê?

Porque é preciso ser-se suficientemente corasojo e audaz para, mesmo depois das desilusões que o amor nos causa, termos a disponibilidade de nos continuarmos a apaixonar por alguém.

Todos temos medo, mas que tal sermos capazes de arriscar algo mais? Para quê perder tempo a fugir e a tentar que tudo saia sempre bem? Às vezes não sai, há alturas em que mesmo gostando do outro temos o direito de nos irritarmos, de darmos um murro na mesa, de berrar, de deixar toda a fúria que anda de mão dada com a paixão manifestar-se.

O amor não é nem pode ser como que um prato que se aquece em banho maria com um estilo muito Beatriz Costa do "Ai chega chega chega a minha agulha, afasta afasta afasta o meu dedal"...

Tenhamos a coragem de nos abrirmos e deixar que as coisas aconteçam, sem pressões idiotas, sem intrepretações mesquinhas, sem vivermos num sistemático consilio de amigos e amigas a quem pedimos que opinem da nossa vida.

As decisões são nossas, devem ser nossas, podemos ouvir o mundo inteiro mas a decisão é sempre nossa. Não acredito no descernimento dos amigos? Acredito mas há coisas que temos que ser nós a decidir, a saber se queremos correr o risco.

Risco? Sim, o risco que é sempre duplo: aceitamos o outro e podemos desiludir-nos amargamente, acabar sós, a chorar, com uma profunda dor de tristeza e de pesar porque não só perdemos aquele amor como é altamente provável, comprometemos as hipóteses de uma amizade que existia e que formou a base de uma relação. Mas não é o único risco, há aquele risco de tornarmos a relação tão cerebral e levarmos tanto tempo para dizer o que quer que seja que quando olharmos a outra pessoa já não está lá e nessa altura perdemos uma oportunidade que nunca saberemos se era AQUELA.

Para quê fecharmo-nos sobre nós mesmos não nos dando a ninguém com medo de nos magoarmos?

Haverá um Amor único? Acho que nos apaixonamos sempre de formas diferentes e que nos deixamos conquistar sempre de forma diferente.

Estabelecer Pontes, ligações, ser capaz de reconhecer que temos medo, que corremos um enorme risco (duplo) e que mesmo assim a vida continua, mesmo quando tudo parece não sair.

Não que o Amor seja um remédio, um benuron que nos alivia a febrilidade da vida mas sim, que é o motor efervescente que nos faz avançar, que nos faz superarmo-nos, em que não há espaço para coisas mesquinhas.

Se quiserem, Amar alguém, para mim, é ter a coragem de deixar que alguém se torne importante na nossa vida com todos os riscos associados.

Sejamos galhardos e tentemos ligar-nos às pessoas de forma desinteressada, como as pontes se entregam nos seus encostos.

Se quiserem, uma Ponte tem algo de profundamente ligado com o Amor, é que ela completa e liga partes desconexas unindo-as de forma indelével.

E isso é uma obra de arte...


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