Wednesday, July 19, 2006

Sei lá eu…

Queria escrever qualquer coisa com pés e cabeça mas não consigo.

Entre a irritação, a tristeza, a dor, a vergonha, a alegria, o orgulho, as dúvidas parece que nada se encaixa no seu sítio perfeito.

A tremenda irritação com as coisas que não andam com a celeridade que queria, com aquilo que não consigo alcançar, com o perceber que fui tão estúpido em algumas circunstâncias.

A tristeza por aquilo que já terminou há tanto tempo, pela forma como foi, pela dor que trouxe, pela forma pouco briosa. Pela estupidez de achar que afinal talvez tu necessitasses da minha ajuda, por não te ter sabido ajudar e por afinal…

A dor de me sentir posto em causa com histórias pouco claras que envolvem comportamentos que nunca tive, intenções menos boas que não são as minhas. Dói-me toda essa desconfiança.

Sinto a vergonha queimada em mim como o ferro de um cavalo. A vergonha que eu tenho e outros não tiveram, a vergonha de não ter percebido, a vergonha de não ter querido ver, a vergonha de tanta coisa de que não me quero lembrar (embora voltem à minha mente de vez em quando).

A enorme alegria que tenho com os meus amigos que sabem quem são.

O enorme orgulho que tenho da minha irmã embora me preocupe com ela, por a desejar mais forte, mais acutilante, mais parecida comigo. O orgulho que tenho por ter permanecido fiel aos meus princípios, por ter feito tudo aquilo que me parecia adequado tentando fazer como faria o meu avô – conjugando todas as sensibilidades.

Tenho claro as minhas dúvidas: Será que é por aqui o caminho? E se me engano? O que significa isto/aquilo?

E por estranho que possa parecer, não me sinto triste ou assustado ou perdido. Acho que é por aqui, espero conseguir chegar lá.

Sinto um enorme desânimo por não ser capaz de voltar a dizer “Eu amo-te” e de voltar a sentir aquela paixão arrebatadora.

Verdade seja dita que também já não quero as mesmas coisas que queria há um tempo atrás mas mesmo assim é como se fosse uma pedra no sapato que vai fazendo ferida e que vai magoando.

Quero alguém com quem conversar ternamente, com quem possa estar sem falsas pretensões, alguém com quem estar tranquilamente, em que tudo o mais decorra tranquilamente, com tempo, compassadamente, nascendo da ternura, da admiração e do respeito.

Não entendo esta mania da troca de fluidos por tudo e por nada, esta ditadura da cama, em que tudo se passa na horizontal. Quero algo diferente, quero algo “vertical” em que o restante decorra normalmente.

Estou cansado desta mania dos gostos standard. Eu gosto da minha música, dos meus livros, dos meus locais especiais e acabou, não têm que ser iguais aos dos outros.

Estou também cansado daquelas propostas veladas que no fundo não trazem nada, que apenas nos levam numa caça aos gambozinos, prefiro que se diga claramente ao que se vai.

Irrita-me que não se assumam as coisas claramente, percebendo que tudo tem riscos, mas que todos nós arriscamos – não é só um lado que arrisca.

2 Comments:

Blogger inBluesY said...

[os rótulos, o colocar de parte por um passado]

um desabafo apenas.

July 19, 2006 8:03 PM  
Blogger mary said...

É um desabafo de alma tão profundo que só poderás estar no bom caminho. Quanto ao resto, é como no tempo dos nossos avós, em que tudo corria mais devagar: saber esperar. As feridas saram e o amor surge novamente.

July 22, 2006 9:56 PM  

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