Wednesday, September 13, 2006

Saudade

Palavra que tem particular sentido (e sentir) em português e creio que não existe em mais nenhum idioma.

Sinto saudades daquela estrada rectilínea que me levaria até ao meu objectivo, e cheguei à conclusão que a vida afinal é cheia de curvas sinuosas que nos levam por caminhos mais ou menos sombrios, mais ou menos perigosos.

Numa sociedade marcada pela ideia do pecado, da penitência, da culpa e na qual em muitas coisas não me revejo, há no entanto algo pelo qual tento pautar o meu comportamento – sentir no fim de cada dia que tentei fazer o meu melhor. Tanto não trair os meus princípios, sejam eles bons ou não, são os meus, são as minhas luzes guia.

Nas múltiplas veredas que me vi na obrigação de percorrer para chegar ao meu objectivo tenho visto muita coisa que não achava ser possível. Tenho tido surpresas agradáveis e desagradáveis e são mais as ultimas que as primeiras infelizmente.

Nunca acreditaria que há tantas pessoas a viverem na obscuridade, que consideram normal coisas que para mim não o são e que revelam fragilidades importantes da parte delas. A quantidade de pessoas que se deixam chantagear e a quantidade de pessoas que recorre à chantagem tem sido para mim um espanto.
Nunca acreditei que fosse possível que houvesse pessoas que com a minha idade batessem nos seus respectivos e que os mesmos aceitassem com um discurso totalmente desprovido de esperança – uma aceitação de que antes assim do que pior.

Tenho conhecido também muitas pessoas que supostamente almejam coisas melhores, coisas superiores na escala vertical da vida mas que ao mesmo tempo estão tão presas a um qualquer acontecimento que não percebem que as oportunidades passam e elas não as aproveitam, estão ainda à espera que o passado se torne presente ou que o futuro lhes traga algo de tão bom que esmague por completo o passado – pois sim, mas nisto falta o presente que fica por aí perdido, vagabundo, à espera de melhores dias.

Tenho saudades da visão de criança em que a vida é não a preto e branco mas a cores garridas em que nada é inalterável, que todos os projectos são empreendidos de forma voluntariosa.

Tenho saudades da ingenuidade que perdi e que me deixava olhar para o mundo com bonomia, sem desconfiança.

Tenho saudades de encontrar pessoas que sonhem, que não tenham medo de assumir que sonham, que ambicionam o inatingível porque estão piamente convictas que nada é inatingível nem nada é irresolúvel. Fazem-me falta as pessoas com a disponibilidade mental para aqueles “combates épicos” em que Davids conseguem derrotar Golias apenas e só porque acreditam.

3 Comments:

Blogger Retalhos said...

Gostei muito mesmo :)

Engraçado porque à medida que ia lendo, fui "atingida" pela banda sonora de uma grande empresa de venda de brinquedos (curioso ser algo da infância ...) cujo refrão era: "welcome to our world".

September 14, 2006 8:31 AM  
Anonymous Anonymous said...

É, também sinto saudades, algumas muito loucas, de algo que ainda não sei... não conheci!
Saudade dos tempos de pureza e simplicidade, tempos da infância... mas só caminhamos à frente e devemos tentar preservar o mínimo!

September 17, 2006 3:54 AM  
Blogger TONY, Duque do Mucifal said...

grande divagação...o teu blog vem mesmo de dentro da tua alma. Os teus textos são extremamente fortes...por vezes levamos com 1 soco no estomago!

September 19, 2006 1:13 PM  

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