Sunday, June 12, 2005

Santo António

É hoje a noite de 12 de Junho, a noite de Santo António.
Lembras-te de como foi há 5 anos atrás?
Há 5 anos atrás tínhamos acabado de nos conhecer, tinha passado um mês desde de que começámos a namorar.
Comemos uma pizza no restaurante “Tratoria”, foi a primeira vez que comi pizza…
Descemos para a avenida para ver as marchas populares e depois avançámos para Alfama onde estivemos e onde, com um brilho intenso nos olhos, uma respiração acelerada e um tremor nas mãos acordámos como seria daí em diante, o que queríamos e o que desejávamos.
Passaram-se os anos e sucederam-se os “Santo António”, sempre com o ritual de te oferecer um manjerico e escolher o verso do cravo que te dava.
As coisas mudaram, já não fazes parte da minha vida…
É irónico que a única pessoa a quem disse “Amo-te” e não o disse de forma vazia seja a pessoa que mais detesto, sinto nojo, repulsa, não te tenho qualquer respeito. Sinto a mais profunda vergonha de te ter tido como namorada e ter ponderado ter-te para sempre na minha vida. Como é possível ter-me enganado tanto?
O que mais me custa foi eu ter-te pedido desculpa por achar que te tinha magoado e que te estava a magoar quando nos separámos em fins de Agosto do ano passado… E tu a fazeres-te de vítima, a deixares-me ali, a pensar em tudo o que achava te fazia mal…
Pensar que quando começámos a namorar, qualquer que fosse a mais pequena contrariedade que te acontecia era logo algo a que eu tinha que acudir, não suportava a ideia que tivesses qualquer dificuldade no teu percurso, quis sempre ser o teu apoio, a tua defesa, tudo o que tu precisasses…
Tenho-te um desprezo frio e cruel, e o pior, é que todos me acham vingativo por causa disso. Não sou vingativo e tu sabes porque é que te desprezo assim, lamento tão profundamente ser tão escrupuloso, carrego comigo o teu segredo mais hediondo, e não posso dizer a ninguém, não posso explicar porquê que adoptei esta atitude.
Sei que não lês este texto porque nem sabes que ele existe, mas decidi pôr por escrito o que me atormenta.
Não sei o que acontecerá se nos voltarmos a ver mas o mais certo é voltar-te a cara e ir-me embora. Já não vou aonde ia para não te encontrar, evito cruzar-me com as pessoas que sei sabem o mesmo que eu e que são tuas “amigas”, não me esqueço das calúnias que lançaste sobre mim.
“Amigas” – sim, porque o verdadeiro amigo não permitiria que alguém fizesse o que tu fazes sem te o dizer na cara de forma frontal e honesta como eu te disse.
Será que a Renata tinha razão quando disse que tu no espaço de um ano te transformaste e que passaste a ser uma cabra?
Não sei nem quero saber…
Tenho a mais profunda vergonha de alguma vez me ter dado a alguém como tu, sinto-me coberto pelo mais forte sentimento de vergonha, enganei-me redondamente em relação a ti e vivi essa mentira porque fechei os olhos, porque acreditei piamente que tudo ia correr bem…
Já não penso tanto em ti, ou melhor, já quase não penso, e quando penso e me lembro dos momentos doces que tivemos (sim, porque ao contrário de ti, dos 4,5 anos que namorámos eu tenho boas recordações, não foi um sacrifício e um sofrimento como tu pintaste), lembro-me do que fazes actualmente e liberto-me de todo o sentimento de carinho que tenho ou tinha.
Deixaste feridas profundas que estão a sarar mas que me alteraram, alteraram a minha forma de estar, retiraram o meu à-vontade e consumiram parte da minha alegria de viver que estou a recuperar agora, quase um ano depois. Ficou o medo de me envolver com quem quer que seja…
Jamais voltarás a entrar na minha vida e quanto aos teus “amigos” que tão bem me falam, podem ir todos para o Diabo que os carregue!
Transformaste-te, tornaste-te um ser desprezível, que recorre a tudo para não ficar só e ter que pensar.
A minha reacção é esta: Eu estou só e penso todos os dias no que fiz, no que quero fazer, de onde vim e para onde vou, decidi pegar o touro pelos cornos, mudar aquilo que não gosto em mim, limpar todo o sistema e tentar fazer um novo eu, melhorando o que de mau tinha.
Tem sido um caminho difícil mas tenho aprendido muito, e tenho sobretudo percebido que há pessoas que se importam verdadeiramente comigo. Lamento que os teus “amigos” não façam o mesmo contigo…
Até nunca mais…

5 Comments:

Blogger Ginja said...

Olha, eu sei que não o direito de te dizer isto, porque não te conheço de lado nenhum, nem conheço a tua história, mas ... do que leio nos posts e afins, parece-me que és um miúdo decente, e ainda por cima culto (como já pouco se vê por aí), o que faz de ti uma pessoa muito interessante, mesmo para quem, como eu, não vê uma cara. Portanto ... ânimo, porque quem te fez assim tanto mal, nem sabe o que perdeu :)

June 12, 2005 9:13 PM  
Blogger Salta Pocinhas said...

E fazes tu muito bem! Não sei qual é o segredo dela, nem te vou perguntar... mas aviso já que tenho uma imaginação delirante ;)
Toranjinha: infelizmente não temos uma borracha para apagar certas coisas do nosso passado, daí a impossibilidade da indiferença. Desculpa ter-me intrometido, mas não resisti...
Luís: Para a frente é que é caminho. Estou aqui, sempre que precisares! Beijinho muito grande

June 13, 2005 12:38 PM  
Blogger Luis said...

Olá a todos os que comentaram o meu texto.
Obrigado pelas vossas palavras mas antes de "responder" gostaria de explicar algo.
Escrevi o que sentia e pela 1ª vez estive para não permitir comments, não pretendia que fosse comentado e não se ofendam pelo que digo. O texto foi o desabafo de muita coisa que estava acumulada e que não posso falar por uma razão de compromisso de honra.
Respondendo agora a cada um de vocês
Ginja, muito obrigado pelas palavras, foram das mais doces que alguém me dirigiu em muito tempo, afinal tinhas razão, o que é doce nunca amarga ;)
Toranjinha, quando li o teu comment a 1ª vez fiquei algo espantado, não me fez sentido, já o reli mais umas quantas vezes e faz sentido - ninguém que passe na minha vida me é indiferente e por maioria de razão a minha ex-namorada muito menos mas está cada vez mais distante de mim...
Salta Pocinhas, tu conheces-me pessoalmente e conheceste a minha ex-namorada, por isso, palavras para quê?
Mariana, as pessoas não devem mudar pelos outros nunca, nisso tens toda a razão. As mudanças que fiz e estou a fazer são por, pessoalmente, sentir essa necessidade, preciso de reencontrar o meu equilibrio, a minha doçura interior, a paz que por vezes ainda falta.
A todos vocês, muito obrigado pelas palavras, mesmo não esperando comentários, não posso deixar de vos agradecer a extraordinária ternura que demonstraram nas palvras "preocupadas" que deixaram aqui.
Muito obrigado

June 13, 2005 10:40 PM  
Anonymous Anonymous said...

Toupeirinha mete isso para trás das costas, e os Santos são alegria! este ano até ganhou Alfama!
Beijinhos, e já sabes que qd precisares podes contar com a cegeta....

June 14, 2005 11:07 PM  
Anonymous Anonymous said...

Concordo com a Ginja: o teu Blog mostra que so podes ser uma pessoa especial! Por isso, confiança em ti mesmo... =)
Quanto às feridas...O tempo ajuda muito, sem dúvida...mas a verdade é que há feridas que nunca chegam a sarar..ficam sempre ali, numa comichaozita que te lembra que elas existem...No entanto, há que saber onde elas estão, porque estão, e aprender a lidar com isso da forma mais tranquila e serena possível. Concordo com a Toranjinha: todas as experiencias da nossa vida, boas ou más, nos acrescentam qualquer coisa de novo...Essas experiencias fazem de nós o que somos. Claro que isso, so se pode ver com uma certa distancia (a tal ajuda do tempo). E compete-nos também a nós decidir a pessoa que queremos ser: compreendo perfeitamente o que dizes em relação a «mudar em mim certas coisas». Isso so é sinal de que ja consegues avaliar as coisas com uma certa distancia e filtrar aquilo com que queres ficar e aquilo que te transformou numa pessoa que nao reconheces. Apenas te posso desejar boa sorte nessa aventura! É profundamente enriquecedorea =) E, ja agora, e porque acho que a ocasião merece, deixo-te a letra de uma musica que adoro ( e ja agora recomendo vivamente o CD: Maria Rita):

Não Vale a Pena

Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível
E depois enxergar


Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente, cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer
Que é uma pena
Mas você não vale a pena

P.S. desculpa os kms do comment!!

June 15, 2005 10:59 AM  

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