Thursday, April 13, 2006

Inconformismos

Tenho-me cruzado com várias pessoas que não estão satisfeitas com a sua vida.
É curioso como todos nós temos sempre vontade de mais e melhor, é um bom sinal acho eu, mas nem sempre…

Curiosamente aonde as pessoas se sentem menos concretizadas é nas suas vidas pessoais. Sentem a falta daquela pessoa especial, queixam-se da família que têm, da falta de verdadeiros amigos etc.

Quanto à família, cada um tem a que tem, não a pode alterar, não a escolheu, é aquela e pronto. Pode é no entanto não querer seguir exactamente aquele caminho, pode querer ser diferente, querer alterar as coisas. Não é de todo mau nem creio que deva ser encarado como falta de educação mas sim como uma forma de resolver a vida.
No fundo todos nós forjamos a nossa vida e escolhemos o nosso caminho, e o caminho que nós escolhemos não tem de ser o que outro escolheria mas é sim, o caminho que podemos, conseguimos e no qual nos queremos sentir confortáveis ao percorrer.

Há marcas que ficam na nossa vida, desde aquela reprimenda que um dos nossos pais nos deu, até aquele amor que foi tão intenso que nunca desapareceu totalmente.

Às vezes a nuvens cobrem o Sol como os momentos menos bons, em que o desespero se apodera de nós e em que deixamos de acreditar tomam de assalto a nossa vida, mas a verdade é que por debaixo das nuvens o Sol continua lá, imutável.

Todos nós temos uma essência que é só nossa, que nos torna únicos e que constitui a nossa reserva perante os maus momentos. Há alturas em que precisamos de renovar essas reservas e mergulhar de novo nos nossos gostos primitivos, reencontrar aquilo que verdadeiramente nos acalma e nós dá força.

Os medos assaltam-nos ao longo do caminho que é a vida e é natural que tenhamos medos, é até salutar.

Há ainda o arrependimento, a vontade de alterar as coisas, de fazer com que os outros se alterem para serem aquilo que nós queremos.

Talvez nada disto que estou a escrever faça muito sentido, mas há uma sensação estranha de querer dizer qualquer coisa que não sai, que está cá dentro e que não consigo verbalizar.

Subitamente várias peças de um puzzle gigantesco encaixaram-se e consigo agora perceber os contornos do desenho.

Ouvi hoje pela primeira vez a música “Fix You” dos Coldplay.

Lembrei-me do meu papel na peça da quarta classe, da tristeza que tive por não ficar com um dado papel. Lembrei-me da minha educadora de infância, do colégio onde andei…

Lembrei-me de tantas pessoas que gostaria de abraçar e com esse abraço transmitir-lhes uma calma transbordante e sincera. Gostava de ser capaz de, com um gesto, apagar as dificuldades de várias pessoas, umas de quem gosto, outras que nem por isso. A estas últimas queria fazê-lo para lhes mostrar que existe um outro caminho e lá porque se assustaram isso não justifica que me tenham feito mal.

É talvez idiota pensar nessas pessoas, mas penso. Penso muitas vezes porque não quero ser assim, são o meu exemplo a não seguir.

E às vezes, só às vezes, chego ao fim do dia e gostava tanto que alguém me recebesse de braços abertos, sem perguntas e tratasse de mim. Mais do que sentir frustrações ou tristeza, sinto cansaço.

A tristeza que senti dissipou-se porque nuns casos não posso alterar as circunstâncias e portanto não me queixo delas, noutros casos, houve quem me fizesse ver que não vale a pena estar triste.

Lembro-me do meu avô, de estudar matemática e história com ele, de jogar a “Batalha Naval” no Diário de Noticias.

Lembro-me daquele senhor que me recebia de braços abertos, com um sorriso, que tantas vezes me viu chorar e que tinha sempre uma palavra amiga, uma história reconfortante.

Vem aí a Páscoa e lembro-me dos ovos de chocolate escondidos pela casa em que ele me dizia sempre para eu procurar bem em determinado local.

Não consigo explicar mas há uma alegria transbordante que faz com que as coisas que me doeram no último mês e meio sejam insignificantes. Quando me lembro daquele senhor lembro-me do exemplo que foi a sua vida e naquilo que quero que seja a minha.

1 Comments:

Blogger inBluesY said...

beijinhos
(hoje deixo apenas silêncio, pq faz bem tb)
e um abraço, gosto dos teus apontamentos

April 13, 2006 3:42 PM  

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