Friday, September 28, 2007

Síndrome de aquário


Após aturadas buscas, de longa pesquisa, de louca investigação eis que…


Descobri um novo conceito - o aquarianismo.

Estarão a pensar: “Ah e tal, lá vêm aquelas coisas dos signos que são tão vagas que dá para tudo e mais alguma coisa.


Falso! Desta vez é algo de sólido e concreto.


O aquarianismo é a sensação que temos ao estar num grupo de pessoas e subitamente nos sentirmos fora do grupo, como que a olhar para as pessoas do grupo como se um vidro nos separasse deles – tipo aquário.
Ora, pode ser que o sentimento seja só nosso mas pode ser que seja exactamente ao contrário e que os outros é que nos achem a nós estranhos e consequentemente bons objectos de estudo.

Confesso que ultimamente me sinto envolvido numa onda aquariana – sinto-me do lado de fora, não consigo propriamente interagir.

Se em bom rigor parte depende de nós e no meu caso na minha aparente dificuldade de partir ao encontro dos outros, momentos há em que parece que as pessoas em determinados círculos se esquecem da minha existência – seja porque estão lá amigos de há muitos anos, seja porque têm todos a mesma profissão e a mesma é diferente da minha, seja lá pelo que for às vezes sinto-me transparente.

Supostamente a era de Aquário (esta sim é ligada a astrologia) é a das relações humanas, da liberdade, do bem-estar, o aquarianismo é algo muito diferente, é a sensação de desenraizamento, de não pertença, da falta de identificação.

Tendo chegado a esta conclusão revolucionária, vou dar às barbatanas e mudar de águas que isto está cheio de trutas e tubarões e o mexilhão é que se trama.


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Thursday, September 20, 2007

Segredos bem guardados?

Passados alguns dias da vinda de Dalai Lama a Portugal, e já algum tempo após o sucesso do livro “O Segredo”, formam-se várias correntes de pensamento.

No tocante à vinda de Dalai Lama a Portugal chocou-me o aparente abandono a que foi votado pelas autoridades nacionais bem como a recusa (depois alterada) do P.C.P. em receber o senhor na Assembleia da República. Questões políticas à parte, estamos a falar de um Prémio Nobel da Paz que merecia talvez um tratamento mais adequado.

Aparentemente a sua conferência no Pavilhão Atlântico foi um sucesso, sendo que para mim não faz assim muito sentido ter que se pagar para ouvir o senhor. Não é um contra-senso? Afinal de contas estamos a falar de uma figura eminentemente religiosa que acaba por ficar ligada a um lado comercial que de profundo me parece ter pouco.
À margem disto, a verdade é que foram milhares as pessoas que foram ouvir o que Dalai Lama tinha para dizer – procuram uma filosofia de vida mais agradável, algo que as faça sentir melhor e parece que nesse aspecto o budismo oferece muito.

Um fenómeno que parece ter também ele atingido milhões de pessoas foi o livro “O Segredo” o qual confesso ainda não li, mas do que li em termos de críticas e de descrição do livro leva a subentender que o mesmo se debruça sobre a importância do optimismo, do querer, do desejo e da confiança e em como estes aspectos podem alterar as nossas vidas, melhorando-as.
É um livro que caí dentro da categoria de auto-ajuda/espiritual. Aquilo que percebi das ideias do livro parece sugerir que o mesmo está em sintonia com a “Profecia Celestina” ou os livros de Dr. Joseph Murphy só para citar alguns.

Qual a ligação entre um livro e o Dalai Lama?

A procura que as pessoas fazem de algo que lhes mude a vida, que a torne mais agradável.

Somando a isto o estudo norte-americano que indica que as pessoas se sentem cada vez mais na obrigação de serem felizes e se sentem frustradas por não atingirem a felicidade, parece que há um movimento global desejoso de mudança.

O referido estudo norte-americano também referia que a felicidade era um conceito altamente subjectivo, que variava de pessoa para pessoa, de acordo com experiências passadas, com o nível de vida, da zona do globo, etc..

Ora, por um lado temos uma massa de pessoas a tentar alterar algo na vida delas para se sentirem melhor, mais felizes – acho muito importante – seguindo pessoas ou livros, a verdade é que a felicidade varia de pessoa para pessoa.

Se me parece incoerente esta massificação das receitas para o bem-estar, ainda mais me espanta esta procura num “objecto” externo de algo que deve ser interior.

Cruzemos ainda estes dados com um dado farmacológico que é o do consumo de anti-depressivos e com a ideia de que a O.M.S. alerta que a doença do século XXI será a depressão.

Diria que esta procura de felicidade através de métodos rápidos não se está a revelar eficaz e que há um desfasamento entre o desejo e a realidade. Pior parece ser a “pressa” – todos temos que ser felizes e rapidamente. Não parece haver tempo para momentos mais difíceis, para elaborações ou pensamentos profundos, parece que tudo é para já, para consumo imediato, sem grandes consequências ou esforços.

Reforço a ideia com o pensamento que um dos maiores comediantes portugueses ter-se-á sentido mais deprimido e mais aflito e consultou um psicanalista e ao fim de alguns anos terá encontrado o seu equilíbrio e passou anos a fazer outros rirem-se sendo também ele capaz de se rir e de ser (aparentemente) feliz.

Demorou anos – a ideia de que as coisas levam tempo a ser atingidas…

Sem julgar ninguém, ficam algumas notas soltas sobre o assunto.



Sunday, September 09, 2007

“Dada”

"A Fonte" - A obra original datava de 1917 da autoria de Marcel Duschamp - Assinada com nome falso de Richard Mutt

Friday, September 07, 2007

O carteiro

Passaram já alguns anos desde que vi o filme “O carteiro de Pablo Neruda” – confesso que do filme ficou pouco na minha memória.

Lembro-me da bicicleta e da relação improvável entre o carteiro e o escritor, lembro-me da definição de metáfora que foi dada e que foi através dela que finalmente percebi o que era uma metáfora.

Lembro-me das conversas tranquilas entre os dois personagens do filme e da aparente calma em que tudo se desenrola.

Penso nas conversas tranquilas que tive com algumas pessoas – uma em particular – e nas conversas ásperas que tive e tenho com outras – duas em particular.

Curiosamente, os sentimentos em relação a essas pessoas seriam próximos mas a relação é que é totalmente diferente. Porque haverá tamanha diferença?

Creio que passa sobretudo pelo respeito que uns granjeiam e que os outros de uma forma ou outra perderam.

No meio de um conturbado processo mental, cada vez mais me convenço que muito de uma relação passa pelo respeito. O respeito que o escritor e o carteiro tinham um pelo outro…

Quando todos falam do descrédito que as mais diversas profissões vão tendo, quando se fala no descrédito da classe política, raramente se fala em respeito.

Haverá por certo quem se levante logo em brados lembrando que o “respeitinho” era de outros tempos – é verdade – mas do que falo não é de “respeitinho” é de se dar ao respeito, é ter a capacidade de ser respeitado não através do medo mas do exemplo, é o ser capaz de ter a confiança das pessoas.



Saturday, September 01, 2007

Ao pôr-do-sol

Estou naquela fase da vida em que os amigos começam todos a casar ou a falar disso com uma insistência preocupante. Os mais adiantados até já falam nos filhos…

Pessoas que ao fim de um mês de namoro marcam data de casamento, outras que ao fim de um ano estão casadas – tudo me parece vertiginosamente rápido.

Sempre acreditei que me apaixonaria loucamente, teria um namoro fulgurante, casava e tinha 2 a 3 filhos. Também acreditava que acabaria a universidade e um ano depois estava casado…

E, num instante, o meu optimismo esfriou, vejo as pessoas atarefadas a preparar tudo para os seus casamentos e eu só penso que estou longe, muito longe de me sentir preparado para casar e ter filhos.

Há dias discutia com a minha irmã por causa de uma amiga comum que tinha filhos que passavam o dia em casa dos avós. Não que seja contra os avós entenda-se até porque de todas as pessoas que conheci, nenhuma se equipara ao Homem que era o meu avô. Acho é que há momentos para os avós e outros que são dos pais.

Aceito que me digam que há que trabalhar para pagar as contas e que portanto o tempo é curto e também não aceito que se diga que se não há tempo então não tenham filhos. Acho é que tem que haver um ponto de equilíbrio. Os filhos não podem sê-los aos fins-de-semana, são-nos a tempo inteiro.

Sendo homem, segundo a teoria vigente, tenho a vida facilitada. Ora, aqui há uma potencial diferença, não sei se quero uma carreira fulgurante, se quero chegar ao topo e quando lá chegar, olhar e perceber que me casei, que tive filhos mas que nunca fui com eles ao médico, que nunca fomos ver o Sporting ao estádio ou que nunca assisti a uma das aulas de ténis nem trocámos umas bolas.

Parece que de repente sinto medo da ideia de me casar – tanto mais irónico quanto sempre imaginei que esse seria um dos meus fitos – há qualquer coisa na ideia de viver para sempre com uma pessoa, de formar família (pelos métodos tradicionais) que me faz dar dois passos atrás. Não sei se me sinto preparado, não acho que esteja capaz de me suportar a mim e a uma família.

O suportar não é apenas a questão financeira, que é de facto importante, mas é a disponibilidade mental, ainda há muita coisa que preciso, de “menino” que não “saiu”. Acho que me considero imaturo…

E vejo os outros todos avançarem com uma certeza impressionante, com um desejo ardente, sem qualquer receio ou temor.

Não entendo se é facilitismo da parte deles ou complicação da minha parte – será que têm a noção do que realmente está em jogo? Terão a noção que não há depois lugar aos pequenos amuos de: “vou para casa, depois se quiseres alguma coisa liga!” – é que bem vistas as coisas, estarão em casa com a pessoa de quem se querem afastar.

Será que percebem que uma criança é para a vida? Que o deixarem-na “abandonada” com os avós, os tios ou outros terá um preço importante no futuro da mesma?

Será que no meio disto tudo não há uma certa severidade minha e no fundo uma certa inveja pelo arrojo demonstrado por outros?

São várias as minhas dúvidas nestes aspectos da vida…



"Cat's in the cradle" - Harry Chapin