Friday, August 05, 2005

Um país em chamas

Foi mais um dia em que o país ardeu de Norte a Sul sem que houvesse nada que os bombeiros pudessem fazer.
Aldeias cercadas por chamas, casas ardidas, vidas de pessoas completamente desfeitas. Houve uma imagem que me marcou especialmente – uma senhora que chorava, porque a sua casa ardia, agarrada a uma imagem de Nossa Senhora de Fátima.
Não costumo escrever sobre estes assuntos porque são complexos e complicados de analisar e porque tenho uma visão muito pequena da real dimensão e complexidade deles mas hoje é mais forte que eu.
Há um ano atrás tínhamos os jornais a pedir a cabeça do Ministro da Administração Interna acusando o Comando do Serviço Nacional de Bombeiros de descoordenação e o Governo de não agir em conformidade. Este ano, mais uma vez a situação repete-se, há uma área ardida comparável à do ano anterior e não se ouve uma única critica. Porquê?
Creio que mais importante que a “guerrilha” politica em que os nossos partidos políticos são tão hábeis a questão se deve colocar porque parece evidente uma falta de gestão impressionante ou se existe, parece não surtir qualquer efeito porque ano após ano a história repete-se.
Em Portugal é tradição haver fogos florestais, sempre houve desde que Portugal existe. Os Bispos podem absolver alguns pecados que os padres comuns não podem, e em Portugal, desde a idade média que entre estes pecados está o atear de fogos – curioso não é?
Mas é chegada a altura de perceber quais as verdadeiras causas por detrás de estes desastres porque se o clima explica muito, outros há que parecem evidenciar mão criminosa e no entanto os resultados das investigações não parecem reverter em resultados visíveis, palpáveis.
As questões de organização das forças de bombeiros devem ser discutidas abertamente, reconhecendo que não há dinheiro para o ideal mas que com o que há talvez se possa fazer melhor. Como é possível que um país que tinha na floresta uma das suas maiores riquezas seja incapaz de a defender? A questão é que nunca encarámos a floresta como riqueza mas sim como inevitabilidade e ainda hoje olhamos para ela sem perceber todas as suas potencialidades que vão desde fornecimento da matéria prima madeira, ao lazer, passando pela importância ecológica que portanto se reflecte na saúde de todos nós.
Várias causas têm sido apontadas por diversos especialistas e várias possíveis soluções também mas a verdade é que “os cães ladram e a caravana passa”.
Não sendo um ecologista fanático devo dizer que este delapidar do nosso património natural com os evidentes prejuízos quer para a saúde da população quer económicos para o país me choca. Parece que não damos importância a estes factores e nos perdemos deleitadamente a discutir energias alternativas mais ecológicas, parques eólicos que resolverão o défice energético do país permitindo cumprir os valores impostos pelo protocolo de Quioto.
Estranho país de contrastes em que se deixa arder um bem dificilmente recuperável danificando muito o ambiente e aparentemente (e friso o aparentemente porque como disse antes a complexidade da rede de decisão assim o impõe) não se faz nada quanto a isso mas depois temos os políticos a tentar justificar planos de investimento recorrendo aos méritos ecológicos que estes têm associados.

5 Comments:

Blogger Maríita said...

A questao dos incendios repete-se ano apos ano e enquanto toda a gente lucrar com os incendios, eles nao vao parar. Pobres daqueles que ficaram sem as suas casas e viram o trabalho de toda uma vida arder num mar infernal de chamas. Pobres daqueles que chamaram pelos bombeiros e eles nao vieram.
Nao me tem deixado de chocar a atitude dos nossos governantes. O Presidente, como todos sabemos, foi de ferias e como tambem sabemos o seu ultimos acto foi receber o Prof. Dr. Cavaco Silva e o Dr. Mario Soares no Palacio de Belem. Segundo li nos jornais, o Primeiro-Ministro foi de ferias com os filhos para o estrangeiro e o Ministro da Administracao Interna, que ficou a substituir o PM na sua ausencia, chegou a Leiria ontem a noite perto das 23h00. Senhores Governantes, o pais precisa que os senhores estejam presentes quando e necessario, nao para festas e foguetes. Penso que a actual situacao do pais, de incendios e seca extrema, exige um bocadinho mais de Vossas Escelencias. Mas tenho a certeza absoluta que poderei contar com a Vossa presenca a partir de Setembro, para umas eleicoes (e referendo) perto de nos.
Ja sei que muitos me criticarao por esta atitude, afinal os governantes merecem ir de ferias. Mas sabem, a Senhora com a Virgem Maria nos bracos e sem casa, sem roupa e sem comida, essa Senhora que serve aqui para ilustrar tantas outras pessoas, ficou sem ferias.

August 05, 2005 3:40 PM  
Blogger Maríita said...

peco desculpa, onde se le escelencias, deve-se ler excelencias

August 05, 2005 3:42 PM  
Blogger smile said...

Eu acho incrível como não se considera a floresta e o ambinete como um elemento estratégico e de desenvolvimento. Desculpem-me as palavras mas um Primeiro Ministro com os 'tomates' no lugar deveria anunciar fortes investimentos na área da Proteccção Civíl e Bombeiros e deixar de lado as 'birras' sobre aeroportos e combóios... E já agora, porque não um referendo sobre os investimentos públicos? «Em que devem ser investidos 'n' milhões: []Aeroporto e TGV; []Combate e Prevenção de Incêndios e Preservação do Ambiente»... Como eu digo, é uma questão de 'tomates'... ou 'cojones' como diz a Toranjinha....

August 05, 2005 11:20 PM  
Blogger smile said...

Desculpa Toranjinha mas isso dos empreendimentos urbanísticos na Serra da Boa Viagem em zonas ardidas não é verdade...

August 06, 2005 2:27 PM  
Blogger smile said...

Enumera três locais onde isso tenha acontecido... Aposto que não consegues! Às vezes temos que dar um braço a torcer e a Serra da Boa Viagem é um desses casos.

August 07, 2005 7:47 PM  

Post a Comment

<< Home