Saturday, December 31, 2005

Balanço de Fim de Ano

Chega ao fim mais um ano. Qual o balanço que faço dele? Será que foi bom ou mau?
Sempre fiz o balanço do ano que termina, e este ano ainda mais.
Poderia dizer que foi um ano complicado em alguns aspectos. Poderia dizer que não foi o ano mais fabuloso de todos em termos de Amores, Trabalho ou algo assim.
Foi dos anos que mais me fez envelhecer.
Não posso dizer que tive um mau ano, porque, feitas as contas não o foi. Ficaram muitos projectos por cumprir, muita ambição não concretizada, mas mesmo assim ficou um ano marcado pela perseverança e pelas amizades.
É talvez no capítulo das amizades que o ano foi mais generoso e mais forte. Desde os meus amigos que se tinham mantido na sombra e que apareceram, às novas amizades que se formaram, de forma estranha, diria mesmo à Woody Allen… ;)
Fica aqui o meu agradecimento aos meus amigos pela inesgotável paciência que têm tido para me aturar.
Quanto às preocupações que tenho tido, muitas vezes guardo-as para mim, não por orgulho mas porque tenho dificuldade em as verbalizar. Este espaço onde escrevo é a minha forma de conseguir “verbalizar” e organizar muitos dos meus pensamentos.
Apesar de em algumas, se pudesse voltar atrás, as fizesse de forma diferente, acho que fiz o possível para conseguir proteger todos aqueles de quem gosto.
É verdade que a tristeza faz parte da vida, que nem sempre nos temos que sentir felizes, e acho que aprendi outra coisa – às vezes não está em nós mas sim nos outros. Há factos que não se alteram, que não dependem de nós mas sim dos outros, da capacidade que eles têm de perceber e de “aguentar” aquilo que lhes temos para dizer.

Friday, December 30, 2005

Escalada?

A pouco e pouco, devagarinho, degrau a degrau chegaremos lá...

Wednesday, December 28, 2005

Angustias

Sinto-me verdadeiramente angustiado, o tempo escoa-se e as coisas não se resolvem.
Pessoas que faltam aos compromissos e não dizem nada, surpresas desagradáveis, noticias constantes, um quase perene necessidade de atenção e de acção da minha parte.
Começo a sentir-me esgotado, as minhas energias estão-se a esvair e eu não consigo que nada se arrume de vez e se resolva definitivamente – tudo se adia para depois, para um outro qualquer momento perdido num futuro incerto.
Se é verdade que a tristeza faz parte da vida e muitas vezes é a energia que faz com que nos renovemos, o meu problema é outro, diferente, é a angustia.
Ver uma série de pessoas de quem gosto fazerem disparates, avisá-las e mesmo assim elas fazem-nos saindo depois magoadas e, verdade seja dita, eu não sou capaz de evitar dizer “Eu avisei-te! Se me tivesses dado ouvidos…”, é desesperante ou melhor, é angustiante.
Assistir a supostos técnicos cometerem erros de palmatória mesmo tendo sido avisados apenas porque não querem dar o braço a torcer…
Começo a perguntar-me que raio é isto, ninguém tem a coragem de decidir ou reconhecer os erros?
É verdade que estou eléctrico e que liguei o automático tentando despachar as coisas e sei que estou demasiado “speedado”, estou de novo a entrar naquele estado dos cafés com ben-u-ron.
Não é a fuga para a frente de uns outros mas sim a minha tentativa de resolver tudo rapidamente para me poder despachar disto tudo e aí sim descansar. É ilusão bem sei porque o tempo terá mesmo que passar, com as reviravoltas que tiverem que ser, mas, passado já todo este tempo, começo a ceder.
Entre estar farto e não poder deixar de fazer começa a instalar-se um cansaço doentio, um correr de pensamentos que não traz nada de bom, uma incapacidade de desligar que é preocupante.
É assim que me sinto, cansado, farto e angustiado.

Tuesday, December 27, 2005

Natal comercial

Não sei se mais alguém reparou mas o Cardeal Patriarca de Lisboa proferiu o habitual discurso de Natal.
Não se alguém também reparou que o discurso foi violentamente interrompido a meio porque a RTP tinha que passar outro programa.
Não sou um católico fanático mas oiço normalmente o discurso de Natal do Patriarca.
Acho extraordinário que tenham interrompido o discurso a meio, considero-o uma falta de respeito grave e que, pessoalmente, me chocou.
No que foi possível ouvir do discurso, foi curiosa a necessidade que o Patriarca sentiu de reforçar que não podemos ter medo de nos envolvermos e de nos entregarmos uns aos outros.
Para quem tantas vezes, como eu, acuso a Igreja de estar desactualizada e de andar a reboque dos acontecimentos, não posso deixar de referir que naquilo que me foi possível ouvir do discurso, D. José Policarpo demonstrou grande actualidade, com uma consciência social fortíssima e uma noção clara do momento difícil que o país atravessa.
Fica aqui o meu protesto contra a RTP por ter cortado o discurso do Cardeal Patriarca para passar um programa patrocinado por um supermercado.

Saturday, December 24, 2005

Um Feliz e Santo Natal

Não estava com muito espírito natalício até ter falado com a Professora que mais me marcou até hoje. Agora sim, sinto-me muito mais enquadrado com a época.
A todos os leitores deste espaço, desejo um Feliz Natal.

Que o Menino Jesus e o Pai Natal tragam a Felicidade, Amor e Amizade que todos merecemos, que todos tenhamos a coragem de enfrentar os nossos medos e de nos entregarmos um pouco mais aos outros.

Friday, December 23, 2005

Os últimos dias

Ando absorto com as entregas de trabalhos e por isso não tenho escrito neste espaço.
É quase Natal e eu não estou com espírito natalício nenhum. Ando a ritmo diferente do das outras pessoas. Raras são as noites em que me deito antes das 5 da manhã para ter estes malfadados trabalhos prontos e para começar a estudar para os exames que aí vêm.
Recebi um tango via Internet, é das coisas que mais gosto, é uma das danças mais sensuais que conheço e de maior picardia.
O que gostaria de visitar a Argentina e o saudoso Uruguai…

Sunday, December 18, 2005

Concrete Sanity

"Quando é necessário dimensionar um pilar de betão armado, tem-se que determinar a armadura (número, diâmetro e espaçamentos dos varões de aço) necessária a usar de modo a verificar a segurança.

Usa-se betão armado porque o betão simples tem muito pouca resistência à tracção. Como o aço tem uma boa resistência à tracção, combinando os dois materiais obtém-se um material composto que resiste muito melhor aos diferentes tipos de esforços (compressão e tracção), sempre dentro de certos limites.

Num pilar temos de ter especial atenção à torção e à flexão composta e, para controlar ambas, usam-se dois tipos de armadura: a longitudinal e a transversal. A primeira permite que o pilar resista aos esforços normais. A segunda é igualmente importante: comprime o betão (aumentando ligeiramente a sua resistência); impede a encurvadura dos varões longitudinais (especialmente importante durante sismos); mantém as armaduras longitudinais no lugar durante a montagem e betonagem; resistem ao esforço transverso.

Nós funcionamos como um pilar. A nossa pessoa, a nossa personalidade é o betão. Os nossos valores são as armaduras longitudinais – ajudam-nos a suportar os esforços adversos a que somos sujeitos pela vida. Os nossos Amigos são as cintas – permitem que os nossos valores não “saiam” de sítio e ajudam-nos a não descambar, principalmente quando a vida nos dá uns abanões sem aviso. Depois ainda há os amigos, esses são os varões construtivos. Não são tidos em conta no cálculo da resistência, mas são os que garantem que não é ultrapassado o espaço máximo entre varões, o que a acontecer criaria pontos fracos, onde a resistência seria menor e onde mais facilmente se daria a rotura.

Há uma relação entre a armadura longitudinal e o betão e é forjada através de diferentes parâmetros. E a armadura transversal é calculada através da análise da armadura longitudinal. No fim, as três estão relacionadas.

Também há uma relação entre os nossos valores e nós próprios. E entre os nossos Amigos e os nossos valores. No fim, os nossos Amigos estão relacionados connosco, embora isso não queira dizer que todos tenham de ser parecidos, mas apenas que todos contribuem para que possamos enfrentar a vida.

Para garantir a durabilidade de um elemento de betão armado é necessário ter muito cuidado com o meio ambiente e a sua estabilidade. Variações extremas de parâmetros (humidade, temperatura, etc.) podem provocar a degradação do betão e/ou do aço. Quando o recobrimento (o betão que “envolve” as armaduras) deixa de isolar os varões, corre-se o risco de o meio ambiente os corroer e, consequentemente, ter uma diminuição da capacidade resistente.

Também é necessário que tomemos conta dos nossos valores, de nós mesmos e dos nossos Amigos. Nem sempre é fácil, mas não podemos deixar que as adversidades do meio que nos rodeia nos degradem a ponto de pôr em risco a nossa própria estabilidade.

Nota final: quando se dimensiona betão armado (e não só) consideram-se combinações de esforços desfavoráveis. Porquê? Muito simples: caso um elemento seja sujeito a uma combinação rara de esforços temos uma probabilidade razoável de ele ainda assim resistir. É a chamada capacidade resistente de reserva.


Nós também temos a nossa capacidade resistente de reserva. Descobrimo-la quando, apesar de haver uma conjunção de coisas menos boas na vida, conseguimos resistir-lhe e continuar a lutar.

by Just Me"
P.S. - Num raro acontecimento, fica aqui um contributo "tecniano" para este espaço...

Saturday, December 17, 2005

Um esclarecimento

Para o anónimo sobre a palavra "blogue" e em defesa da minha colaboradora deste espaço,
visitem o site "Abrupto" e leiam como JPP escreve.

Friday, December 16, 2005

Hinos NÃO oficiais de campanha

Com muita maionese, muito seventies, aqui ficam os links para os hinos não oficiais dos cinco principais candidatos à Presidência da Republica.

Cavaco Silva: http://www.mega.fm/musicaAsx1.asp?id=470&tipo=2
Manuel Alegre: http://www.mega.fm/musicaAsx1.asp?id=471&tipo=2
Mário Soares: http://www.mega.fm/musicaAsx1.asp?id=472&tipo=2
Francisco Louçã: http://www.mega.fm/musicaAsx1.asp?id=473&tipo=2
Jerónimo de Sousa: http://www.mega.fm/musicaAsx1.asp?id=474&tipo=2

Tuesday, December 13, 2005

Paris - que saudades

Que saudades de Paris, das avenidas, dos museus, dos cafés...
Que bem que eu ia de novo viajar.

Monday, December 12, 2005

Nota

Parece que a história que escrevi levantou muita polémica.
Para que não restem duvidas: é ficção, NÃO deve ser transposta para a realidade uma vez que isso é abusivo e sem qualquer sentido.

Blogues

Descobri que isto dos blogues tem muito que se lhe diga...

E eu a pensar que só lia quem gostava e só visitava quem queria!

Sunday, December 11, 2005

História parte 5

Que frase mais estúpida pensou ele para si mesmo.
Terminara apenas uma semana de conversas mas que o marcara profundamente.
O fim-de-semana demorou a passar mesmo com ele a refugiar-se no seu trabalho e nos seus cigarros.
Olhava para o telemóvel com impaciência, esperando que ela dissesse alguma coisa, estava permanentemente ligado à net para ver se ela aparecia.
Passou o fim-de-semana, passou a segunda-feira e foi só no fim de terça-feira que eles voltaram a falar.
Ele nunca lhe ligava para o telemóvel, esperava que ela o fizesse para que não houvesse problemas com o namorado, pelo que só lhe falava na net ou então trocavam sms.
Ela aparecera na net, a conversa começou tensa mas depois tornou-se leve, faziam planos para o futuro…
Nesta altura ela disse-lhe que estava cansada do outro e que queria mudar a vida dela. Ele sentiu um misto de alegria, medo, ansiedade e tristeza.
- “Gostas dele?”
- “Gosto, mas ele não fala comigo. Não se interessa pelas mesmas coisas que eu, faz um esforço por prestar atenção mas não se interessa. Nunca me pergunta como estou e acha que eu estarei sempre ali. Achas normal?”
- “Acho, habituou-se…”
- “Estás a defendê-lo? Tu não és nada assim!”
- “Pois não, mas já fui assim, isso custou-me a minha ex-namorada. A partir daí, aprendi a ser diferente, mas às vezes ainda faço os mesmos erros…”
Houve um longo período em que não trocaram mensagens e ele olhava desesperado para o ecrã do computador. A resposta veio e foi bastante dura e seca.
- “Estou cheia de dores de cabeça, vou-me deitar, dorme bem.”
Ela desligara sem lhe dar tempo para responder. Ele ficou magoado e sem perceber o que se passava. Decidiu afastar-se um tempo da Internet.
Na quinta-feira dessa semana foi convidado pelo amigo que tinha feito anos para um café. Ele foi, e não imaginava o que se ia passar…
Chegou ao café e lá estava ela. Cumprimentaram-se de forma fria e distante. Ele não se importou, percebeu que ela não queria levar suspeitas mas mesmo assim custou-lhe ser ignorado o tempo todo por ela. Foi conversando com o seu amigo e com mais umas quantas pessoas que estavam lá e que também tinham estado no jantar.

Nesse dia chegou a casa e ligou-se à net. Ela estava lá, à espera dele.
O msn começou logo a piscar.
- “Desculpa, fui muito fria contigo…”
- “Foste, mas não há mal.”
- “Gosto de ti”
Ele ficou paralisado, podia esperar muita coisa, mas aquilo não.
- “E o …”
- “Ou é ele ou és tu…”
- “Ainda gostas dele?”
- “+ ou -”
Ele inspirou fundo e sem hesitar escreveu:
“o que tu gostas em mim, é eu ser mais velho, o facto de eu te ouvir, saber frases de Jane Austen de cor, conhecer Thomas Mallory, ter lido Eco, Joice, Bronte, Yeats, Eça de Queirós…
gostas que eu goste de pintura, de termos estado nos mesmos sítios, e onde não estive e tu estiveste eu conheço…
sou a novidade do momento, mas a verdade é que tu não me conheces, só sabes aquilo que te digo via telemóvel ou via net, estivemos juntos duas vezes e sempre em ocasiões sociais, tu não sabes como sou na vida a dois
se acabares com o teu namorado, nós não vamos ficar logo juntos, vamos conhecer-nos mas só depois é que se passará alguma coisa, tens que ter tempo para que ele saia mesmo da tua vida
tu gostas dele, sentes-te só, mas a verdade é que não lhe dizes isso, apenas lhe dizes que estás cansada e que tens muito trabalho, ele não advinha, ele pelo que tu contas gosta de ti mas também está aflito com trabalho
a sério, gosto muito de ti, mas fala com ele, não faças como eu fiz e deites fora uma relação que já tem algum tempo e que segundo o que me contaste já passou por muito, fala com ele, arrisca, investe nele se achas que vale a pena
A resposta no ecrã demorou…
- “Ok”
Ela desligou a net.
Ele sentiu-se vazio e confuso.
Quereria mesmo que ela ficasse com o namorado? Não sabia, mas não queria que ela escolhesse precipitadamente. Ele não tinha o tempo que ela queria para ela, ele queria a companhia mas não queria à custa de uma possível infelicidade futura.
Foi-se deitar, estava exausto.
Quando se levantou, no dia seguinte, ligou o telemóvel e chegou uma mensagem dela. Ia passar o fim-de-semana fora com o namorado e ia ter uma conversa séria com ele.
Ele passou o fim-de-semana distraído com o trabalho, foi ao cinema sozinho, foi jogar futebol com os seus amigos de sempre dessas andanças.
Deu por si, nos balneários, a pensar que já tinha 34 anos e que estava só, ela tinha 26 e ele tinha-lhe dito para que reflectisse.
Não queria que ela acabasse como ele, só, com rotinas instaladas para não ter que pensar mas ao mesmo tempo sentia-se estúpido, estava a perder aquela oportunidade.
O fim-de-semana passou mais depressa do que ele esperaria. Na madrugada de domingo para segunda-feira ele estava na net a trabalhar quando ela apareceu no msn.
Ele esperou que ela lhe dissesse qualquer coisa, estava em pulgas mas não queria tomar a iniciativa, não queria que ela soubesse que ele estava assim tão interessado.
O tempo foi passando e ela não lhe dizia nada e ele estava a começar a desesperar até que surgiu o sinal de email recebido. Ao ver o sinal e ao ler que era ela que enviava, clicou imediatamente e sem hesitar clicou no icon dela do msn. Ela já não estava online.
O email apareceu no seu ecrã. O título era sugestivo – “Obrigado por aquilo que não se agradece”
Sentiu um baque e nem lhe apeteceu ler o restante email mas mesmo assim forçou-se a isso.
“Olá, como estás?
O fim-de-semana foi muito bom e muito importante. Tinhas razão, ele ama-me e eu a ele. Ele não tinha percebido que eu me sentia tão só e tão triste, achava que era o cansaço do trabalho.
Decidimos ficar juntos e tentar de novo, desta vez falando mais e sem tanto medo de dizermos o que pensamos.
Obrigado pelo teu conselho, és um homem como há poucos. Tenho um enorme carinho por ti. És uma pessoa muito especial.”

Ele sentiu um frio desprezo e uma dor que conhecia bem. Acendeu um cigarro, fumou um cigarro atrás do outro…
A partir daqui, sempre que a encontrava na net, ela dizia que estava cheia de pressa e que não podia falar. As conversas eram muito curtas e apenas para dizer olá e adeus.
Ele sabia que isto se podia passar, mas esperava que alguma amizade ficasse, afinal tinham partilhado muitas coisas nestas duas semanas.
Não ficara nada, tinha sido mais uma pessoa que tinha entrado para espreitar a sua vida mas que depois, se tinha ido embora.

Saturday, December 10, 2005

História parte 4

Não sabia o que lhe dizer, nem porquê que lhe telefonara. Houve um momento de silêncio que parecia perdurar, até que ele decidiu falar.

- “Como estás?”
A voz dela era tensa
- “Desculpa, não queria que pensasses que…”
- “Não penso nada. Somos amigos certo?”
- “Sim! Mas…”
- “Mas então vamos falando como dois amigos que somos.”

As conversas sucederam-se ao longo de toda essa semana a um ritmo alucinante via net ou via telemóvel.
Discutiram politica, quantos filhos cada um queria ter, a cor dos pijamas…
Chegou o fim-de-semana e ela disse-lhe “Vou com o meu namorado para fora este fim-de-semana… Não me apetece…”
Ele sentiu um baque, a verdade é que três anos depois, não imaginava ser possível sentir alguma coisa, tinha-se habituado a estar só. Ela tinha entrado de mansinho na sua vida, estava sempre na net às horas em que ele chegava, ou então ligava. Perguntava-lhe sempre como tinha sido o dia, se tinha corrido bem, como é que ele se sentia. Ele fazia o mesmo, e assim estavam.
Ele adorava aqueles mimos, sem perceber, tinha começado a abrir-se de novo, a sentir a necessidade de partilhar com alguém. Sabia que ela tinha outro, mas não via nisso nenhum mal, afinal só se falavam.
Quando sentiu aquele misto de tristeza com ciúme percebeu que sentia algo mais.
Quis dizer-lhe “Não vás, fica comigo!” mas as palavras não lhe saíam. Sabia que a queria mais pela sensação de conforto do que por amor. Lembrou-se da sua anterior namorada, com a qual tivera uma relação que não voltaria a ter como mais ninguém, sabia que a tinha perdido porque ouve outro que se aproveitara da sua incapacidade para a levar e ele tinha decidido nunca fazer isso, a situação tinha-lhe doído e ele não queria que se repetisse com mais ninguém.
Despediu-se dela dizendo “Toma cuidado contigo.”

Friday, December 09, 2005

História parte 3

Eram três da manhã quando chegou a casa, estava exausto mas mesmo assim foi buscar o livro que estava a ler há já mais de três meses, sentou-se no seu sofá, acendeu um cigarro que fumou longa e tranquilamente, e abriu o livro para começar a ler. Às cinco e meia da manhã, ainda estava a pé a ler, com o seu pensamento distante, quando o seu telemóvel tocou, com o sinal de mensagem recebida. Estranhou a hora e rapidamente varreu mentalmente as pessoas que conhecia para ver se percebia quem teria sido.
Ao ler a mensagem percebeu, não era ninguém que conhecia, mas sim a mulher que vira essa noite. A mensagem fazia alusão à conversa, agradecia-lhe a companhia e enviava o email do msn dela.
Acordou no Domingo, fez a barba, tomou banho, vestiu-se e dirigiu-se ao computador. Iniciou o seu msn e adicionou o mail que tinha recebido. Sem sequer ter percebido eis que o novo contacto estava online e a falar com ele.
Era ela, dizia-lhe que não dormira a noite toda, estivera a pensar, queria pedir desculpa por se ter despedido de forma tão seca e nem sequer se tinham apresentado.
A conversa fluiu agradavelmente ao longe de todo o dia com poucas interrupções, falaram do jantar, de livros, de viagens, de quadros, trocaram musicas e fotografias de paisagens.
Já era novamente madrugada quando se despediram com palavras doces um do outro.
Na segunda-feira ele tinha que se levantar às 5 para estar a horas na malfadada reunião que lhe tinham marcado por isso nem se deitou.
Voltou para casa e ligou-se automaticamente à net, ela lá estava, à sua espera.
Desta vez a conversa foi mais tensa, ele percebeu que algo se passava, ela fazia perguntas a despropósito, insistia em cenários com 3 pessoas.
Ele ignorou o facto até que ela lhe disse – “Tu tens prestado atenção ao que te tenho estado a dizer?”
Ele respondeu – “Sim!”
- “E?”
- “E nada, já percebi, mas eu não estou a aqui para isso.”
- “Isso o quê? Tu não sabes o que se passa!”
- “Tens um homem na tua vida, já me deste a entender, tens medo que eu me desinteresse de ti por causa disso.”
A resposta demorou a aparecer no ecrã
- “Sim, vivemos juntos há dois anos, e vou dizer-lhe que falamos. Incomoda-te?”
- “Nada mesmo, porque haveria de incomodar?”
Nisto surge o número do telemóvel dela no ecrã seguido de “liga-me” e ela desligou a net.
Ele hesitou mas por fim lá lhe ligou.

Thursday, December 08, 2005

História parte 2

“Olá” – disse ela numa voz doce e quente, ele olhou para ela e retorquiu secamente.
Ele pensava com os seus botões porque é que não o deixavam em paz.
A mulher decidiu entabular conversa e ele respondia com monossílabos desejando que ela o deixasse até que ela com enorme desprezo, se volta para o lado e segreda à amiga – “…ele deve ser estúpido, e é malcriado…”.
Ele ouviu e nem sequer se importou muito com isso.
A conversa desviara-se do assunto das relações entre casais e estabilizara agora nas ideias que as pessoas tinham sobre a religião. Todos falaram e iam perguntando aos outros o que pensavam.
Quando chegou a vez dele responder, ela interrompeu dizendo que concerteza ele não tinha opinião. Aí, ele que estiver calado, levantou a voz sobre a dela e sem hesitar explicou o que pensava, dando exemplos do porquê de estar certo na sua confiança naquela teoria. As pessoas começaram a conversar aos pares e ele começaram a conversar um com o outro, ele muito entusiasmado ia explicando e desenhando pequenos símbolos, pequenas charadas e soluções. Ela ouvia com os olhos muito abertos, ele fazia perguntas, dava as respostas antes dela e perguntava se conferia, ela ia acenando que sim. Assim passaram quase duas horas para espanto dos outros.
Iam agora todos voltar a casa.
Ele despediu-se de todos e dela também.
Dirigia-se para o seu carro quando um dos homens que lá estava foi atrás dele e lhe perguntou o que se passava entre ele e ela. Ele respondeu secamente – “(…) nada, e mesmo que se passasse, não te diria nada, porque não tens nada a ver com o assunto (…)” – o outro ofendeu-se.
Ao entrar no carro apercebeu-se que não tinha como voltar a falar com ela, e mais, que nem sabia o nome dela.

Wednesday, December 07, 2005

História parte 1

Foi convidado para um jantar, tinha dito que ia mas já estava arrependido. Eram os anos de um amigo com o qual já não estava há algum tempo. Calhou num Sábado mas mesmo assim conseguiu chegar atrasado, tinha estado a trabalhar.
Desde que terminara a sua relação que não fazia mais nada senão trabalhar o mais que podia para não pensar, para não se deixar levar.
Estava nervoso porque o seu telemóvel não parava de tocar, ora com notícias do trabalho, ora o amigo a perguntar se ele se tinha esquecido e a lembrar-lhe que estava atrasado.
Ainda não começara o jantar e já estava farto, acendeu um cigarro nervosamente antes de sair do carro e foi fumando enquanto andava até ao restaurante. O seu pensamento estava longe, pensava no seu trabalho, na sua vida, em como de repente se sentia tão mais velho e tão mais só.
Acabou o cigarro e entrou no restaurante, ninguém o cumprimentou e apenas lhe apontaram a cadeira, ele sentou-se e desejou que a noite passasse rapidamente.
Vieram os pratos e começou a conversa de circunstância com três pessoas que não conhecia de parte alguma. Apresentaram-se, trocaram histórias acerca do amigo que fazia anos, sobre as suas virtudes e qualidades. Ele acendeu mais um cigarro…
As pessoas eram simpáticas mas ele nem as ouvia, estava longe dali, de repente reparou que todos os homens da mesa se inclinavam para uma das pontas, olhou de soslaio e continuou a fumar, pediu um café e desejou que aquilo se despachasse.
Continuava o frenesim em seu redor e ele alheio continuava a pensar no seu trabalho. Duas das mulheres que estavam no jantar falavam com ele sobre banalidades, queixavam-se dos homens em geral e dos namorados em particular. Ele estava farto…
Acabou o jantar, dividiu-se a conta e o aniversariante anuncia com uma voz eufórica: “Tenho uma surpresa para vocês, vamos aqui a este bar”
Ele franziu a sobrancelha e pensou com os seus botões – “Se trabalhassem…”
Foram ao tal bar, pediram vários tipos de bebidas e quando lhe perguntaram o que queria ele respondeu: Cointreau.
Nesse momento houve mais um burburinho, a mulher para a qual todos os outros homens olhavam tinha mudado de lugar na mesa e estava agora à sua frente.

Tuesday, December 06, 2005

Frase do dia

"Os homens não podem viver sozinhos" - proferida por uma mulher

Monday, December 05, 2005

Going down memory lane

Hoje acabei as aulas mais cedo o que era para ser apenas um hora para almoço foram duas horas e meia. Nunca gostei muito de ficar interior da minha universidade, sinto-me triste lá dentro, falta-me alegria. Sai para almoçar e depois, apeteceu-me ir passear, e lá fui eu, em direcção à Guerra Junqueiro.
Ao chegar à Praça de Londres, olhei para a igreja, e nem sei muito bem porquê, quando dei por mim estava no seu interior.
Não sou propriamente católico, nem faço gala em não ser, tenho uma concepção muito peculiar da religião e da minha relação com Deus.
Há cerca de 14 anos que não sentia vontade de ir à igreja, e aquela nem sequer é das que eu mais gosto.
Entrei, estava deserta, com apenas duas senhoras que limpavam os degraus do altar, arranjavam as flores e as velas.
Dei por mim ajoelhado, coisa que não fazia há muito muito tempo, a olhar para o altar e a murmurar: “Deus Pai, que tudo sabes, ilumina o meu caminho, guia as minhas escolhas…”
Depois de fervoroso debate com Deus em que questionei a sua forma de fazer as coisas, acabei por rezar a única oração que ainda me lembro de quando andava no Bom Sucesso, a Avé Maria. Lembrei-me do father Martin, e das confissões, do entrar pela porta do retábulo e da minha última confissão.
Nessa altura, o father Martin perguntou-me se eu acreditava em Deus, e eu respondi que sim, perguntou-me porque é que não me confessava como todos faziam, e tinha que ser chamado para o fazer. Respondi-lhe (e na altura tinha 8 anos) se Deus é Pai, eu falo directamente com ele, sem ter necessidade de intermediários. A partir desse dia fiquei dispensado de me ir confessar e depois disso só me confessei mais uma vez.
Foi estranho, passados tantos anos sentir vontade de entrar numa igreja, e de rezar.
Fiquei com uma sensação muito agradável de tranquilidade, uma espécie de certeza inabalável no futuro e de que as coisas vão melhorar.
Não sei se as duvidas se dissiparam, acho que não, mas diminui a angustia e algumas certezas confirmaram-se.
Não é ser egoísta, longe disso, mas a partir de agora, faço apenas aquilo que garantir a minha felicidade, não ignorando os outros, mas sim pondo-me a mim em primeiro lugar. Esquecendo o que é de esquecer, arriscando o que é de arriscar, mas como objectivo – ser feliz!

Sunday, December 04, 2005

Ar da serra

E as folhas cairam...


Ficou a árvore despida, prepara-se para suportar os rigores do Inverno, mas depois, virá a Primavera e voltará a cobrir-se de folhas, a vida regressará...

Saturday, December 03, 2005

Confissão

“What have I got to do to make you love me
What have I got to do to make you care
What do I do when lightning strikes me
And I wake to find that you're not there

What do I do to make you want me
What have I got to do to be heard
What do I say when it's all over
And sorry seems to be the hardest word

It's sad, so sad
It's a sad, sad situation
And it's getting more and more absurd
It's sad, so sad
Why can't we talk it over
Oh it seems to me
That sorry seems to be the hardest word

What do I do to make you love me
What have I got to do to be heard
What do I do when lightning strikes me
What have I got to do
What have I got to do
When sorry seems to be the hardest word”

“Sorry seems to be the hardest word” – música de Elton John e letra de Bernie Taupin

Não sei o que dizer. Não sei se há algo a dizer. Resta esperar que se ilumine o caminho e depois logo se vê.
Não me sinto triste, sinto pena, sinto-me mais tranquilo…
E é assim, uma estranha pirueta do destino que parece ter calcado em muitas coisas destinos demasiado semelhantes para algumas pessoas.
Não sei se existe Deus, se ele existe, é sem duvida um brincalhão e muito sinceramente gostaria de lhe perguntar uma série de coisas.
Costuma-se dizer que Deus coloca na vida das pessoas as dificuldades na exacta medida das capacidades que temos. E se isto é apenas uma mentira para nos enganar, para nos fazer sentir que tudo tem um propósito?
Que aconteceria à Humanidade se de repente, sem margem para dúvidas, chegássemos à conclusão de que não existe vida para além da morte, que não existe bem e mal?
Nestes últimos tempos tudo o que eu julgava que era seguro, imutável se revelou profundamente volátil e tudo se parece esbater numa paleta repleta de cinzentos entre o preto e o branco.
Sinto-me muito mais triste, muito mais abatido. Não sei porquê mas sinto um tremendo cansaço de uma existência medíocre em que se vive apenas para resolver problemas, sejam eles grandes ou pequenos.
Se me perguntassem o que é que eu achava que era o mais importante no mundo eu teria que responder: amar, ser amado e assim encontrar a felicidade.
Ao longo de todos estes textos tenho falado da minha visão do Amor porque acredito verdadeiramente que a razão da nossa existência passa por ele.
Não sei se há amores bons ou maus, mas de uma coisa tenho a certeza, não é no outro que encontramos a nossa estabilidade ou aquilo que nos falta.
É no entanto com o outro que podemos partilhar tudo aquilo de que gostamos, a quem nos entregamos com os nossos defeitos, com as nossas pequenas (ou grandes) manias, com as nossas ideias lunáticas, com os nossos devaneios, com quem partilhamos os nossos projectos.
Amar alguém é a maior proeza de que somos capazes…

Friday, December 02, 2005

Confiar

E hoje deu-se um facto inédito - decidi confiar...