Sunday, August 27, 2006

Volatilidade

As arrumações têm sempre duas vertentes, a de deitarmos fora aquilo que para nós deixou de ter interesse bem como guardarmos aquilo que tem interesse.

Ora, ando em fase de arrumações – literalmente – e nisto reencontrei as cartas que troquei com quem para mim já foi uma das pessoas mais importantes da minha vida embora ela possa não o ter percebido.

As cartas que se escreve quando se está apaixonado são sempre ridículas – será?

Escreve-se com o coração na mão, supostamente escreve-se exactamente o que se sente e mais nada. Mas será mesmo verdade? Não escrevemos também aquilo que sabemos que o outro quer ler?

Reli parte das cartas que recebi e sorri-me, afinal tantas promessas, tanto apontar para o futuro e afinal…

Estranha forma esta que temos de prometer coisas que depois não cumprimos.

Mais do que tudo, pergunto-me o que leva uma pessoa a dizer: Amo-te – não é uma palavra fácil, bem pelo contrário, não se usa por dá cá aquela palha (acho eu)!

Será estúpido mas depois de reler parte das cartas percebi que há algo que não muda, há coisas que fazem parte de um passado, de uma vivência que foi única e apenas aquelas duas pessoas percebem, que é tão imutável como os rochedos.
No entanto há certezas que vão ficando com o passar do tempo que são também elas imutáveis – decisões que se tomaram a medo mas que agora são lei.

Alguém um dia disse-me: “Se ainda sentes alguma coisa é porque ainda gostas dela…” – não se ama alguém sem que isso tenha um preço, não se apaga um sentimento tão forte como o Amor, altera-se, transforma-se – primeiro um certo ódio, depois a tristeza, depois uma ternura certa de que o que foi já não volta ser que se mistura com um travo ligeiro de: “se fosse hoje era diferente…”
Mais do que pensar no que foi, ou no que poderia ter sido com aquela pessoa, pergunto-me: “e o que aprendeste?” e vou chegando a algumas respostas, que são as minhas, que são pessoais, que não são “chapa 4”.

Uma coisa é no entanto clara, as circunstâncias em que algumas coisas se passam não se repetem e mesmo que se repitam o mais provável é que se actue de forma diferente.

Curioso como o vermelho paixão/ódio se transforma num cor-de-rosa pálido, como podemos olhar para trás, lembrar-nos das coisas boas, sorrir e no entanto ter a certeza – o meu caminho afinal não era por ali…

1 Comments:

Blogger Retalhos said...

A aceitação ...

August 27, 2006 10:26 AM  

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