Saturday, October 28, 2006

Pombomania

A direcção do “Complicómetro” reuniu-se para analisar e reagir ao comunicado dos “Carapaus com Chantilly”.

Cumpre-me a penosa tarefa de ler um comunicado aprovado por unanimidade e que é o seguinte:

a) Não nos foi restituído o pombo o que é um importante contratempo na estratégia de falsificação de notas por pombos;

b) Claramente a foto apresentada é uma montagem vergonhosa uma vez que o pombo não é um animal devasso!

c) A inexistência da entrevista na sucursal “Sardinhas com claras em castelo” só reforça os nossos receios de que tenham “apagado” o pombo.

d) De imediato formaram-se esquadrões de pombos voluntários que partiram em direcção às praias do sul numa caça pombo-a-pombo.

e) Estão-se a preparar os perigosos esquadrões F e P para uma acção mais directa sobre o pombo tendo por base o comportamento que os Senhores tanto sublinham.

f) Reafirmamos a nossa intenção de ficar com o pombo para gerir esta cadeia de falsários.

g) Afirmamos ainda, e sem dar qualquer azo a discussão, que CP é necrófilo uma vez que não acreditamos que coma pombos ou qualquer tipo de aves, mamíferos etc. vivos (piadinhas de índole sexual são desde já repudiadas)

h) O também célebre Homem-Panda existe! Se não existisse, como justificavam a barba e bigode exibido por CP?

Aguardamos o envio do pombo ou então lançaremos os esquadrões F e P para obter resultados eficazes.

Esta escalada de meios muito nos entristece mas é uma necessidade imperiosa!

Com os nossos melhores cumprimentos,

A direcção complicada!

Anúncio

Dentro de minutos a nossa directora para as Comunicações Externas vai ler um comunicado acerca do dossier Pombo.

Friday, October 27, 2006

Casamentos

Nos últimos tempos (duas ou três semanas para ser preciso) tenho visto uma série de pessoas, umas amigas, outras conhecidas, a casarem-se ou a juntarem-se.

Sempre acreditei que iria namorar com uma pessoa e que nos iríamos casar.

Curiosamente ou não, não foi assim que a minha vida se desenrolou. Dei por mim a perguntar-me se afinal a minha convicção de que me queria casar era verdadeira ou se afinal era apenas trinta e um de boca. Teria eu capacidade para assumir o compromisso que é um casamento?

Voltaram-me à memória inúmeras conversas e o célebre “desfasamento temporal”.

Não estou em fase de pensar em me casar, nem próximo disso. Sei que em relação a muitos dos casamentos e uniões não agoiro nada de bom porque me parece que é uma fuga para a frente mas também me pergunto se isso não é mais o meu desejo do que a realidade. O meu desejo que as coisas afinal não corram bem porque isso dar-me-ia razão e assim sentiria que afinal havia uma razão válida para não me ter precipitado para uma união de qualquer tipo. Se preferirem, era uma justificação, uma desculpa.

Não estou em fase de assumir compromissos, já não estava nessa fase há um tempo atrás, mas só agora sei o porquê e mesmo que goste de alguém, não posso assumir nenhum compromisso.

Não julguem que estou a fugir às responsabilidades, quem me conhece e sabe o que se passa comigo sabe que não fujo delas, por e simplesmente não quero mais ninguém a bordo da gôndola que conduzo, não neste momento. Há várias coisas que quero deixar prontas e definidas mas que as tenho que fazer estando só.

Tenho que dar a mão à palmatória a quem me disse que eu não tinha percebido que havia um desfasamento temporal, tem toda a razão. Gerou-se a partir do momento em que entrei na minha fase ruminante e em que passei a ser incapaz de verbalizar toda a angústia que me submergiu.

Angústia essa que merecia e teve um combate dedicado, corpo a corpo, que implica pegar em todo o novelo e desfazê-lo. Isso implica que quem não está directamente envolvido tenha que ficar de fora a ver esta dança macabra em que rodopio atrás das sombras, em que luto contra algo que não se vê, que muitas pessoas desconhecem e que praticamente ninguém acredita.

No fundo abdiquei, não das pessoas que amava, mas de parte de mim para poder refazer-me e no meio deste processo perdi-me e fui consumido pela angústia.

Estou agora na fase do reencontro, com muitas mudanças, com cicatrizes profundas, com algumas nódoas negras e algo dorido, mas tentei renascer, tentei melhorar.

Não estou pronto para assumir qualquer compromisso porque ainda estou a assumir-me na plenitude dos meus actos e das decisões algo temerárias e irresponsáveis que tomei no passado. Foram decisões que tomei assumindo que o comportamento das pessoas envolvidas em todo o processo seria um determinado. Algumas das pessoas agiram exactamente como esperava, outras excederam as expectativas e outras por e simplesmente foram-se embora.

Há uma espécie de inveja em ver os outros casarem-se, juntarem-se e eu, afinal estar a ficar para trás, mas fico, em parte por escolha minha.

Antes de assumir qualquer compromisso com alguém, tenho que acabar de assumir o meu próprio compromisso. Aceitar as minhas próprias mudanças.

Não estou em fase de assumir nenhum compromisso porque quero sentir que quando o fizer o faço não para fugir a uma qualquer solidão mas sim porque sei que isso me trará a felicidade que desejo.

Confesso que sou um adepto da solidão no sentido em que acho que todos devíamos passar por ela e estruturar-nos para a suportar e só depois de passarmos pelas dificuldades de estar só é que deveríamos ir ao encontro do outros e sentir-nos prontos para uma caminhada conjunta ao longo de uma vida.

Enfim, desabafos nocturnos …

P.S. – Fica também a letra de uma música dos Xutos e Pontapés

“Entre a chuva dissolvente
No meu caminho de casa
Dou comigo na corrente
Desta gente que se arrasta
Metro, túnel, confusão
Entre suor despertino
Mergulho na multidão
No dia a dia sem destino

Putos que crescem sem se ver
Basta pô-los em frente à televisão
Hão-de um dia se esquecer
Rasgar retratos largar-me a mão
Hão-de um dia se esquecer
Como eu quando cresci
Será que ainda te lembras
Do que fizeram por ti

E o que foi feito de ti
E o que foi feito de mim
E o que foi feito de ti
Já me lembrei, já me esqueci

Quando te livrares do peso
Desse amor que não entendes
Vais sentir uma outra força
Como que uma falta imensa
E quando deres por ti
Entre a chuva dissolvente
És o pai de uma criança
No seu caminho de casa

E o que foi feito de ti
E o que foi feito de mim
E o que foi feito de ti
Já me lembrei, já me lembrei
Já me esqueci"

Xutos e Pontapés - Chuva Dissolvente

Thursday, October 26, 2006

Escuridão

Vista dos Jardins do Palácio de Cristal

Wednesday, October 25, 2006

A saga do pombo

Quem não se lembra de ler nos “Carapaus com Chantilly” a célebre história do pombo que se transformou em estrela da “Carapaus Filmes”?

Tendo este espaço sobrevivido às OPA’s hostis lançadas por aquele grupo, que recorria a métodos como estaladas, trancar pessoas num quarto ou por e simplesmente ocupar o blog alheio sem dar cavaco, é a nossa vez de tentar uma tomada de poder!

Ora, a estrela da “Carapaus Filmes” não é mais do que um comum arruaceiro, um simples pombo assassino de fraquíssima qualidade.

Sim, leram bem, neste comunicado põe-se em causa o bom nome e a capacidade do pombo que eles apresentam como a “estrela da companhia”.

Estamos em posse de informações privilegiadas que vão ter repercussões históricas no mundo.

Foi hoje por mim, com a ajuda dos restantes membros deste blog, desmembrada uma terrível máfia de pombos que operava num telhado próximo de si.
Terrível sim, leram bem, o escândalo é gigantesco! Havia um pombo-mor que controlava vários outros pombos operários. O esquema? Era simples, apropriarem-se de um telhado, colocar lá umas impressoras ranhosas de agulhas que chiam para caraças, uns aquecimentos e eis que está o esquema montado!
Ainda não perceberam? Então nós explicamos.

Enquanto um sem número de pombos era escravizado junto da impressora, imprimindo notas falsas, as pombas eram obrigadas a actividades… Enfim, “massagistas” para sermos simpáticos…

O esquema foi descoberto quando, alguém que vivia sob o telhado foi violentamente acordado com uma inundação. A causa? Laranjas num tubo de queda, pães embrulhados, sapatos, pensos higiénicos, preservativos e a famosa beatinha de cigarro!

Após apuradas investigações, deduziu-se que: o pão e as laranjas eram o parco sustento alimentício dos trabalhadores forçados da impressora. O restante dispensa comentários e de certeza que todos serão capazes de deduzir qual a finalidade e quem os utilizava...

Assim, e dados os factos, há que perguntar aos “Carapaus com Chantilly” – O que é isto?

Uma vez que a nossa rede columbina está muito mais desenvolvida do que o vosso pombo assassino vimos lançar uma OPA (mais ou menos hostil) sobre a vossa estrela da companhia – o pombo!

CP já reagiu acelerando à doida pela EN125, está há várias horas no mesmo sitio tentando passar…

Existem rumores que dizem que CP foi visto juntamente com o Homem Panda num bizarro almoço em que o prato era nada mais, nada menos do que pombo frito.

Será que o Homem Panda teve uma crise de ciúmes e o pombo pagou as favas?

Caso o pombo não apareça vivo e de boa saúde (sim, porque precisamos de um arruaceiro assassino para aumentar a produção de notas falsas) vemo-nos forçados a tomar acções desesperadas!

Monday, October 23, 2006

Desejo

Visitar São Petersburgo.

Sunday, October 22, 2006

Pergunta

Porquê que se insiste em dizer que Lisboa é cosmopolita?

Saturday, October 21, 2006

Perdidos e achados

Há alturas em que parece que perco a motivação para alguns dos objectivos que tracei. Parece que se perderam, que deixaram de ser objectivos.

Há no entanto qualquer coisa de intrínseco neles que faz com que o tempo passe e eles recuperem força e voltem a brilhar como um farol que me guia.

Não sei o que é nem a quê que se deve, mas alguns deles acabaram por me fornecer uma resposta que teimava em me escapar por entre os dedos.

Friday, October 20, 2006

Um pequeno segredo



Chiu, falemos baixo que aqui as paredes têm ouvidos…

Deixem-me partilhar um pequeníssimo segredo…

Há um sítio que para mim é dos melhores do mundo, não pelo local mas pelas pessoas que lá se encontram. Se tenho locais que são só meus, que são o meu refúgio para as intempéries da vida, estar com estas pessoas (e elas sabem quem são) é um bálsamo...

Vista do rio Douro - o local é segredo...

Sabes que haveria muito mais para dizer mas o espaço é público e apesar de lentas (porque será?) temos a nossa preferência nas cartas ;)

Thursday, October 19, 2006

Recorrente


Há situações que são recorrentes na nossa vida. Pessoas que passamos a vida a reencontrar como se não conseguíssemos fugir delas, locais aos quais regressamos uma e outra vez na esperança de algo que não sabemos definir.

Se há recorrências que são agradáveis e que nos tornam mais felizes, outras há que são desagradáveis e que gostaríamos de evitar.

Dos encontros desagradáveis que tive ultimamente recordo dois de forma mais viva. Foram duas pessoas que para mim já significaram muito mas que por razões várias a nossa relação ruiu. Olhando para trás ruíram ambas pelo mesmo motivo – mentiras e falsas verdades.

No entanto há outros reencontros que têm sido recorrentes e agradáveis. Um em particular tem sido curioso. Revisitar o espaço de uma pessoa que já não está entre nós mas que deixou um legado que eu julgava compreender e que actualmente, com outros olhos vou percebendo que é um legado cheio de subtilezas e “nuances”. É sem dúvida um legado vasto e rico. Aquilo que mais me custa é não poder falar com a pessoa e lhe perguntar se as minhas novas interpretações são válidas.

Perguntaram-me há dias se estava em fase introspectiva, fiquei a pensar nisso. Não se há fases não introspectivas, e neste momento em que puxei um fio do novelo descobri que há ainda muita linha embaraçada e com nós que tenho que desfazer. Que tenho não porque não sou adepto de obrigações, que quero desfazer.

No entanto é um caminho tranquilo e sereno, ou melhor, já é um caminho sereno.

Como não sei colocar musicas, recorro ao vídeo. Deixo aqui uma música de reencontro, também ela com associações felizes.

"Torna a Surriento" - Mario Lanza

Wednesday, October 18, 2006

Tentações

Quantas vezes não nos sentimos tentados por um caminho ou por uma pessoa?

O que nos faz ser levados nessa tentação? O que nos faz recusar aquela tentação?

Não sei e também não sei se é suposto saber…


P.S. - A não perder no dia 25 de Outubro (clicar no título)

Tuesday, October 17, 2006

Descontracção

"O Mio Bambino Caro" - Maria Callas

Monday, October 16, 2006

“O bom, o mau e o vilão”

Numa altura em que ando em fase de cruzeiro pela minha própria existência, a tentar perceber muita coisa que é (pelo menos para mim) difícil de encaixar, tenho revisto muitos filmes de quando era pequeno.

Curiosamente percebi que a ideia de um herói de capa e espada, que se vê numa situação de aperto e que se transcende, defendendo todos, conseguindo através do seu sacrifício obter o “Bem Maior” é uma constante dos filmes que vi em pequeno.

Com o passar dos anos percebi que isto do “Bem Maior” tem muito que se lhe diga. Estranhamente as pessoas não se comportam como nos filmes… Não é que desconfiam dos nossos motivos? Duvidam que os mesmos sejam nobres e bem intencionados.

Ora, da junção de muita coisa descobri que tentar ser aquilo que os outros não querem é desgastar-nos estupidamente e que às vezes, mesmo sabendo que o que vão fazer é um disparate temos que os deixar ir.

Não me sinto confortável com deixar ir algumas pessoas confesso mas se as seguir vou-me transformar em algo que não quero.

Dos vários filmes que tenho visto escolhi “O bom, o mau e o vilão” para título. Isto porque no fundo nenhum dos três é bom, mau ou vilão. Cada um deles é um pouco de tudo mas no fim, uma destas “virtudes” é a que sobressai mais em cada um deles. No fundo é isso que acho que se passa com qualquer um de nós, temos traços de “bom”, de “mau” e de “vilão” e a forma como vivemos acentua mais um deles que é o que se torna dominante mas sem que qualquer um dos outros desapareça.

Thursday, October 12, 2006

Nó Górdio


Quem não conhece a história da célebre “Sala Âmbar” desaparecida no decurso da Segunda Guerra Mundial?

Foi uma das muitas obras de arte roubadas pelos exércitos nazis para abastecerem as colecções de arte alemãs.

O desaparecimento desta sala continua até hoje a ser um mistério, ninguém sabe qual o seu paradeiro. No entanto o governo russo há uns anos atrás empreendeu a tarefa de reproduzir a “Sala Âmbar” recolocando-a tal como era no seu local de sempre.


"Sala Ambar" - São Petersburgo - foto retirada da net

Ora, também eu estou neste momento a refazer alguns dos tesouros que me desapareceram no saque que alguns acontecimentos originaram. A questão é que não me contento em repor, quero acrescentar-lhe mais valias.

E de repente dou por mim de escopro e martelo na mão a cinzelar um enorme bloco tentando como Miguel Ângelo libertar a escultura que lá se encontra, mas mais do que só isso, tentando a cada golpe alcançar a perfeição.

Arrestas ásperas que se devem tornar suaves torneados… Mas no meu caso tenho uma enorme vantagem, não tenho um bloco de mármore, posso avançar e depois desfazer e retomar a lapidação. Tem custos como tudo na vida tudo tem, mas tem um desígnio maior que é o de atingir um desenho que seja para mim confortável.

O conceito da mudança perene com uma constância de valores. A extraordinária contradição entre o que há de mais fundamental e toda uma alteração em busca de algo transcendente que permita uma vida satisfatória.

Vida satisfatória? Aquele em que se vive e não apenas se sobrevive, em que não se entra em concessões dúbias, em que a verticalidade nos permite encarar os desafios.

Tuesday, October 10, 2006

Pequenas dúvidas

Porque será que algumas pessoas (quando saem de um determinado lugar) transformam o fácil em difícil e obrigam que tudo se transforme numa guerra sem quartel?

Porque será que é tão difícil aceitar a mudança?

Porque será que todos questionam as opções mas não fornecem alternativa?

Friday, October 06, 2006

Amores e desamores

Para mim este espaço tem um carácter muito especial. É como um amor.

Ora todos os amores têm os seus rituais próprios e as suas diversas fases. Se no início os textos surgiam a uma velocidade impressionante e sentia uma vontade enorme de vir para este espaço, de estar aqui neste meu canto, o tempo foi passando e a vontade foi-se alterando.

Várias vezes tive vontade de apagar algumas coisas que escrevi, mas nunca o fiz. Porquê? Porque sou da opinião que a memória não se apaga. Pode-se alterar a nossa opinião e o nosso ponto de vista mas é bom não esquecer o ponto de partida.
Na viagem que empreendi quando iniciei este espaço o destino era um e acabei a percorrer outros caminhos, a seguir atalhos, e afinal o fim em si perdeu parte do encanto e a viagem tornou-se “tentadora”.

Destas “zangas” com este espaço resultaram afastamentos mais ou menos prolongados que depois se transformaram em reencontros sôfregos em que o amanhã não fazia sentido.

E depois passou a ser o encontro de dois velhos amigos. Sim, estou a personalizar o meu blog, porque ele tem personalidade, tem uma parte da minha personalidade, uma parte do meu pensamento e dos meus sentimentos.
Se há muita coisa na qual já não me revejo porque foram “locais” em que a minha mente deambulou, outras há que são aquilo que de mais genuíno em mim existe.

Agora vivemos um dilema, parte perdeu sentido, parte foi o instrumento para a mudança que se operou e que faz com que tenha (aparentemente) perdido a utilidade mas ao mesmo tempo, as alterações que teimam em aparecer só fazem sentido com essa parte.

É o problema da memória, tem coisas más e coisas boas.

Thursday, October 05, 2006

Alquimia

Poucas palavras são para mim tão importantes como a que escrevi como título.

O primeiro livro que li de Paulo Coelho foi “O alquimista”. Tem grande importância por todo o significado que a palavra encerra.

Poucas pessoas imaginam que a tabela periódica foi construída com base em estudos feitos pelos supostos alquimistas.
É como se aquilo que foi um passado que parece longínquo afinal ainda seja presente se bem que escondido.

Alguém sabe o que pretendiam os alquimistas?

A transformação de um metal – chumbo – noutro – ouro. Isto implica o fornecimento de quantidades de energia brutal para através da cisão do núcleo se conseguir a transformação.

Mais do que a transformação de dois metais (chumbo/ouro) importa a ideia que está subjacente. É possível alterar a natureza da matéria. Pode-se passar de algo sem valor para algo com um valor quase inestimável.

A alquimia é portanto muito mais do que apenas a transformação de metais, é a ideia de que é possível transformar o que nada vale em algo de valor. Não sou perito (nem nisto nem em nada) mas permitam-me o abuso de linguagem, é uma filosofia lindíssima.

Não sei se é possível alterar a matéria, mas é sem dúvida possível que nós nos alteremos, tanto no sentido de nos valorizarmos quer no sentido de nos desvalorizarmos.

Imaginem agora uma guitarra que por excitação das cordas imite som, imaginem-se agora como cordas do universo e perguntemo-nos qual o som que é suposto gerarmos.

Será que é através das pequenas vinganças, dos pequenos acertos de conta, das pequenas friezas que vamos ser capazes de ser uma melodia que inspire os outros? Não faz sentido pois não?

E se forem gestos de amizade sincera, de entrega, de ajuda, de compreensão? Parece que já têm um som mais agradável não é? Quem sabe mesmo não conduzem a uma extravagância e se forem tão intensos que a vibração das cordas se torne num ritmo pelo qual quem está próximo afina? Então passaríamos a ter uma sinfonia de cordas a vibrar no bom sentido.

Quando se gosta de alguém zela-se por essa pessoa, deseja-se tudo de bom aquela pessoa e assim tentamos compor uma melodia agradável.

O que quero dizer? Que sacudi aquele triste dedilhar de guitarra portuguesa, que prefiro uma melodia que seja alegre, que tenha um ritmo estimulante.

Estranhamente percebi que a vida é curta, demasiado curta, para a perder em querelas idiotas.

P.S. – Está um link novo na barra lateral que há muito que lá devia estar.

Monday, October 02, 2006

Do pouco para contar

Há alturas em que não tenho nada para dizer. Não é que não pense em várias coisas, não revisite acontecimentos, pessoas de um passado mais ou menos distante.

Se há algo que tenho aprendido é que a vida se vive um dia de cada vez. Não quero com isto dizer que não se trace um caminho, eu tracei o meu e duvidei muitas vezes dele e não sei explicar muito bem porquê a zanga que sentia com o caminho, com as escolhas que fizera – que em parte foram condicionadas – dissipou-se.

Não sei se é o melhor caminho, sei que é altamente criticável, mas é o meu caminho.

Já me preocupei (e muito) com o que diziam e há coisas que ainda me custam ouvir, pessoas que dispenso encontrar e no entanto parece que nada é assim tão importante ou tão definitivo.

Enfim, regresso para o meu silêncio e para as conversas com os meus muito compreensivos botões…