Sunday, August 07, 2005

Elefantes Brancos

O Governo quando anunciou o seu plano estratégico de investimentos fez de dois projectos bandeiras. São eles o TGV e o aeroporto da OTA.
Nestes dias houve um movimento de blogues que requeriam ao Ministério da Economia na pessoa do Ministro Manuel Pinho que divulgasse os relatórios que serviram de base à decisão.
Pessoalmente considero irrelevante a consulta dos relatórios uma vez que neles qualquer um lê aquilo que quer. No caso destes dois empreendimentos, grande parte da justificação passa pela estimativa de fluxos de passageiros e cargas e estes têm por base modelos de previsão que são objecto de grande polémica entre os especialistas.
Associadas às previsões de fluxos estão associadas as previsões financeiras que deverão contemplar vários cenários, genericamente o cenário pessimista, o mais provável e o optimista.
Ora, se as previsões são razoavelmente falíveis e se há, a nível nacional, pessoas com créditos internacionais, que duvidam das previsões de fluxos apresentadas, parece-me que quem ler os relatórios se não souber como são calculados os fluxos e quais as subtilezas das previsões, entenderá daquele relatório o que quiser entender ou pior, o que quiserem que nós entendamos.
Sairá daquela leitura apenas os números ligados ao resultado financeiro perdendo-se a visão da base onde assentam e se esta é credível ou não.
Analisar projectos desta envergadura é tarefa para um grupo de pessoas e não apenas uma e nesta controvérsia, creio que continuamos todos a assobiar para o lado. Há um custo de oportunidade que é essencial quantificar, há uma discussão de prioridades que é necessária existir mas com base em exemplos concretos e com dados credíveis. Estamos todos a entrar no “diz que disse” em que todos falam mas ninguém sabe do quê exactamente.
Tenho ouvido um argumento que me confrange pela incoerência que revela: “Espanha também fez…” – notar bem: nós não somos Espanha nem temos neste momento uma economia florescente como a deles.
Para quem tiver curiosidade aconselho a espreitar este site: http://www.schiphol.nl/ – descreve a política associada à gestão deste aeroporto que é um exemplo da boa integração de transportes e de uma interface que se conseguiu tornar um nó principal da rede criando mais valias e valor acrescentado.
Quanto ao TGV, continuo a defender que é um projecto europeu do qual não sei se será benéfico para Portugal não participar mas também não sei se nesta altura, mesmo com as comparticipações da União Europeia não tem um custo social incomportável.
Bem sei que neste momento estou exactamente a fazer aquilo contra o qual me insurgi linhas acima que é falar do desconhecido mas permitam-me mais um pequeno passo – onde estão os canais de rega do projecto da barragem de Alqueva?
Era a parte mais onerosa e mais extensa da obra que sem que nos tivesse sido explicada foi retirada como que por magia da fase de execução ou melhor, continua à espera de melhores dias. Eram salvo erro 10000 Km de canais de rega que permitiriam abastecer várias plantações impedindo que, havendo falta de chuva, estas morressem causando prejuízos avultados. Não se fez porque era muito caro… Os espanhóis do lado de lá fizeram e agora compram a água da barragem para se protegerem da seca. Como o pensamento é diferente de um lado e do outro da fronteira…
Fala-se dos projectos mas ninguém se lembra de interrogar o Governo sobre isto?
Não se construí Foz Côa por causa das gravuras rupestres porque eram um enorme património, trariam turismo etc.. A barragem de Foz Côa iria permitir uma politica de transvazes que acautelaria as situações de seca extrema que vivemos. Optou-se mas sem explicar aos portugueses quais os riscos e não revelando o que se faz no estrangeiro. No Egipto fez-se a barragem de Assuão cujas águas iriam submergir templos considerados importantes – a decisão foi a de avançar com a barragem mas ao mesmo tempo “transplantar” os templos para uma zona segura.
Creio que mais do que forte investimento publico em projectos “emblemáticos” deve-se estudar o que existe, porque é que não funcionaram e corrigir o que for essencial. Quanto aos novos projectos, tem que haver discussão clara e com “cabeça tronco e membros” olhando para fora e ver o que é adaptável e o que é disparatado. É necessário um ministro que explique claramente como é que se vai fazer, com que fins, com que cautelas e o porquê da prioridade de uns projectos face a outros.
Não só ao Governo mas a todos os partidos compete explicar sem falácias ou tendências quais as vantagens e desvantagens e quais os tempos escolhidos.
Portugal não pode continuar a ser um sonho adiado, um império por cumprir, um país que adormeceu à espera de um Salvador.
Temos a obrigação de exigir mais e melhor mas também temos que saber exigir.

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