Saturday, July 30, 2005

A idade dos porquês…

Estando nestes últimos tempos muito preocupado e apreensivo com algumas coisas da minha vida achei curioso que todos tivessem associado este estado de espírito a um “problema amoroso”. A expressão em si já é estranha mas a tendência que existe de reduzir tudo meramente a questões amorosas ou à falta delas incomoda-me.
Um outro blog referia-se aos blogs pessoais como sendo espaços de pessoas que andavam à procura de namorado/a. Visão no meu entender profundamente redutora.
E que tal andar à procura de si mesmo?
Há alturas em que mais do que se procurar o Amor, nós nos procuramos a nós próprios porque estamos insatisfeitos connosco.
Há um inconformismo que é positivo, que gera a dúvida benéfica – Será que é mesmo assim que quero ser?
Obviamente que haverá quem faça a ligação imediatamente à psicanálise e desenvolva teorias mais ou menos elaboradas. Virá o inevitável Freud e as suas explicações… Não se fartam disso? Além de Freud existem tantos outros tão importantes como ele…
Porque é que insistem na necessidade de tudo ser explicável, porque é que tudo tem de ter uma justificação lógica, porque raio é que há sempre um qualquer mecanismo na nossa psique, um acontecimento passado que explique todas as acções?
Estou farto desta moda de que tudo é explicável pela psicanálise. A Humanidade viveu séculos sem Freud e os seus discípulos e a vida continuou. O pensamento humano existes desde sempre e começou muito antes da psicanálise.
Não será portanto algo natural, instintivo, que nós nos questionemos? Não será isso sinal de que somos capazes de evoluir?
Há alturas em que nos sentimos descontentes por ter que tomar determinado caminho mesmo quando este nos é imposto por razões alheias à nossa vontade mas isso não implica que não nos questionemos.
É certo que seria tudo tão mais fácil se não tivéssemos esta necessidade compulsiva de pensar, de perceber porquê assim e não de outra maneira, mas mesmo dando várias dores de cabeça, prefiro questionar até a exaustão e obter por mim as respostas a que me as dêem “prontas a consumir”.
Muitos preferem parecer a ser, falam do que não conhecem, usam termos técnicos todos pomposos que não sabem a quê que se referem mas também não importa, se tudo correr bem os outros também não sabem…
Perdeu-se uma certa doçura que advinha do tempo que as coisas demoravam, parece que tudo tem de ser naquele momento e a aceleração que as novas tecnologias impõem faz com que as pessoas se sintam cada vez mais “forçadas” a decidir tudo em espaços de tempo sucessivamente mais curtos.
Há tempos para tudo que creio devem ser respeitados, não devemos entrar na vertigem do decidir por decidir, há que reflectir não só na nossa vida profissional como na vida pessoal, e aí quer no nosso crescimento interior quer nas nossas relações inter-pessoais.
E depois de decidir? O processo acaba? Acho que não, devemos questionarmo-nos se as decisões nos satisfazem ou não.
Entrando no campo amoroso, quando escolhemos estar com alguém, essa decisão não deve ser tomada de ânimo leve, é obvio que nos vamos questionar algures ao longo do caminho se a escolha foi a mais acertada mas é por isso que as relações são a dois e são dinâmicas, alteram-se.
Recorrendo a uma metáfora, o Amor entre duas pessoas é como uma planta, se só tiver água e não tiver Sol morre. São precisos os dois. E assim num casal é preciso ser-se o Sol e a água consoante as ocasiões e é preciso cuidar do Amor como se cuida da planta, com carinho e ternura, com a capacidade de reconhecer que se erra, de pedir desculpa, de perguntar ao outro se “assim está bem ou é preciso outra coisa”.
Não nascemos ensinados a conviver amorosamente uns com os outros, aprendemos se quisermos e conseguirmos mas isso implica ser capaz de perguntar e de ouvir por vezes respostas menos agradáveis…

4 Comments:

Blogger [_David_] said...

Um abraço amigo!:)

David
www.mylifeisamovie2.blogspot.com

July 30, 2005 11:52 PM  
Blogger Luis said...

Olá Toranjinha,
É verdade acabei a falar do amor mas enfim é um tema "forte" na vida de todos.

Não és a unica que pensa nas coisas que não percebes, também tenho essa tendência que às vezes é pouco saudável...
Há tantas coisas que parecem não fazer sentido, tantas pessoas que passam por nós e dizem/fazem o inexplicável o que nos deixa "boquiabertos". Dou por mim muitas vezes a pensar: "mas que raio quer el@ dizer com isto?"

As pessoas a quem me refiro são várias e vão desde "escritores" de outros blogs a amigos que em vez de estar calados porque às vezes o silêncio é a melhor ajuda, falam frenéticamente do que desconhecem, massacrando a minha paciência e irritando-me porque não posso/devo responder. Tenho a lingua tão dobrada a esta altura do campeonato que nem te passa pela cabeça...

Quanto ao tempo, queixo-me da falta dele, ou melhor, da má qualidade que ele tem. Temos cada vez mais a tendência para decidir no instante e perdemos o prazer que há em esperar por algumas coisas. Noutras ocasiões, o forçar das escolhas tem resultados desastrosos.

August 01, 2005 1:12 PM  
Blogger João Magriço said...

A dúvida é a o início do conhecimento. Que seríamos nós se não nos questionássemos das coisas que não percebemos. Disseste-o bem, não evoluíamos. Não se preocupem com o questionar-se, preocupem-se qd não se questionam.

"O Tempo não me diz nada, nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada". Uma pequena parte de uma música que eu adoro. Não é o tempo que nos vai dar as respostas, somos nós que temos de as procurar com tempo.
Sempre me disseram que rezar para pedir é uma coisa boa. Jesus disse:"batei e abrir-se-vos-á", mas esqueceu-se de dizer que porta é aberta no tempo de Deus e não no nosso. Hj em dia andamos tão ocupados com coisas q não interessam que já não damos tempo ao que verdadeiramente interessa.

"Os amores vão e vêm, a amizade fica para sempre." Pelo menos até encontrarmos um amor que fique para sempre. Mas até lá temos que fazer as coisas com calma porque certas coisas não se devem nem podem apressar. Estragam-se com a velocidade por assim dizer.

E Luís, eu falei sempre em nós porque tb me questiono mts vezes. Aliás, penso que todos nos questionamos. Mas tb somos curiosos e por isso gostamos de saber o q se passa com os outros. E por fim, cuscos, porque não sei como, mas adoramos meter o nariz onde não nos é chamado.
Mas somos assim, e pelo menos eu, adoro como sou e sinto-me feliz.

August 02, 2005 9:36 AM  
Blogger Don KeyShot said...

Mais uma vez, concordo competamente! Por isso acho que os blogs também podem servir, como foi dito, para nos sentir-mos mais reconfortados, ao ver que outras pessoas pensam da mesma maneira. Uma forma de autopsicanalise? Talvez... Pessoas que procuram o grande A? Nao duvido.

August 18, 2005 2:15 PM  

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